domingo, junho 14, 2009

Molho Picante

O sentimento esteve um pouco presente na Soeiro, na noite das eleições. Tem estado presente em algumas reuniões em que tenho participado, e tenho-a ouvido em várias conversas. Um sabor agridoce, uma espinha na garganta, aquela sensação de perder uma final por, depois de 120 minutos de jogo, se falhar um penalti. Pois não há qualquer razão para isso, camaradas. A CDU:
  • cresceu em número de votos
  • manteve o número de deputados (num contexto de redução do número de deputados portugueses)
  • Ficou a 2287 votos de ter eleito um terceiro deputado. Sem desprezar o PCTP-MRPP, é bem conhecido o "erro" de muitos eleitores da CDU nesta força representada por uma foice e martelo. Como o Anónimo Séc. XXI refere, bastaria que 1/18 desses votos (pouco mais de 43 mil) tivessem sido erros de eleitores desejando votar na CDU, para que esta pudesse ter o número de votos necessários para o terceiro deputado.
  • Ganhou a maioria em vários distritos e conselhos, tendo alcançado crescimentos em zonas historicamente desfavoráveis à CDU.
  • Não tendo sido a terceira força mais votada, teve um resultado de dois dígitos. Não é a primeira vez que as coligações que integram o PCP fica em quarto. Já aconteceu antes. Ter tido a votação expressiva que teve, face às dificuldades atravessadas nos últimos vinte anos, é muito significativo.
  • Se formos comparar com os resultados nos restantes países europeus, onde houve uma viragem geral à direita, em Portugal houve um considerável reforço da esquerda, incluindo da CDU, significando um passo significativo na ruptura com a política de direita pela qual o PCP se tem batalhado. A nível Europeu, merece assinar os importantes resultados do Partido Comunista da República Checa (com 15.3% dos votos, 4 deputados), os 34% do AKEL no Chipe (em segundo lugar, mas com 34,9%, 2 mandatos), resultados que contrastam com os parcos resultados do Die Linke na Alemanha (7.5%, 8 deputados), da Frente Anti-Anticapitalista, que integra a Refundação Comunista (apenas 3.38%, 0 deputados), da Esquerda Unida (3.73%, 1 deputado). Mesmo o forte Partido Comunista da Grécia (KKE) obteve apenas 8.8% dos votos (2 deputados).
Isto é camaradas, face aos objectivos traçados e aos resultados conseguidos, não só eleitorais como em termos de mobilização durante a campanha, temos razões para estar, sem reservas, contentes com os resultados. Se querem o sabor de um molho, então escolham o picante, pois este foi apenas uma etápa, seguem-se outras, e a ofensiva do capital ainda aí está, chamando-nos para a luta. Se ficaram com algo encravado na garaganta, comam um pouco de pão, tussam, e respirem fundo, pois há que seguir em frente. Antes dos resultados assumimos as eleições europeias como apenas uma etápa num processo que não era meramente eleitoral, mas que tinha objectivos políticos mais profundos. Vamos a ele. Não foi uma final de campeonato da Liga, foi apenas uma jornada. Estamos já noutra. E há que erguer as nossas bandeiras bem alto, com confiança sentida. Se nós não a sentimos, se nos deixamos abalar perante uma insignificância, face ao quadro geral, com vamos projectar essa confiança nos portugueses. Há razões que explicam a subida do voto. Estou certo que o seu eleitorado é mais circunstancial que a solidez do voto na CDU.

Vamos à luta, com toda a confiança, orgulho no nosso projecto, e esperança de transformação que nos caracteriza.

Um comentário:

José Dourado disse...

Estou de acordo com o comentário. Sou do BE, mas antes sou de esquerda. Ou seja, estou muitíssimo satisfeito com os 21,4% atingidos pelas duas principais forças da esquerda portuguesa.
Circunstancial ou não a votação atingida pelo BE (uma boa parte dela é-o, mas não toda), a verdade é que qualquer cidadão que luta por transformar a sociedade só pode ficar feliz por estes resultados globais à esquerda, independentemente de quem ficou em terceiro lugar.
Confiemos, pois, nos próximos combates, para ultrapassar as etapas que aí vêm.