sexta-feira, julho 04, 2008

Já só faltam 200 dias

Dentro de cerca de 200 dias, George W. Bush será substituído na Casa Branca. Qualquer que venha a ser o próximo presidente, será o fim de uma era. Não se trata de saber quão distinto será o próximo presidente, mas de reconhecer que os EUA que sobrevive a Bush está desgastado e em apuros económico-financeiros, diplomáticos, e até militar.

Estamos a poucas dias da última cimeira dos G8 que contará com a presença de Bush. Entre este grupo de países, os EUA estão à frente apenas da Itália, em termos de crescimento económico (0.5% , este ano segundo projecções do FMI), atrás do Reino Unido (1.6%), a zona euro (1.4%), o Japão (1.4%) ou o Canadá (1.3%), e muito atras dos 6.8% da Rússia, ou 9.3% da China. (ver)

Durante os dois termos presidenciais de Bush, o dólar perdeu 41% face ao euro. Juntamente com outros factores—estarmos a atravessar o pico de Hubbert na produção petrolífera, especulação por parte das distribuidoras—a perda de valor do dólar, a principal moeda de troca de crude no mercado internacional, é um dos factores responsáveis pela subida incansável no preço dos combustíveis. Só este ano o petróleo subiu 50%, atingindo ontem novo recorde em Nova Yorque (145.43 dólares). O impacto do valor do dólar no preço do petróleo levou o ministro iraninano do petróleo, Gholam Hossein Nozari, no encerramento de uma conferência sobre petróleo que teve lugar em Madrid, a argumentar que a substituição do dólar nas transacções internacionais por uma moeda mais forte [como o euro] teria "um efeito estabilizador nos mercados e acabaria com a volatilidade". (OJE, 4 de Julho de 2008).

O valor do dólar afecta também o preço de outras mercadorias. Os preços do arroz, milho, trigo atingiram recordes este ano, e 19 mercadorias subiram de preço 29% no início deste ano, a maior subida verificada desde 1973.

A perda de confiança no dólar tem também conduzido a uma redução nas reservas cambiais globais: constituem 63% das reservas, uma descida desde 71% quando Bush assumiu a presidência. Os EUA dependem da importação de capital para financiar a sua dívida de 9.5 biliões de dólares (os biliões europeus, isto é os trillions nos EUA, 10 elevado a 12), que se acumulou dos 5.7 biliões em 2001. A crise financeira, agravada pela explosão da bolha de crédito immobiliário, acumula-se assim à recessão económica.

Militarmente, a situação no Iraque e no Afeganistão arrasta-se. No Iraque, a "aliança" foi-se desfazendo e as forças militares e mercenárias dos EUA aguentam praticamente sozinhos a resistência do povo Iraquiano. E ainda não apreenderam qualquer lição. Tendo instigado desde o início hostilidades entre as várias etnias, chegou recentemente à atenção do Congresso que a Departamento de Estado da Administração Bush facilitou um contrato directo entre a companhia petrolífera do Texas, a Hunt Oil, e o governo regional do Kurdistão. Isto à revelia do governo central do Iraque, na ausência da aprovação da lei nacional dos hidrocarbonetos, e apesar da publicamente a Administração Bush condenar tais contratos. O que tem prosseguido abertamente é a "assistência técnica" à elaboração de contratos e da lei dos hidrocarbonetos. (ver)

No Afeganistão, a situação tem vindo a piorar militarmente, com os EUA, seus aliados, e o seu governo subserviente, a perderem controlo de vastas extensões do país. O passado mês de Junho foi o pior mês em termos de fatalidades de combate (28) das tropas dos EUA desde o início da guerra, em 2001. O presidente da Junta de Chefes Militares (Chairman of the Joint Chiefs of Staff), o Almirante Michael Mullen, caracterizou recentemente a situação no Afeganistão como uma economia de campanha de força, para a qual são necessárias mais tropas para manter controlo territorial. Mas esse reforço de tropas está dependente de uma redução de tropas no Iraque, esperando que se possa efectuar a transferência de tropas em 2009. (ver)

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