quinta-feira, novembro 06, 2008

Vitória de Obama

A vitória de Barack Obama e do Partido Democrata, que irá assumir a maioria no Senado e Casa de Representantes, representa uma profunda alternância na representação partidária na Casa Branca e Congresso.

Houve um aumento significativo na afluência às urnas,
atingindo-se umas das percentagens mais altas em eleições federais (números provisórios apontam para valores entre 61-64% dos eleitores), em larga medida devido ao registo de novos eleitores e grande afluência de apoiantes de Obama. Obama logrou transmitir competência, confiança e esperança, num contexto de grandes dificuldades económicas e sociais. O espírito positivo que conseguiu transmitir a grandes camadas da população dos US, em torno da ideia de mudança, foi notável.

Tendo aturado quase oito anos de uma Casa Branca com um fantoche disléxico, ignorante e maniqueísta, manipulado por figuras sinistras, belicistas, e serventuário do mega-capital, dá gosto ver eleito uma figura articulada, com profundo conhecimento legal, em particular da constituição, com passado de activista comunitário (não apenas de membro do aparelho partidário), com um espírito de abertura. E claro, há o inescapável facto de se ter eleito um africano-americano apenas 44 anos depois da passagem da Lei dos Direitos Civis, que pôs fim à segregação racial no ensino, locais públicos e emprego.

Obama terá agora condições no Congresso para tomar medidas de folgo (embora no Senado os Democratas não venham a obter a maioria de 60% que lhes permitiria evitar manobras de assembleia que previnem a votação de legislação - filibuster). Irá enfrentar primeiramente a economia doméstica, que enfrenta uma profunda crise no sector produtivo, com perspectivas de desemprego crescente e inflação, e a crise financeira histórica. Obama apoiou o pacote de 700 mil milhões de dólares, proposto por Bush, para apoiar as instituições financeiras. Fê-lo no contexto da campanha eleitoral, mas tê-lo-á feito também por convicção, e por ter vindo a receber grandes apoios por parte do sector financeiro.

Isto é, embora o entusiasmo em torno da vitória do Obama tenha mérito, embora ele constitua uma colossal melhoria face a Bush, tendo mobilizado a participação de pessoas na sua campanha, dado esperança numa mudança, há que não exagerar as expectativas. Obama tem por detrás interesses que não se distinguem qualitativamente dos interesses doutros presidentes. Terá pressões das forças armadas, e das cliques belicistas do partido democrata. Enfrentará grandes dificuldades em encontrar soluções. Resta saber se os progressistas estaunidenses se vão manter mobilizados, para pressionar Obama a manter algumas das suas promessas (e algumas coisas que ele disse, mas depois contradisse).

A nível internacional, há algumas promessas em particular que serão de interesse acompanhar:
  • Reduzir as emissões de carbono dos EUA em 80% até 2050 e ter um papel positivo na negociação de um novo tratado que substituirá o Protocolo de Quito que agora caduca;
  • Retirar todas as tropas de combate do Iraque em 16 meses e não manter qualquer base militar no país, apenas forças residuais para treino das forças Iraquianas e missões de contra-terrorismo
  • Estabelecer o objectivo claro de eliminação de armas nuclear no mundo
  • Fechar o campo de detenção em Guantanamo
  • Duplicar o apoio do EUA para reduzir a probreza extrema até 2015 e acelerar a luta contra o VIH/SIDA, tuberculose e malária
  • Abrir laços diplomáticos com países como o Irão e a Síria, procurando soluções pacíficas para as tensões
  • Despolitizar o ramo de inteligência militar (a DIA) por forma a evitar a repetição do tipo de manipulação que conduziu à invasão do Iraque
  • Negociar apenas acordos comerciais que contenham protecções laborais e ambientais
  • Investir $150 mil milhões durante 10 anos para desenvolver o uso de energias renováveis e atingir a meta de 1 milhão de carros electricos nas estradas até 2015.
A ver então se "Eles podem".

2 comentários:

Pedro Penilo disse...

Ora aqui está uma análise bem feita! Um abraço.

Anônimo disse...

http://xatoo.blogspot.com/
Ora veja,as 'personalidades' no governo....
Sábado, Novembro 08, 2008
change (II)

Cui bono Obama?

“a aparição de Obama perante a AIPAC foi um espectáculo que “bateu todos os recordes de obsequiosidade e adulação” - (Uri Avnery, escritor e pacifista israelita


Desculpe-me esta provocação, mas com um nome desses...