
Tudo isto a propósito de algum reconhecimento também da minha própria ignorância. Enquanto cientista, sou familiar com os grandes pensadores e cientistas europeus, desde os gregos (Platão, Aristóteles, Arquimedes) até cientistas como Copérnico, Galileu, Newton. Mas que nomes de pensadores e cientistas de outras regiões conheço? Cruzei há meses com o nome de Abu Rayan Biruni, um persa residindo no que é agora a região ocupada do Afeganistão, e que viveu entre 973 e 1048.
Vejam só a abrangência e alcance do seu conhecimento e trabalho, tocando em áreas que na cultura ocidental surgiram só muitos séculos depois. Foi físico, antropólogo e sociólogo comparativo, astrónomo, um crítico da alquimia e astrologia, um historiador, um geógrafo e geólogo, um matemático, um farmacêutico e psicólogo, um teólogo e filósofo Islâmico. Estudou a cultura da Índia, sendo o fundador da Indologia. Foi um dos primeiros cientistas a reflectir sobre o método científico e por introduzir o método experimental na mecânica, mineralogia e psicologia.
Ao longo da sua vida publicou 146 obras, incluindo 25 livros sobre astronomia, 4 sobre astrolábios, 23 sobre astrologia, 5 sobre cronologia, 2 na medição do tempo, 9 sobre geografia, 10 sobre mapeamento, 15 sobre matemática, incluindo aritmética (8), geometria (5) e trigonometria (2), 2 livros sobre mecânica, 2 sobre medicina e farmacologia, 1 sobre meteorologia, 2 sobre mineralogia e joias, 4 sobre história, 2 sobre a Índia, 3 sobre religião e filosofia, 2 livros sobre magia, e 16 obras literárias. Apenas 22 obras sobreviveram, e só 13 estão publicadas.
Não será pois de surpreender que Georges Sarton, o pai da moderna história da ciência, descreva Birun como "um dos grandes cientistas do Islão, e um dos maiores de todos os tempos", ou que Abdelhamid Sabra o aponte como "uma das grandes mentes científicas da história".
É sem dúvida um nome que convém conhecer e reconhecer. Mas que me compele (e penso nos deve compelir a todos) a aprender a história (universal ou da ciência) também através dos olhos de historiadores de outras regiões. Creio que isso não só nos traz uma maior apreciação dessas culturas e do alcance universal das populações humanas, como nos compele, enquanto europeus, a uma postura de maior humildade face a outras civilizações.
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