A derrota do Partido Republicano (PR), e por implicação da Administração Bush, repercutiu por todo o mundo. Nos cinco continentes, o povo está farto da prepotência e belicismo da nação mais poderosa do mundo, que faz uso do seu peso militar para invadir, ocupar e destabilizar países como o Iraque e Afeganistão; alimentar crises diplomáticas, deixando-nos no precipício de novos conflitos, com o Irão e Correia do Norte; e impede a rápida intervenção humanitária das Nações Unidas quando involve aliados estratégicos, como foi o caso no Líbano. Domesticamente, o Congresso dominado pelo PR e com um Partido Democrata (PD), permitiu à Casa Branca favorecer fiscalmente os muito ricos, aprovar legislação ultra-securitária (como a USAPatriot Act), subverter a Constituição tomando inúmeras decisões por decreto presidencial, etc. O regresso do PD à posição maioritária no Senado e Casa de Representantes, desde 1994, criará muitas dificuldades à continuação de várias iniciativas domésticas do PR, em particular na reforma do sistema de Segurança Social. Mas irão estes resultados eleitorais significar uma alteração na estratégia dos EUA no Iraque?
A crescente oposição à continuação da presença dos EUA no Iraque foi sem dúvida um dos elementos que mais pesou na mente dos eleitores, levando a Congressista Democrata Nancy Pelosi, que deverá ser a primeira mulher a assumir a liderança da Casa de Representantes, a declarar: "O Povo Americano [indicou] que precisamos de uma nova direcção na guerra no Iraque. Não podemos continuar neste caminho catastrófico". Dirigentes democratas, incluindo Harry Reid, apontado como o próximo líder da maioria no Senado, já afirmaram que uma redução gradual do número de tropas será a sua prioridade assim que o novo Congresso tomar posse em Janeiro. Por outro lado, Pelosi já indicou que um processo de impeachment contra Bush/Cheney não está em cima da mesa, embora uma sondagem realizada pela revista Newsweek, tenha revelado que 51% dos Estadunidenses, incluindo 20% de Republicanos, acha essa possibilidade deva ser considerada. Um número crescente de activistas estão a organizar um dia nacional pelo impeachment, a ter lugar no dia 10 de Dezembro.
E como reagiu a Casa Branca à derrota eleitoral e ao sinal claro de oposição contra a ocupação do Iraque? Um artigo do Guardian de Londres (Nov 16) revelou que Bush disse aos seus conselheiros seniores que pretende aumentar em vinte mil o número de soldados Estadunidenses no Iraque - neste momento, estão 140 mil tropas ocupantes – um número inferior ao reclamado pelo Senador John McCain. O artigo revela ainda que este escalada poderia permitir ao PR ganhar tempo e espaço político até às eleições presidenciais de 2008.
No rescaldo imediato do resultado eleitoral, Bush aceitou a demissão do Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, cuja posição se encontrava insustentável há meses. Rumsfeld era apontado como um dos principais arquitectos responsável pelas mentiras que justificaram a invasão do Iraque e pela estratégia de ocupação, recebendo críticas dos opositores da guerra e pedidos de demissão por elementos do Congresso, mas significativamente também de um número crescentes de oficiais das forças militares. Dias antes das eleições, os editores dos quatro principais jornais militares apelaram à sua demissão afirmando que "é uma coisa que a maioria dos Americanos pense que Rumsfeld falhou; mas quando os lideres militares divergem publicamente do secretário da defesa, é claro que ele está a perder o controlo da instituição que lidera."
A figura escolhida por Bush para substituir Rumsfeld, Robert Gates, revelou que a mudança é apenas decorativa e que a Administração pretende a continuidade na sua política no Médio Oriente, agora com uma figura menos escaldada publicamente. Indicado por Bush como alguem com grande experiência, a revisão do seu currículo é revelador. Gates esteve envolvido nas negociações secretas entre o PR e o governo do Irão para, em troca da venda de armas, adiar a libertação de reféns Estadunidenses até após as eleições presidenciais de 1980, facto que veio a favorecer a vitória de Ronald Reagan sobre Carter. Já enquanto membro da CIA, sob o director William Casey, supervisionou o abastecimento militar dos Contras na Nicarágua, operação que fez uso ilegal das verbas obtidas pela venda de armas ao Irão. E tanto sob Casey, como mais tarde enquanto líder da CIA, Gates foi exímio em moldar os relatórios de inteligência ao agrado da estratégia política da Casa Branca. Podemos assim contar com mais mentiras a cobrir os desígnios imperialistas, a exigir a análise atenta e firme combate.
[Artigo publicado na Voz do Operário]
terça-feira, novembro 21, 2006
Gates na Defesa
Posted by
André Levy
at
1:36 PM
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Labels:
EUA
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