quarta-feira, janeiro 25, 2006

Douglas Barber - in memorium

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A minha ideia é hoje ajudar-te, leitor, a entender o que acontece ao soldado quando regressa a casa e o sacrifício que continuamos a fazer. Esta guerra ao terror tem-se tornado para muitos uma guerra pessoal, mas a administração Bush não quer revelar à América que esta é uma guerra pessoal. Eles querem geri-a como um negócio, e assim recusam-se a mostrar os sacrifícios pessoais que os soldados e suas famílias têm feito para este país.

Nada está OK ou bem para aqueles de nós que regressam a casa vivos e supostamente bem. O que parece normalidade e reajustamente é apenas uma ilusão a ser desvendada com o tempo e tormenta. Algums soldados regressam a casa sem membros ou outras partes do corpo. Outros ainda viverão com cicatrizes permanentes de eventos horríficos que ninguem além dos que serviram entenderão. Nós regressamos a casa da guerra tentando reconstruir as nossas vidas, mas alguns não suportam as memórias e decidem que a morte é melhor. Nós matamo-nos porque somos assombrados por ver crianças mortas e famílias inteiras eliminadas.

Outros regressam a casa para ada, as famílias abandonaram-nos: soldados foram deixados pelos seus maridos e mulheres, e também pelos seus pais. A disordem de stress pós-traumático (Post-traumatic Stress Disorder - PTSD) tem-se tornado normal entre estes soldados, porque eles não sabem como lidar com o regresso a uma sociedade que nunca comprenderá o que eles sustentaram.

O PTSD vem sob muitas formas que não são comprendidas por muitos. Porém se um soldado a tem, a America pensa que os soldados são malucos. PTSD vem sob a forma de depressão, raiva, arrependimento, tendência para o confronto, ansiedade, dor crónica, compulsões, ilusões/manias, pena profunda, sentimento de culpa, dependência, solidão, disordens de sono, suspeitas/paranoia, baixa auto-estima e muitas mais coisas.

Somos facilmente assustados com um estrondo ou ruido e abriga-mo-nos quando entramos em panico. Isto é resultado de tiros de artilharia a disparar numa zona de combate, ou um explosivo improvisado a detonar.

Eu proprio tenho dificuldades em lidar com a rotina diária que frequentemente me torna irrascível. Muitos soldados perdem seus empregos porque foram treinados para ser assasinos e viveram em ambientes que eram conducentes a isso mesmo. Estamos sempre em guarda pela nossa segurança e a dos nossos camaradas. Quando vamos para a cama à noite, pensamos se iremos para casa num caixão coberto na bandeira porque um morteiro explodiu na zona de dormir.

Soldados vivem em condições deploráveis, onde queimar as nossas fezes faz parte da ordem do dia, onde estar dias sem um banho e o uniforme tornar-se tão encrustado que se pega ao corpo é uma ocorrência comum. Também lidamos com o racionamente de água ou até comida. De forma que quando um soldado regressa a casa, não está seguro do que fazer.

É sob esta forma que surge o PTSD - soldados frequentemente não conseguem lidar com regressar ao mesmo mundo que deixaram para trás. É algo que leva soldados para lá dos limites e causa-os a retirarem-se da sociedade. Como Americanos torcemos o nariz, questionando porque actuam dessa maneira. Quem se importa com eles, porque haveriamos de os ajudar?
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Douglas Barber escreveu esta entrada na internet no dia 12 de Janeiro de 2006. O veterano de 35 anos, havia batalhado durante dois anos com as memórias e experiências do serviço militar no Iraque. Embora opondo-se à guerra, sentiu-se obrigado a ir por acreditar que sem essa experiência a sua opinião seria inválida.

Membro da 1485a Companhia de Transportes da Guarda National de Ohio, foi chamado ao serviço em Fevreiro de 2003, tendo chegado ao Iraque no verão, quando a invasão já terminara e começava a resistência à ocupação. Esteve sete meses no Iraque, conduzindo camiões, evitando perigos, lidando com a morte dos camaradas, assistindo ao desespero dos civis Iraquís. Nunca havia sido treinado para lidar com nada disto.

Nesse dia, 12 de Janeiro de 2006, Douglas Barber enviou correio electrónico a alguns amigos, mudou a mensagem no atendedor do telefone ("Se está à procura do Doug, vou sair deste mundo. Vemo-nos no outro lado."), telefonou à polícia, e à frente de sua casa, disparou uma espingarda na propria cabeça.

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