quarta-feira, janeiro 25, 2006

Douglas Barber - in memorium

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A minha ideia é hoje ajudar-te, leitor, a entender o que acontece ao soldado quando regressa a casa e o sacrifício que continuamos a fazer. Esta guerra ao terror tem-se tornado para muitos uma guerra pessoal, mas a administração Bush não quer revelar à América que esta é uma guerra pessoal. Eles querem geri-a como um negócio, e assim recusam-se a mostrar os sacrifícios pessoais que os soldados e suas famílias têm feito para este país.

Nada está OK ou bem para aqueles de nós que regressam a casa vivos e supostamente bem. O que parece normalidade e reajustamente é apenas uma ilusão a ser desvendada com o tempo e tormenta. Algums soldados regressam a casa sem membros ou outras partes do corpo. Outros ainda viverão com cicatrizes permanentes de eventos horríficos que ninguem além dos que serviram entenderão. Nós regressamos a casa da guerra tentando reconstruir as nossas vidas, mas alguns não suportam as memórias e decidem que a morte é melhor. Nós matamo-nos porque somos assombrados por ver crianças mortas e famílias inteiras eliminadas.

Outros regressam a casa para ada, as famílias abandonaram-nos: soldados foram deixados pelos seus maridos e mulheres, e também pelos seus pais. A disordem de stress pós-traumático (Post-traumatic Stress Disorder - PTSD) tem-se tornado normal entre estes soldados, porque eles não sabem como lidar com o regresso a uma sociedade que nunca comprenderá o que eles sustentaram.

O PTSD vem sob muitas formas que não são comprendidas por muitos. Porém se um soldado a tem, a America pensa que os soldados são malucos. PTSD vem sob a forma de depressão, raiva, arrependimento, tendência para o confronto, ansiedade, dor crónica, compulsões, ilusões/manias, pena profunda, sentimento de culpa, dependência, solidão, disordens de sono, suspeitas/paranoia, baixa auto-estima e muitas mais coisas.

Somos facilmente assustados com um estrondo ou ruido e abriga-mo-nos quando entramos em panico. Isto é resultado de tiros de artilharia a disparar numa zona de combate, ou um explosivo improvisado a detonar.

Eu proprio tenho dificuldades em lidar com a rotina diária que frequentemente me torna irrascível. Muitos soldados perdem seus empregos porque foram treinados para ser assasinos e viveram em ambientes que eram conducentes a isso mesmo. Estamos sempre em guarda pela nossa segurança e a dos nossos camaradas. Quando vamos para a cama à noite, pensamos se iremos para casa num caixão coberto na bandeira porque um morteiro explodiu na zona de dormir.

Soldados vivem em condições deploráveis, onde queimar as nossas fezes faz parte da ordem do dia, onde estar dias sem um banho e o uniforme tornar-se tão encrustado que se pega ao corpo é uma ocorrência comum. Também lidamos com o racionamente de água ou até comida. De forma que quando um soldado regressa a casa, não está seguro do que fazer.

É sob esta forma que surge o PTSD - soldados frequentemente não conseguem lidar com regressar ao mesmo mundo que deixaram para trás. É algo que leva soldados para lá dos limites e causa-os a retirarem-se da sociedade. Como Americanos torcemos o nariz, questionando porque actuam dessa maneira. Quem se importa com eles, porque haveriamos de os ajudar?
»

Douglas Barber escreveu esta entrada na internet no dia 12 de Janeiro de 2006. O veterano de 35 anos, havia batalhado durante dois anos com as memórias e experiências do serviço militar no Iraque. Embora opondo-se à guerra, sentiu-se obrigado a ir por acreditar que sem essa experiência a sua opinião seria inválida.

Membro da 1485a Companhia de Transportes da Guarda National de Ohio, foi chamado ao serviço em Fevreiro de 2003, tendo chegado ao Iraque no verão, quando a invasão já terminara e começava a resistência à ocupação. Esteve sete meses no Iraque, conduzindo camiões, evitando perigos, lidando com a morte dos camaradas, assistindo ao desespero dos civis Iraquís. Nunca havia sido treinado para lidar com nada disto.

Nesse dia, 12 de Janeiro de 2006, Douglas Barber enviou correio electrónico a alguns amigos, mudou a mensagem no atendedor do telefone ("Se está à procura do Doug, vou sair deste mundo. Vemo-nos no outro lado."), telefonou à polícia, e à frente de sua casa, disparou uma espingarda na propria cabeça.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Em vespéras da votação na PACE

Manifestação em Atenas a 19 de JaneiroSerá amanhã (4a feira, 25 de Janeiro) a reunião do Comité de Assuntos Políticos (Political Affairs Committee) da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE), onde irá ser votada a proposta de resolução Necessidade de condenar os crimes dos regimes comunistas totalitários.

Hoje à tarde, teve lugar em Estrasgurgo, uma manifestação de protesto contra esta condenação, que contou a participação de centenas de pessoas vindas da Grécia, Chipre, Bélgica, Suécia, Luzemburgo, Turquia, França, Itália, Russia (incluindo o líder comunista Gennady Zyuganov) e outros.


Já na passada 5a feira, milhares manifestaram-se em Atenas contra a proposta de resolução da PACE, organizado pelo Partido Comunista Grego (KKE). O líder do KKE, Aleka Papariga, afirmou aos manifestantes: "Esta é uma declaração de guerra contra a classe trabalhadora."

Os representatnes Checos poderão vir a apoiar a resolução, tendo havido uma recomendação do Comité de Direitos Humanos do Senado Checo nesse sentido.
Afirmou Martin Mejstrik, membro do comité: "É importante para as democracias ocidentais perceberem quão deshumano é o sistema comunista." Mejstrik e Jaromir Stetina, outro membro do comité, afirmaram que a sua opinião é partilhada pelo Club Democracia Aberta (KOD), de que fazem parte. Circula também uma petição de apoio à resolução.
O Partido Comunista da Boémia e Morávia (KSCM) tem estado oposto à resolução. E a Juventude Comunista (KSM) foi alvo no passado Novembro de uma tentativa de ilegalização (ver este post).

O Conselho Mundial para a Paz, num comunicado no passado dia 20, dondenou qualquer esforço de "distorcer, falsificar ou re-escrever a história", ao querer equiparar os crimes do Nazismo aos "os crimes comunistas", os dos agressores com os das suas vítimas. "A moção tem o odor de vigança dos conquistadores" e "constitui uma flagrante violação do Direito International, já que pretenter terrorizar nações inteiras e ameaçar países soberanos a mudarem as suas políticas."

A Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD/WFDY) qualificou o conteudo da proposta como "uma violação flagrante das liberdades e ordem democráticas e demonstrando a prática da política de vigança do capitalismo, pretendendo prevenir as forças mais progressivas de agirem livremente e de propagarem as suas ideias e ideais. (...) Para perpetuar esta crisada tudo é admissível para a ofensiva ideologica do caputalismo, até a comparação das organizções progressistas e amantes da paz de trabalhadores, jovens e estudantes com as acções terroristas ou crimes cometidos pelo Nazi-Fascismo."

Existem ainda outras declarações recentes de oposição à proposta de países do espaço extra-europeu, como Cuba e o Partido Comunista do Chile, o PC da Austrália.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

eleições: a seguir?

Depois de três eleições em rapida sucessão (legislativas antecipadas, autarquicas, e presidenciais) haverá agora um interregno - duvido que Cavaco venha a demitir o governo Socrates suportado por uma maioria absoluta parlamentar. Teremos de novo legislativas e autarquicas em Outubro de 2009. E novas presidenciais daquí a cinco anos.
E pensem desde já neste facto assustador: todos os presidentes da repúblicas desde a aprovação da Constituição de Abril foram re-eleitos para o segundo mandato, i.e., o precedente aponta para que venhamos a ter Cavaco durante os próximos dez anos. O combate contra a sua re-eleição já começou.
O calendário aponta portanto para eleições legislativas ainda durante o primeiro mandato de Cavaco. Caso seja eleito em 2009 um governo PSD/PP, ficará assim concretizado o lema de Sá Carneiro. Mas mesmo antes disso, temos já um presidente e um governo de direita, embora este seja composto pela ala esquerda do Partido Único Neoliberal (PUN), a coligação informal composta pelo PS, PSD e PP que apoiam as mesmas políticas, com algumas divergências de forma, velocidade ou tempero. Mas as diferenças entre partidos não mais do que as existentes dentro de cada um dessas organizações.

Declarações de Jerónimo de Sousa

Alguns destaques das declarações de Jerónimo de Sousa aos resultados eleitorais.

Sempre uma mensagem de esperança:
«grande votação obtida pela minha candidatura que, independentemente do desfecho final, constitui um estímulo para a afirmação do projecto que a norteou e uma garantia de que prosseguirá com confiança e determinação o combate por um Portugal com futuro.»

Críticas ao PS e CS (comunicação social):
«(...) beneficiando de apoios e simpatias indisfarçáveis dos principais grupos de comunicação social e projectada para branquear o passado do candidato e esconder os seus projectos e ambições para o futuro (...) Na verdade Cavaco Silva beneficiou (para além dos poderosos meios e facilidades) das hesitações, atitudes e posicionamentos do PS, e do seu Governo, (...) a notória falta de empenhamento posta na campanha associada ao baixar de braços e à resignação patenteada pela direcção do PS perante as exigências deste combate político jogaram a favor do desfecho final destas eleições.»

Alertas para o futuro:
«Com a vitória de Cavaco Silva não foi o país que ganhou em estabilidade mas sim a política de direita e as condições para ser prosseguida. Com a vitória de Cavaco Silva é, não Abril e a Constituição que saiem defendidos e reforçados, mas sim, a aspiração à liquidação de direitos e ao apagamento de importantes conquistas de Abril que os sectores mais reaccionários do capital nacional há muito formulam.»

Sempre um sinal de confiança:
«Este resultado, confirmando a corrente de apoio que acompanhou esta candidatura, é sobretudo um sinal de confiança de muitos milhares de portugueses e portuguesas que não se resignando perante as injustiças e as desigualdades acreditam que é possível um novo rumo para o país. »

Sempre um sinal de determinação:
«quero aqui reafirmar a inabalável determinação de honrar o apoio recebido e de prosseguir o trabalho e a luta em defesa dos direitos e conquistas sociais, pela melhoria das condições de vida, por uma viragem democrática e de esquerda na vida política nacional.»
«quero reafirmar que o seu apoio e os seus votos encontrarão em mim e no projecto colectivo pelo qual luto – hoje, amanhã e sempre – uma presença activa na defesa dos seus direitos e das suas aspirações a uma vida melhor.»

Este sentimento de esperança no futuro, de confiança que um combate determinado pode fazer frente aos avanços da direita é um imperativo.
Há que combater algum desalento que se possa manifestar no rescaldo das eleições.
Há que combater o regresso à toca, mantendo vivo o espírito de luta, entrega e trabalho que caracterizou esta campanha.
Há que reforçar o orgulho de ter participado e apoiado uma candidatura colectiva de todos quantos «elevaram mais alto a exigência de uma ruptura democrática e de esquerda com as políticas de direita que tantas dificuldades têm lançado sobre o povo e o país.»
Cavaco pode ter ganho, mas apesar disso e por isso mesmo, A LUTA CONTINUA.

Versão completa das declarações disponível aquí.

Eleições Presidenciais

Com 4258 (de 4260) freguesias apuradas, e uma percentagem de votação de 62,61%, os resultados eleitorais são os seguintes

Candidato ......................Votos ........... %

CAVACO SILVA..........2745491..... 50,59
MANUEL ALEGRE.....1124662..... 20,72
MÁRIO SOARES.........778389...... 14,34
JERÓNIMO SOUSA... 466428....... 8,59
FRANCISCO LOUÇÃ.. 288224........ 5,31
GARCIA PEREIRA........ 23650....... 0,44

Os resultados finais das eleições presidenciais, como indicadas pela STAPE, indicam que Cavaco Silva ganhou as eleições na primeira volta. Algumas primeiras reacções ao escrutínio final:
  • a vantagem de Cavaco Silva esteve muito longe das expressas na maioria das sondagens, e teve uma margem pouco acima da suficiente para uma maioria na primeira volta
  • a vontação de Manuel Alegre foi confortavelmente superior à de Mário Soares, expressando uma divergência grande entre o eleitorado da área do PS e a escolha da sua liderança partidária e significativamente as escolhas económicas e política do seu governo
  • a percentagem muito assinalável de Jerónimo de Sousa, superior às constantes nas sondagens, superior à de Mário Soares em várias concelhos (e.g., Loures, Vila Franca de Xira, Almada, Montijo, Palmela, Santiago do Cacém, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sines, Ponte de Sor, Chamusca, Marinha Grande) e tendo sido inclusivamente a candidatura mais votada no Distrito de Beja e em alguns concelhos (e.g., Grandola, Barreiro, Moita, Avis, Elvas, Alter do Chão, Coruche, Alpiarca)
Agora há que recuperar da desilusão da vitória de Cavaco à primeira, da eleição pela primeira vez de um presidente de direita. Aos que contavam já com a batalha da segunda volta, preparem-se agora para estar vigilantes: a batalha de defesa da Constituição começará agora a sério. O "partido único" do neoliberalismo tem agora maior cobertura para as reformas constitucionais que tem ambicionado. A necessária defesa das conquistas de Abril que iremos enfrentar já não se fará nas urnas. Irá ser travada no campo de batalha das ideas, junto de cada cidadão e se necessário nas ruas e barricadas.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Ataques anti-comunistas & insenção dos fascistas

Os recentes ataques anti-comunistas no espaço europeu vêm estreitamente associados à exculpação dos crimes nazis. A proibição dos símbolos comunistas vem a par com a permissão de símbolos nazis. A preseguição a líderes comunistas lado a lado com a recompensa pela colaboração com os nazis e participação activa nos seus crimes.
  • Na Estonia e Lituania, ex-membros das SS tem agora os mesmo previlégios que os veteranos que participaram na Grande Guerra Patriótica.
  • A 16 de Março de 2005, pelo quinto ano consecutivo, houve um desfile da Waffen-SS em Riga, capital da Lituania. A manifestação foi autorizada apesar dos pedidos oficiais de Israel e Russia para que fosse proibida.
  • Em Janeiro de 2005, o governo Lituano juntamente com a embaixada dos EUA publicaram um livro, "História da Lituania: o século XX", no qual o campo de Salaspils, onde os Nazis efectuaram experiências médicas com crianças e forma mortas 90,000 pessoas, é descrito apenas como um campo de trabalho correctivo; e a Waffen-SS surge como heroi no combate contra a ocupação Soviética.
  • Os EUA retiraram a cidadania a Michael Gorshkow, forçando-o a abandonar a Florida, por julgá-lo implicado no massacre de pelo menos 3 mil judeus na Europa de Leste ocupada pelos Nazis. Gorshkow, então com 80 anos, foi recebido na Estonia sem ter sido alvo de qualquer acusação. Grupos judeus dizem que pelo menos 17 criminosos de guerra nazis poderão estar a viver na Estonia, sem serem acusados.
  • Quando o grupo de rock Marras tocou, em Fevreiro de 2004, uma canção em público que afirmava "É agradável matar-se judeus", a polícia afirmou que a frase não incitava ódio étnico e religioso e recusou-se a iniciar processo judicial contra o grupo.
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Ataques anti-comunistas na Europa

O projecto anti-comunista do Conselho da Europa (ver este post) não surge do nada. São já vários os assaltos anti-comunistas na Europa, sobretudo na Europa de leste.
  • na Estonia, Letonia, Lituania, Roménia e Turquia os partidos comunistas são proíbidos por lei ou enfrentam obstáculos insuperáveis à sua legalidade
  • Na Hungria, e República Checa o uso de símbolos comunistas é proibido por lei
  • Mikolas Bourakiavitsius, presidente do Partido Comunista Lituano, está há 12 anos na prisão de Vilnius pelas suas convicções e actividades políticas. Tem já 78 anos, e no passado 25 de Nov foi submetido a uma operação ao coração. Ficou porém na prisão, apesar dos óbvios riscos para a sua saúde. A sua libertação está prevista para 14 de Jan de 2006. O seu camarada Yiouozas Kouolelis tem estado também em prisão.
  • Sean Garland, president do Worker's Party da Irelanda, está em prisão domiciliária na Irlanda do Norte e sob ameaça de extradição para os EUA sem acusação formal.
  • O fundador do Partido Comunista das Filipinas, José Maria Sison fugiu para a Holanda em 1987, como refugiado político. Agora enfrenta a possibilidade de extradição para os EUA por ter sido incluindo na lista de terroristas dos EUA.
  • A Juventude Comunista da Boémia e Morávia (KSM), a juventude do Partido Comunista Boémia e Morávia (KSCM), que teve uma vitória significativa nas ultimas eleições parlamentares, foi alvo, no passado Novembro de uma ameaça de ilegalização. O Governo Checo faz uso de argumentos técnicos e políticos, incluindo extratos do jornal do KSM onde consta que "luta pelo derrube rebolucionário da ordem capitalistas, pelas massas dos trabalhadores". O KSM considera isto um ataque às forças pro-socialistas da Republica Checa e pede que sejam enviadas cartas de protesto ao Governo Checo (com CC: para a KSM) antes da audiência legal de 3 de Março.
  • Em Julho de 2005, o estado Alemão, incorporou a Federação Internacional de Resistência Antifascista na sua lista negra, acusando-a de "organização terrorista de extrema esquerda" e "de inimigo de las institucões"
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Ataque anti-comunista no Conselho da Europa

De 23-27 de Janeiro, o Conselho da Europa irá discutir e votar um projecto de resolução adoptado pelo Comité de Assuntos Políticos (Political Affairs Committee) da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE) chamado "Necessidade de condenar os crimes dos regimes comunistas totalitários".

Este projecto, com larga possibilidade de ser aprovado, tem como relator o sueco Göran Lindblad do European People's Party (democratas-cristãos) e conta como principais apoiantes vários países de leste, incluindo os que não hesitam em aprisionar líderes de partidos e movimentos populares, mas que activamente oferecem pensões a ex-combatentes nazis, permitem símbolos hitlerianos e albergam impunemente criminosos de guerra nazis.

O projecto ataca muito especificamente os partidos comunistas da europa que "são legais e ainda activos em certos países". Mas mais que um ataque sobre pessoas ou organizações é um ataque explícito a uma ideologia: "estes crimes [do comunismo] são resultado directo da teoria da luta de classes, que impunha a necessidade da "eliminação das categorias de pessoas consideradas sem utilidade para a construção de uma sociedade nova." E nas suas conclusões: "A ideologia comunista ... sempre resultou em terror maciço. crimes e violações dos direitos humanos em grande escala."

Entre outros aspectos o projecto:
- escandaliza-se com o uso de "símbolos comunistas";
- propõe a "revisão dos manuais escolares";
- exige a abertura dos arquivos dos Partidos Comunistas e que estes se distanciem "claramente dos crimes" e os condenem "sem ambiguidades";
- propõe-se estudar e condenar os "crimes cometidos pelos regimes comunistas totalitários";
- propõe "lançar campanhas de sensibilização para os crimes cometidos";
- instaurar um "dia comemorativo para as vítimas do comunismo" e incentivar monumentos de homenagem às vitimas dos seus crimes;

No projecto, os chamados "crimes do comunismo" ofuscam todo e qualquer progresso humano que resultou da luta dos comunistas. Omite o papel de comunistas e países socialistas no combate contra o horror nazi, em prol da descolonização e seu apoio aos movimentos de libertação nacional por todo o mundo.

Para subscrever a moção de repúdio "Contra o projecto de resolução anti-comunista no PACE" vá ao formulário em http://www.no2anticommunism.org/en/index.php . anti-comunismo fascismo anti-comunista fascista

Sobre este projecto de resolução ver também: Declaração de Mikis Theodorakis .

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Sob a lei da selva

Os efeitos dos furacões Katrina e Rita no sudeste dos EUA trouxeram à superfície, aos olhos dos EUA e do mundo, a violência das divisões económicas coincidentes com clivagens étnicas. Enquanto as camadas mais favorecidas obtiveram assistência para evacuar as regiões atingidas, as camadas mais desfavorecidas eram abandonadas ou deslocadas para estádios desportivos e outros alojamentos, onde permaneceram em grandes concentrações sem condições dignas, e por vezes sem água nem comida. Os que quiseram permanecer nos seus lares foram obrigados a abandoná-los sob pressão policial.

Nas semanas seguintes à calamidade, em Nova Orleães, senhorios iniciaram o despejo de milhares de pessoas por dia, a maioria das quais tinha sido forçada a abandonar a cidade, e as rendas de muitas casas triplicaram face aos valores pré Katrina. São sobretudo os pobres e os negros os alvo destas medidas. O governo permitiu que fosse a economia de mercado e os proprietários a conduzir a reconstrução e o resultado tem sido um processo de gentrification (a reconstrução de zonas deterioradas acompanhada da substituição de camadas pobres por pessoas da classe média alta), que ameaça alterar profundamente o perfil da cidade e deixar milhares ao abandono.

Logo após Katrina, Bush suspendeu por ordem executiva o Acto Davis-Bacon, que garante protecções no pagamento de salários. Mas fruto da forte oposição sindical e das comunidades, e a sageza do Representante George Miller, o Congresso forçou Bush a retroceder. Mas tal não impediu outras formas de abuso laboral. Vejamos um esquema comum: uma companhia como a Halliburton, ou sua subsidiária Kellogg, Brown and Root – ambas com historial de beneficiarem de contratos monstros da administração Bush sem necessitar de concursos públicos abertos – recebe um contrato para limpar uma zona, a 46 dólares por metro cúbico. Contrata uma companhia local para limpar escombros a 32 dólares, que por sua vez subcontrata o trabalho, etc. até uma receber 5 dólares por metro cúbico. Não é raro estarem 50 companhias subcontratadas pela companhia com o contrato inicial, com 5 ou mais elos entre esta e o trabalhador. São centenas de companhias a palmar do bolo apenas por passarem a bola ao próximo.

Paralelo com o Iraque

Os subcontratados mais locais, com uma margem de lucro já bastante estreita, contratam trabalhadores imigrantes e indigentes e pagam-lhes o mínimo possível, quando pagam. Embora tenha sido revertida a decisão de Bush de absolver as companhias dos processos de certificação legal dos seus empregados, muitos delas contratam ainda imigrantes ilegais.

Resultado: milhares de trabalhadores, os que efectivamente estão a reconstruir as cidades destruídas, estão sem receber os seus salários há meses. Os ilegais temem protestar contra a situação. Quando há protestos, os patrões alegam que foram subcontratados, que a companhia que lhe encomendou o serviço também ainda não lhes pagou. Estas pirâmides de subcontratação, onde o fluxo de dinheiro não é supervisionado, com todos os níveis afirmando-se isentos de culpa por não pagarem, estão a permitir uma cultura de abuso e fartas oportunidades para explorar os trabalhadores. Basta uma companhia não receber o seu pagamento, ou meter dinheiro ao bolso, e a cascata recai sobre o trabalhador. É inclusivamente difícil a um trabalhador traçar a cadeia e saber quem é a companhia primariamente responsável pelo seu trabalho, face à qual poderia exigir o seu salário.

Os esquemas de subcontratação e exploração laboral na reconstrução de Nova Orleães têm um enorme paralelo com a «reconstrução» no Iraque pelas forças de ocupação. Aí, por exemplo, subcontratados da Halliburton pagam baixos salários a filipinos, nepaleses, sri-lanqueses e outros trabalhadores imigrantes para construir instalações militares; e cobraram fortunas às próprias Forças Armadas dos EUA pela prestação de serviços vários, desde lavandaria à confecção alimentar. A Casa de Representantes apurou que a Halliburton é responsável por 1.4 mil milhões de dólares de custos questionáveis e não fundamentados no Iraque. Apesar disto, o Pentágono continua a conceder contratos à antiga companhia do vice-presidente Dick Cheney, incluindo um contrato de 500 mil milhões de dólares, anunciado em Junho, para ampliar a prisão de Guantanamo. Apesar de declarar já não possuir interesse financeiro na companhia, Cheney continua a receber um salário deferido (quase 200 mil dólares em 2004), e as suas acções da Halliburton aumentaram 3281% em 2005. Em tempo de guerra, lucram os ricos e seus amigos…

terça-feira, janeiro 10, 2006

Grupo Parlamentar Amizade Portugal-Venezuela

Vem hoje anunciado que foi iniciado um grupo da Assembleia Parlarmentar Portguesa de Amizade Portugal-Venezuela. O que muito me surpreendeu foi que o grupo era ser liderado pelo deputado do PSD Correia de Jesus. "O objectivo principal é o estreitamento de relações entre os dois países, bem como a cooperação, no domínio cultural, económico e social, num momento em que a cooperação é nenhuma", especificou o deputado social-democrata. O ex-secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, o socialista José Lello será o vice-presidente do grupo.
Acho muito bem que este grupo tenha sido criado. Gostaria de ver um estreitamente de relações com a Venezuela e demonstrações de solidariedade com a Revolução Bolivariana quando esta é assaltada pelo imperialismo e forças económicas internas e externas. Pergunto-me se, com esta liderança, este grupo parlamentar poderá assumir esse papel. Na página da Assembleia da República não vi ainda nada sobre este assunto. Seria interessante saber os restantes membros do grupo parlamentar.