terça-feira, junho 06, 2006

Fascistas no Dia de Portugal

Estamos quase a marcar o Dia de Portugal (10 de Junho) que calha este ano num sábado, efméride abraçada pelo Estado Fascista em 1933, como o Dia da Raça. No dia da Raça e de Camões “exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias”, explica Conceição Meireles, especialista em História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (cit. JornalismoPorto.Net). Acrescenta que “toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda do Estado Novo”. Ou seja, “a propaganda nacionalista do Estado Novo é verdadeiramente dominada por uma certa mitificação da História, e por uma determinada leitura da mesma”, a partir da qual o regime pretendia promover uma certa ideia daquilo que tinha sido a História de Portugal, enaltecendo determinados acontecimentos e remetendo outros para o esquecimento. O termo 'raça' também não será aleatório; enquadra-se nas perspectivas racistas, eugénicas e ultra-patrióticas do estado fascista, no qual se procurava não apenas enaltecer os valores do povo Português mas também a sua superioridade, e logo legitimidade em invadir, oprimir e explorar outros povos.
Não será assim de estanhar que os neo-fascistas, pela mão da sua frente (infelizmente) tolerada pelo actual estado - o Partido Nacional Renovador, aproveitam uma vez mais este dia para manifestarem a sua ideologia fascista. Irão "
marcando presença na rua em defesa de Portugal e dos Portugueses; Às 17 horas no Largo de Camões, em Lisboa." Deveria ser um oportunidade para de novo este ano se celebrar o 25 de Abril e marcar os 30 da nossa Constituição, juntando anti-fascistas que se opõem à existência desta organização, e às organizações afiliadas, como a Frente Nacional. Recordo que a Constituição Portuguesa, afirma no seu artigo 46º, que "Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista."

O PNR vai também fazer-se "representar na manifestação de profissionais das forças de segurança que terá lugar esta 4ªfeira, 7 de Junho,

«Os Nacionalistas entendem que as forças da ordem e segurança são um dos pilares fundamentais de uma Nação. São elas que garantem a soberania, a autoridade e a segurança das pessoas e do Estado. Não é, por isso, concebível, que esse mesmo Estado as maltrate, despreze e desautorize», alega o PNR no seu «site» na Internet. (cit. PortugalDiário)

A Comissão Coordenadora Permanente (CCP) de Sindicatos e Associações das Forças e Serviços de Segurança marcou a manifestação para exigir melhores condições laborais e sociais, assim como mais diálogo com o Governo. E tanto a CCP como o Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP) se desmarcaram da participação do PNR. Contudo, há que recordar as recentes declarações xenófobas dopresidente do SPP, António Ramos, ao Diário de Notícias «O aumento da criminalidade em Portugal deu-se com a abertura das fronteiras (...) o Governo não devia deixar entrar tanta gente». O secretário-geral do sindicato, Luís Filipe Maria, afirmou que «antes de haver imigrantes brasileiros não havia assaltos nos semáforos. (...) «Quem matou os agentes na Amadora? Não foi um brasileiro? Quem matou o agente Ireneu na Cova da Moura? Não foram estrangeiros?».

Já tenho defendido aquí neste blog que já passou o momento de ignorar este movimento em Portugal. De não lhe dar atenção. De o considerar um movimento pequeno, pouco influente, composto apenas por cabeças rapadas desmiolados. Parece-me que é um movimento pequeno, é certo, mas organizado, com actividade contínua, que já tem marcado a agenda política, capaz de atrair a atenção dos meios de comunicação social, com elementos de alguma sofisticação intelectual e porta-vozes que têm um discurso com potencial para ecoar entre algumas camadas mais desesperadas da população. O discurso anti-immigrante, anti-homosexual, anti-partidário, mergulhado num saudosismo por um momento mais nobre da nossa história, de afirmação da pátria e da raça, pode encontrar apoiantes entre pessoas desiludidas, marcadas por dificuldades económicas. Esse foi o sólo fértil de apoiantes do fascismo no início do século XX na Itália, Alemanha e Portugal. É o discurso que atraí os eleitores da Frente Nacional em França e na Austria. Não podemos iludirnos que não é possível em Portugal surgir um força de extrema-direita com algum peso. E não podemos ficar impassíveis.

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