terça-feira, agosto 15, 2006

Estratégia de longo prazo: ataque ao Líbano prelúdio para ataque ao Irão

Segundo Seymour Hersh, investigador e vencedor do Prémio Pulitzer por ter exposto o massacre de My Lai durante a guerra do Vietnam, no seu mais recente artigo no New Yorker, revela que Israel tinha planos de ataque ao Hezbollah, que havia partilhado com a Administração Bush, bastante antes do sequestro de 12 de Julho. Esperavam por um momento oportuno para implementar o plano de bombardeamentos massivos, prevendo que mais cedo ou mais tarde o Hezbollah lançaria um ataque. Daí que a campanha alargada tenha surgido tão rapidamente após o sequestro.

No início da primavera, houve estreita cooperação entre a Força Aérea dos EUA e Israel - por si nada de original - com o fim específico de elaborar um estratégia de ataque a instalações subterrâneas. Tanto o Iraque como o Hezbollah possuem artilharia, armazens de armamento, etc. enterrados e protegidos de ataques convencionais. O ataque Israelita no sul do Líbano foi, do ponto de vista dos EUA, um prelúdio para o que poderá vir a ser um ataque dos EUA ao Irão. Ao enfraquecer o Hezbollah, pensavam, estariam também a precaver-se contra a sua resposta contra Israel quando o ataque ao Irão tivesse lugar.

Contudo, ao contrário do que pensava Israel e os EUA, os ataques só marginalmente enfraqueceram a capacidade do Hezbollah, que não só resistiu aos ataques como os evadiu e pode continuamente lançar ataques contra Israel, lançando mais de 12 mil mísseis de curto-alacance. Os ataques à infraestrutura Libanesa (aeroporto, estradas, depósitos de combustível, etc) tão pouco levaram a população Cristã e Sunni Libanesa a revoltar-se contra os Shias do Hezbollah. E os países árabes maioritariamente Sunni (e.g., Egípto, Arábia Saudita, Jordão), que a Casa Branca deseja que forme um bloco de oposição aos países maioritariamente Shia (e.g., Irão, Síria), embora inicialmente tenham culpado o Hezbollah pelo conflito, mudaram de postura quando confrontados com a violência de Israel e os protestos de outros países e dos seus próprios cidadãos.

Hersh descreve também alguma tensão dentro do núcleo duro da Casa Branca em torno desta campanha. Israel dirigiu-se primeiramente ao gabinete do vice-presidente Dick Cheney, convencido que recrutando o seu apoio seria abrir caminho para o apoio do Presidente George W. Bush e os restantes elementos da Casa Branca. Cheney aprovou os planos de ataque massivo ao Líbano e insistiu que tal deveria ser feito rapidamente, para permitir que os resultados fossem avaliados e planear então o ataque ao Irão, enquanto Bush está ainda na Presidência. Rumsfeld está convencido que os ataques aéreos que funcionaram no Afeganistão, mas não no Iraque, também não funcionarão contra forças entrincheiradas como o Hezbollah. Para as erradicar será necessário enviar tropas terrestres, e Rumsfeld sabe os custos que tal está a implicar no Iraque.

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