Bush II terminou a sua visita à Europa, mas a sua tentativa de convencer os Europeus de que o seu segundo mandato irá ser diferente, mais multilateral, de maior convergência à Europa, deixa muito a desejar. À medida que se vão preenchendo os quadros da nova administração, tudo indica que será business as usual.
A primeira mudança a atingir os cabeçalhos, ainda antes da inauguração formal da nova presidência, foi a substituição do General Colin Powell (o suposto moderado da administração, o que já de si dá uma ideia de quão predatória era a primeira administração Bush II) pela anterior Conselheira de Segurança Nacional (CSN[1]), Condoleezza Rice. Logo no seu discurso de abertura[2], pejado de alusões ao perigo do terrorismo e ao projecto de democracia evangélica a que já nos habituamos, Rice nomeou como “focos de tirania” a Birmânia, a Bielorússia, a Correia do Norte, Cuba, o Irão e o Zimbabué, deixando antever um programa continuado de expansionismo imperial da influência dos EUA.
Menos atenção foi prestada ao substituto de Rice no posto de CSN, Stephen Hadley. Foi adjunto de Rice na primeira administração Bush II, e assumiu responsabilidade pela alegação falsa de compra de urânio à Nigéria pelo Iraque, que Bush incluiu no seu discurso sobre o Estado da Nação de 2003. Mas o seu “erro”, melhor a sua deferência, foi compensada com a promoção ao círculo mais intimo do presidente. Hadley pertenceu ao grupo conhecido como “Os Vulcanos” (que integrou também Rice e Paul Wolfowitz, adjunto do Secretário de Defesa) e é a favor do programa de defesa anti-mísseis, do abandono do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos de 1972[3] e tem defendido o uso mais generalizado de armas nucleares, como forma de dissuasão contra armas de destruição massiva.
No dia da sua inauguração, Bush II nomeou como CSN adjunto, para o pelouro de democracia e direitos humanos, nada menos que Elliott Abrams. Este expoente do movimento neoconservador serviu a Administração Reagan, onde ascendeu em 1985 ao posto de Secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Inter-Americanos. Chegou a ser acusado de ter intencionalmente mentido ao Congresso sobre o seu papel central no acordo de armas Irão-Contra e o da Administração em apoiar os Contra. Acabou por assumir culpa por acusações menores para evitar prisão, e foi perdoado pelo Presidente Bush I, em 1992, pouco antes de este sair do Casa Branca. Durante a sua sabática, Abrams foi incansável no seu trabalho em inúmeros think tanks neo-conservador cristãos. Este fervoroso apoiante de Israel, com historial de profundo desrespeito por líderes islâmicos, será provavelmente o arquitecto da estratégia para o Médio Oriente da nova administração.
Como “coordenador especial” para o Iraque, Rice nomeou o ex-embaixador Richard Jones, ex-embaixador no Koweit e membro da Autoridade Provisória da Aliança ocupante. Segundo documentos chegados ao Representante Henry Waxman, Jones interveio em Dezembro de 2003 para pressionar a Kellogg, Brown and Root, uma subsidiária da Halliburton com fortes ligações ao vice-presidente Richard Cheney, a comprar gasolina da Altanmia, favorecida pelo governo do Koweit, apesar de esta cobrar o dobro do preço de outras companhias. Uma auditoria do Pentágono revelou que a companhia cobrou ao governo dos EUA um excesso de USD$61 milhões.
Por fim, queria assinalar a nomeação de John Negroponte para o novo posto de Director de Inteligência Nacional, que coordenará os trabalhos da CIA, DIA[4] e uma outra dezena de serviços de inteligência. Negroponte foi recentemente embaixador às Nações Unidas, tendo depois sido destacado como embaixador no Iraque. Eis alguém com provas dadas de obediência ao presidente para fazer o que seja preciso. Em 1981, a Administração Reagan foi forçada a substituir o seu embaixador nas Honduras, então Jack Binns, pois este tinha expresso preocupação com a violência das forças de segurança das Honduras, incluindo tortura e assassinatos. Negroponte foi então chamado para ocupar o posto num país que seria central à estratégia dos EUA para a América Central nos anos 80. Durante o seu mandato, de 81 a 85, os EUA apoiaram um regime militar nas Honduras que albergou campos de treino para os Contra na Nicarágua. Neste santuário, os EUA forneceu mantimentos, inteligência, armas e manuais para assassinatos.
O futuro da democracia e dos direitos humanos está em mãos cheias de sangue. A administração pode ter mudado o baralho, mas o jogo segue o mesmo.
[1] National Security Advisor
[2] http://www.state.gov/secretary/rm/2005/40991.htm
[3] Los Angeles Times, 17 de Novembro 2004
[4] O serviço de inteligência do Departamento de Defesa, que tem ultrapassado a CIA em orçamento e peso institucional, durante a liderança de Donald Rumsfeld, em parte por ser mais deferente perante os interesses políticos da administração.
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Nova Administrção Bush
Posted by
André Levy
at
11:31 AM
0
comments


Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Labels:
EUA
sábado, fevereiro 26, 2005
De volta
Um retorno aos blogs à muito adiado. Meteu-se o resto da vida pelo meio, msa agora há (ou terá que fazer-se) tempo para a escrita. Não iriei cuprir o tempo perdido, pois caso contrário o futuro mete-se pelo meio, torna-se passado, e irei sempre atrasado.
Mas não posso deixar de comentar os resultados eleitorais significativos, ou como se repetiu ubíquamente, históricos. A conquista da maioria absoluta do PS deixa-me apreensivo, não tanto por se tratar por crê-los tão incompetentes como o governo de Santana Lopes (tanto seria dificil), nem por perto. Mas por temer que no seguimento de tão retundante vitória siga a arrogância de que o PS é detentor de todas as soluções e da verdade. Uma maioria relativa, que forçá-se o PS a encontrar acordos com a restantes esquerda, também vencedora das eleições, deixar-me-ia mais descansado com a saúde da nossa democracia política nos 4 anos vindoros. Em particular, aproximam-se as eleições autárticas, e paira a pergunta sobre as listas à câmara de Lisboa: pensará o PS que agorá poderá vencer a câmara sozinho? A subida do Bloco de Esquerda foi sem dúvida o segundo resultado positivo mais significativo das eleições. O outro resultado significativo, mas pela negativa, foi claro a derrota desastrosa da direita, não só da incompetente verão Lopista do PSD, como da supostamente "útil" e "competente" direita de Portas. O subida da CDU face aos resultados de 2002, assim invertendo a descida tendencial que se vinha verificando, é um sinal positivo. Mas a recuperação ficou àquem dos resultados relativos e absolutos de 1999. Não deixou de dar esperança numa mudança da imagem do partido aos olhos do eleitorado, no qual o papel de Jerónimo de Sousa teve grande importância.
Noutra onda, também queria relatar o assédio de que fui alvo recentemente, me plena biaxa Lisboeta. Nada de muito picante, tratou-se mais de maketing agressivo, ou burla. Eu nem costumo responder a inquéritos na rua, mas desta vez tinha uma hora a queimar, e em vez de gastar $ na FNAC resolvi parar: a rapariga tinha um sorriso bonito (pecado meu). Pergunto sempre de quem se trata: desta vez era o Club Midas Prestige. "Não, não sei o que é." A moça vez-me umas perguntas banais, e eu sempre tentando terminar a coisa para seguir com a minha vida, pensando que se tratava apenas de uma sondagem de marketing. Eis que após as perguntas, fui conduzido a um 1º andar para responder a umas questões adicionais. Agora ficava curioso. Aí, numa sala com vários agentes mais seniores, numa sala revestida de imagems alusivas às férias, com música algo alta, fui colocada nas mãos de uma agente, que me fui, muito lentamente, sem se deixar afectar pelas minhas referências à falta de tempo (que já nem eram mentira), explicado o que era o Club Midas. O que apresentava era um club de descontos, no qual se entraria sob pagamento de uma tarifa de cerca de 2500 euros ao longo de 5 anos. Mas o tempo que demorou até me indicar a quantia. Só mesmo no finzinho, quanto já tinha tornado claro que eu não ia pagar naquele momento. Algumas coisas ficaram na memória como técnicas de venda, embora agressivas, compreensiveis dentro dos parametros da actividade de vendas: a escolha do ambiente na qual era dificil pensar, a pressão psicologógica para tomar uma decisão, com ofertas atractivas para quem assinasse logo. Mas outros detalhes foram suspeitos. Numa ocaisão, alegando falta de tempo, perguntei se não tinham um panfleto que eu pudesse levar para ler. A resposta foi não, o que numa organização com tanto aparato, com um exercito na rua, é no mínimo estranho. Toda a informação apresentada vinha num dossier com algumas folhas plastificadas e era escrita em folhas brancas, com letras muito grandes, à medida que a agente ia explicado "a oferta". Quando no fim perguntei se podia levar então estas folhas, já que não havia panfleto, e iria pensar sobre o assunto, recebi também uma negativa suspeita. Queria ela aquelas folhas para quê? No fim perdi uma hora, mas foi no minimo uma saida de campo ao marketing agressivo, e talvez quem saiba um toque num esquema sinistro. Entretanto descobri que existem mais queixas deste mesmo esquema. Alerta!
http://www.queixas.co.pt/popup.php?id_queixa=7410
Mas não posso deixar de comentar os resultados eleitorais significativos, ou como se repetiu ubíquamente, históricos. A conquista da maioria absoluta do PS deixa-me apreensivo, não tanto por se tratar por crê-los tão incompetentes como o governo de Santana Lopes (tanto seria dificil), nem por perto. Mas por temer que no seguimento de tão retundante vitória siga a arrogância de que o PS é detentor de todas as soluções e da verdade. Uma maioria relativa, que forçá-se o PS a encontrar acordos com a restantes esquerda, também vencedora das eleições, deixar-me-ia mais descansado com a saúde da nossa democracia política nos 4 anos vindoros. Em particular, aproximam-se as eleições autárticas, e paira a pergunta sobre as listas à câmara de Lisboa: pensará o PS que agorá poderá vencer a câmara sozinho? A subida do Bloco de Esquerda foi sem dúvida o segundo resultado positivo mais significativo das eleições. O outro resultado significativo, mas pela negativa, foi claro a derrota desastrosa da direita, não só da incompetente verão Lopista do PSD, como da supostamente "útil" e "competente" direita de Portas. O subida da CDU face aos resultados de 2002, assim invertendo a descida tendencial que se vinha verificando, é um sinal positivo. Mas a recuperação ficou àquem dos resultados relativos e absolutos de 1999. Não deixou de dar esperança numa mudança da imagem do partido aos olhos do eleitorado, no qual o papel de Jerónimo de Sousa teve grande importância.
Noutra onda, também queria relatar o assédio de que fui alvo recentemente, me plena biaxa Lisboeta. Nada de muito picante, tratou-se mais de maketing agressivo, ou burla. Eu nem costumo responder a inquéritos na rua, mas desta vez tinha uma hora a queimar, e em vez de gastar $ na FNAC resolvi parar: a rapariga tinha um sorriso bonito (pecado meu). Pergunto sempre de quem se trata: desta vez era o Club Midas Prestige. "Não, não sei o que é." A moça vez-me umas perguntas banais, e eu sempre tentando terminar a coisa para seguir com a minha vida, pensando que se tratava apenas de uma sondagem de marketing. Eis que após as perguntas, fui conduzido a um 1º andar para responder a umas questões adicionais. Agora ficava curioso. Aí, numa sala com vários agentes mais seniores, numa sala revestida de imagems alusivas às férias, com música algo alta, fui colocada nas mãos de uma agente, que me fui, muito lentamente, sem se deixar afectar pelas minhas referências à falta de tempo (que já nem eram mentira), explicado o que era o Club Midas. O que apresentava era um club de descontos, no qual se entraria sob pagamento de uma tarifa de cerca de 2500 euros ao longo de 5 anos. Mas o tempo que demorou até me indicar a quantia. Só mesmo no finzinho, quanto já tinha tornado claro que eu não ia pagar naquele momento. Algumas coisas ficaram na memória como técnicas de venda, embora agressivas, compreensiveis dentro dos parametros da actividade de vendas: a escolha do ambiente na qual era dificil pensar, a pressão psicologógica para tomar uma decisão, com ofertas atractivas para quem assinasse logo. Mas outros detalhes foram suspeitos. Numa ocaisão, alegando falta de tempo, perguntei se não tinham um panfleto que eu pudesse levar para ler. A resposta foi não, o que numa organização com tanto aparato, com um exercito na rua, é no mínimo estranho. Toda a informação apresentada vinha num dossier com algumas folhas plastificadas e era escrita em folhas brancas, com letras muito grandes, à medida que a agente ia explicado "a oferta". Quando no fim perguntei se podia levar então estas folhas, já que não havia panfleto, e iria pensar sobre o assunto, recebi também uma negativa suspeita. Queria ela aquelas folhas para quê? No fim perdi uma hora, mas foi no minimo uma saida de campo ao marketing agressivo, e talvez quem saiba um toque num esquema sinistro. Entretanto descobri que existem mais queixas deste mesmo esquema. Alerta!
http://www.queixas.co.pt/popup.php?id_queixa=7410
Assinar:
Postagens (Atom)