domingo, janeiro 09, 2005

Doações

Doar o sangue marcou-me sempre como um exemplo notável de espírito de comunidade. Certo que alguns lugares as doações de sangue sejam pagas, e há escassez em quase todos os bancos do sangue. Mas dezensa de millhar de pessoas gastam o seu tempo e perdem sangue com nenhum outro retributo que a recompensa de saber que estão contribuindo para a recuperação ou a sobrevivência de um desconhecido. Em alguns casos, o tempo gasto não é pequeno. Em dada altura fiz "apheresis", um processo feito em determinados bancos do sangue no qual o sangue é extraído, centrifugado para separar componentes diferentes (plasma, linfócitos), determinados componentes recolhidos e o restante é devolvido ao doador. Este ciclo, extração-centrifugação-retorno, decorre várias vezes ao longo de um par de horas. Desta maneira quantidades maiores, por exemplo, de factores coagulantes pode ser doado, e mais frequentemente, do que se os forem extraidos a partir da quantidade de sangue de uma doação normal. Isto é particularmente importante para bébés prematuros, pacientes com sistemas imunes fracos, tais como pacientes do cancer, etc.
O que é o mais impressionante sobre o generosidade das donações de sangue é que ocorre continuamente. O publicidade e os apelos constantes são a norma, mas para ser sustentável o sistema de bancos de sangue requere uma afluência regular de volúntários. Não pode depender de vagas de aderentes, motivados por uma crise. Tais respostas em massa têm o seu mérito também. Eu estava em Long Island (New York) no Onze de Setembro, e um grupo de nós da escola sentiu que tinhamos que fazer algo, e após ter apoiado recolha de água e cobertores, fomos essa tarde ao Hospital da Universidade de Stony Brook para doar o sangue. O hospital estava cheio de outros com a mesma ideia, e este cenário repetiu-se por todo país. Tragicamente, aprende-mos em breve que dadas as características do ataque não havia necessidade urgente de sangue. Os hospitais pediam às pessoas que viessem noutro dia e expandiram as suas listas de contactos. (Algums meses mais tarde havia novamente falta de sangue.) As pessoas reagiram também doando o dinheiro a diversas organizações.
Recordo-me disto no contexto da catastrofe na Ásia, provocada pelo terremoto e tsunami de 26 de Dezembro, 2004. As nações desenvolvidas responderam com a promessa de uns $2 mil milhóes. Já se frizou como muitas vezes estas promessas não se realizam, e as nações atingidas ficam em falta. E nem sempre as contribuições são proporcionais à capacidade real de doação do país, ou à necessidade da população atingida. Muitas vezes, a quantia é infelizmente dictada por pressões e interesses políticos. Por exemplo, George W Bush, após acusações de forreta e argumentos que um contributo importante na Ásia poderia significar um melhoramento da imagem dos EUA numa área de grande sentimento anti-americano, só então Bush, de rancho em Crawford, Texas, aumentou a contribuição dos EUA de $15 milhões, depois $35, e finalmente $350 milhões. Generoso, mas tal corresponde ao que os EUA gastam num dia da sua ocupação militar de Iraque.
As contribuições pessoais às organizações activas nas áreas afectadas tem também sido significativa. Foi ao pensar sobre estes picos de contribuições que me recordei das reflexões acima sobre doações do sangue. Como tornar a contribuição a organizações, sejam elas humanitário, direitos dos animais, ambientais, ou o doar roupas e comida, ou a o dar esmola, como tornar tudo isto algo mais regular sem que dependenda de eventos catastróficos que reclamem a nossa atenção e carteira? Certo podemos instituir comprar a revista CAIS todos os meses, escolher um ou outro a pedido esmola, ou esperar pelo Natal: tive grande satisfação em ofereçer como prenda uma doação, em nome do prendado, a uma organização. Sempre me pareçeu mais adequado ao espírito natalício que oferecer umas meias ou a biografia do Figo.
Mas o Natal vem uma vez por ano, e as mãos extendidsa não exigem parte activa na busca de onde dar a contribuição. Há quem se queixe que existem demasiados temas, demasiadas organizações, não se sabe em quem confiar para gastar bem os contributos. Mas esta reação sõ reflete alguma perguiça em ler sobre os assuntos, recolher informações sobre as organizações, e fazer escolhas. Se existem demasiados assuntos que necessitam a nossa atenção e acção, então podemos sempre doar generosamente a uma organização com espectro de acção mais largo, ou doar modestamente a diversas organizações (a minha escolha pessoal)
A pergunta seguinte é, quanto contribuir? Não há nenhum mínimo, a maioria de organizações devem felizes receber de qualquer coisa que nós possamos dar (e também não se queixam de receber demasiado). A pergunta torna-se pois, quanto posso dar sem arrebentar a bolsa? E aquí está o busílis da diferença entre contribuições extraordinárias e as contínuas, orçamentadas. A maioria de nós para não inclui contribuições, doações, caridade, esmolas, no nosso orçamentos pessol ou familiar (tirando os que doam para fim de isenção fiscal, a qual dita a quantidade doada). Se a genorisade não vem orçamentada, chegada a altura de buscar a carteira e nos perguntamos quanto podemos dar, parece sempre que o dinheiro já nao chega, e que não se pode doar muito, embora talvez a reação fosse diferente se se tratasse de uma ida terapeutica ao centro comercial, ou a comprar de um bilhete para o Sporting-Benfica.
Sugiro que se reserve uma quantidade determinada do rendimento pessoal para doações, isso é que as incluamos no nosso orçamento annual (o que não exlui donações extraordinárias, ou eventuais ajustes caso decorra um aperto do orçamento). Bem, mas quanto? O que é é razoável, sem ser mesquinho? Eu sugiro que se dedique 0,7% do rendimento para as esmolas, contribuitos, doações, quotas de organizações, etc. Isto é 84 euros/ano por cada 1,000 euros/ano ganhos. Esta faixa não surge do nada. É a percentagem do PIB proposta pela Assembleia Geral das NU, em 1970, como alvo para os contribuitos das nações desenvolvidas às nações subdesenvolvidas.
A maioria de países que assumiram o compromisso desta meta ainda não o alcançaram (as excepções incluiem em 2002, Dinamarca 0,96%, Noruega 0,89%, Suécia 0,83%, em Holanda 0,81% e Luxembourg 0,77%). Algums países dos G8 até desceram: o Reino Unido de 0,51% em 1979 a 0,31% em 2002. Os EUA não assumiu o compromisso. Veja aqui para mais sobre a campanha 0,7%.
Enquanto indivíduos devem dar o exemplo, e tomar responsabilidade por uma parte pequena do mundo Diáriamente.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Governo indonésio limita apoio a Aceh

O recente período de festas foi marcado pela tragédia resultante do terramoto e maremoto asiático de 26 de Dezembro. Mas outros perigos ameaçam a região.

A estimativa de número de vítimas directas cresce diariamente, e teme-se que a propagação de doenças e a escassez de comida, água potável e medicamentos possa inflacionar o número total de vítimas. A presença de turistas e suas câmaras de vídeo fez deste desastre um evento mediático, que se traduziu em promessas de apoio internacional. Certas respostas sobressaíram por contraste, como o atraso do embaixador português em interromper as suas férias e dirigir-se de regresso à Indonésia para apoiar os turistas nacionais. O recém-eleito presidente Bush, também de férias no Texas, demorou a reagir com um apoio proporcional, aumentando o apoio financeiro de 35 milhões para 350 milhões de dólares apenas depois de ter sido acusado de sovina.

Uma das zonas mais afectadas foi a província de Banda Aceh, na ponta Norte da ilha de Sumatra, Indonésia, onde o total de vítimas poderá atingir os cem mil. A povoação de Meulaboh foi arrasada e 40 mil dos 120 mil residentes faleceram. Na vila de Lambada morreram 95% dos habitantes. A comunicação social refere o mau estado das estradas, a destruição de pontes e a falta de combustível e transportes como os principais limites ao acesso de ajuda humanitária e distribuição de apoio. Contudo, este desastre natural veio sobrepor-se a décadas de violência, opressão e falta de empenho no desenvolvimento da região por parte das autoridades indonésias.

Três décadas de luta

O povo de Acheh declarou a independência em 1976 e, à semelhança de Timor-leste, foi alvo de exploração económica e política, repressão cultural, assassinatos e aprisionamentos e conflito militar contra o movimento de independência nacional, o Movimento Aceh Livre (Gerakan Aceh Merdeka, GAM). Uma grande operação de exploração de gás natural centrada na povoação de Lhoksumawe, que fornece muito do gás natural do Japão e Correia do Sul, traz grandes lucros à Exxon Móbil e ao governo Indonésio, relutante em perder uma região tão lucrativa. A perspectiva de melhoramento após a queda do Suharto, que permitiu o recolher de testemunhos da repressão por parte de organizações humanitárias e conduziu até a um pedido de desculpa por parte do general Wiranto pelos excessos militares, foram sol de pouca dura. O estatuto de Zona Militar Operacional (DOM), interrompido brevemente, foi re-imposto em Aceh, sob o pretexto de garantir segurança contra motins populares. Em Novembro de 1999, cerca de 400 000 de pessoas (o equivalente a 10% da população de Aceh!) reunidas frente à Grande Mesquita exigiam um referendo sobre a independência da região.

Lei marcial

Seguiu-se uma intensificação das operações militares e o medo levou dezenas de milhares de pessoas a fugir dos seus lares. Em Maio de 2003, após o colapso de conversações pela paz, o governo Indonésio impôs a lei marcial em Aceh e restringiu o acesso de organizações humanitárias e jornalistas. Jacarta despendeu 470 milhões de dólares para as operações militares que se seguiram, três vezes mais que o orçamento anual da província. Estas restrições permaneceram mesmo após o recente maremoto, limitando seriamente a resposta rápida de equipas médicas e ajuda humanitária à região. Por exemplo, uma equipa médica japonesa foi impedida de chegar a Aceh. O governo acabou por autorizar um acesso muito limitado de jornalistas e ajuda humanitária estrangeira, tendo estes de pedir autorização às forças militares. O clima de violência e intimidação que durante anos limitou o desenvolvimento da região e destruiu qualquer tentativa de construção de uma sociedade civil, afectou a capacidade da população em dar resposta própria à crise.

Solidariedade necessária

Teme-se que a corrupção militar e da polícia não garanta a distribuição necessária de apoio a Aceh. Os militares anunciaram que irão enviar 15 mil tropas para as zonas afectadas pelo maremoto. Mas a população terá de se dirigir aos mesmos que os têm oprimido e perseguido. É muito provável que os militares aproveitem esta oportunidade para atacar apoiantes da independência. Dias antes do maremoto, os militares enviaram para a zona milhares de membros da agência de inteligência militar (financiada pela CIA), um sinal claro de preparação de novas vagas de repressão local, sob o disfarce de operações anti-terroristas.

O apoio a Aceh é necessário e urgente, mas o povo de Aceh irá precisar de solidariedade internacional mesmo depois de ultrapassada a presente crise, contra a opressão de Jacarta, e pela a sua independência do jugo indonésio.



domingo, janeiro 02, 2005

Crise na Asia e Aceh

O tom do recente período de festas foi marcado pela tragédia resultante do terramoto e maremoto asiático de 26 de Dezembro. A estimativa de número de vítimas directas cresce diariamente, e teme-se que a propagação de doença e a escassez de comida, água potável e medicamentos possa inflacionar o número total de vítimas. A presença de turistas e suas câmaras de video fez deste desastre um evento mediático, que se traduziu em promessas de apoio internacional. Certas respostas sobressaíram por contraste, como o atraso do Embaixador Português em interromper as suas férias e dirigir-se de regresso à Indonésia para apoiar os turistas nacionais. O recém-eleito Presidente Bush, também de férias no Texas, demorou a reagir com um apoio proporcional, aumentando o apoio financeiro de 35 milhões para 350 milhões de dólares apenas depois de ter sido acusado de sovina.

Uma das zonas mais afectadas foi a província de Banda Aceh, na ponta norte da ilha de Sumatra, Indonésia, onde o total de vítimas poderá atingir os cem mil. A povoação de Meulaboh foi arrasada e 40 mil dos 120 mil residentes faleceram. Na vila de Lambada, morreram 95% dos habitantes. A comunicação social refere o mau estado das estradas, a destruição de pontes e a falta de combustível e transportes como os principais limites ao acesso de ajuda humanitária e distribuição de apoio. Contudo, este desastre natural veio apenas sobrepor-se a décadas de violência, opressão e falta de desenvolvimento da região por parte das autoridades Indonésias.

O povo de Ache declarou independência em 1976 e, à semelhança de Timor-leste, foi alvo de exploração económica e política, repressão cultural, assassinatos e aprisionamentos e conflito militar contra o movimento de independência nacional, o Movimento Aceh Livre áá(Gerakan Aceh Merdeka, GAM). Uma grande operação de exploração de gás natural centrada na povoação de Lhoksumawe, que fornece muito do gás natural do Japão e Correia do Sul, traz grandes lucros à Exxon Móbil e ao governo Indonésio, relutante em perder uma região tão lucrativa. A perspectiva de melhoramento após a queda do Suharto, que permitiu o recolher de testemunhos da repressão por parte de organizações humanitárias e conduziu até a um pedido de desculpa por parte do General Wiranto pelos excessos militares, foram sol de pouca dura. O estatuto de Zona Militar Operacional (DOM), interrompido brevemente, foi re-imposto em Aceh, sob o pretexto de garantir segurança contra motins populares. Em Novembro de 1999, cerca de 400,000 de pessoas (o equivalente a 10% da população de Aceh!) reunidas frente à Grande Mesquita exigiam um referendo sobre a independência da região. Seguiu-se uma intensificação das operações militares e o medo levou dezenas de milhar a fugirem dos lares. Em Maio de 2003, após o colapso de conversações pela paz, o governo Indonésio impôs a lei marcial em Aceh e restringiu o acesso de organizações humanitárias e jornalistas. Jakarta despendeu 470 milhões de dólares para as operações militares que se seguiram, três vezes mais que o orçamento anual da província.
Estas restrições permaneceram mesmo após o recente maremoto, limitando seriamente a resposta rápida de equipas médicas e ajuda humanitária à região. Por exemplo, uma equipa médica japonesa foi impedida de chegar a Aceh. O governo acabou por autorizar um acesso muito limitado de jornalistas e ajuda humanitária estrangeira, tendo estes de pedir autorização às forças militares. O clima de violência e intimidação que durante anos limitou o desenvolvimento da região e destruiu qualquer tentativa de construção de uma sociedade civil, afectou a capacidade da população em dar resposta própria à crise. Teme-se que a corrupção militar e da polícia não garanta a distribuição necessária de apoio. Os militares anunciaram que irão enviar 15 mil tropas para as zonas afectadas pelo maremoto. Mas a população terá de se dirigir aos mesmo que os tem oprimido e prosseguido. É muito provável que os militares aproveitem esta oportunidade para atacar apoiantes da independência. Dias antes do maremoto, os militares enviaram milhares de membros da agência de inteligência militar (financiada pela CIA), um sinal claro de preparação de novas vagas de repressão local, sob o disfarce de operações anti-terroristas.
O apoio a Aceh é necessário e urgente, mas o povo de Aceh irá precisar de solidariedade internacional mesmo depois de ultrapassada a presente crise, contra a opressão de Jakarta, e pela a sua independência do jugo Indonésio.