quinta-feira, janeiro 28, 2010

Shalom



Presos de Auschwitz abraçam os libertadores soviéticos


Comemoram-se nestes dias o 65º aniversário da libertação dos presos do campo de extermínio de Auschwitz pelas tropas Soviéticas que avançavam para Oeste, fazendo recuar o exército Nazi em declínio militar. Face à intensa e longa campanha de revisão história sobre a Segunda Guerra Mundial, sinto que devo sublinhar que esta libertação foi possível pelo Exército Vermelho, aquele que objectivamente derrotou militarmente o regime fascista de Hitler, à custa de grandes sacrifícios (a URSS perdeu 20 milhões de pessoas na Guerra). Só em Hollywood é que os EUA e os Ingleses sobressaem como os grandes vencedores, com grande importância dada ao tardio desembarque na Normandia (D-day).

Há outro mito que convém esclarecer: a de que os presos de Auschwitz não resistiram durante a sua captura. Caso esse fosse o caso, também não seria causa de grande admiração. Dadas as condições a que eram sujeitos os detidos (o medo, a fome, a doença), tão bem descritas em inúmeros comoventes relatos pessoais de sobreviventes ajudam a entender como a estratégia de desumanização cientificamente orquestrada pelos seus captores nazis, criaram condições onde a solidariedade entre os presos era difícil, em que cada um, reduzido a uma condição animalesca, fazia o que podia pela mera sobrevivência até o dia seguinte. Dia que poderia bem ter na agenda a ida para os fornos.

Apesar disso, muitos resistiram sobre diferentes formas. Há que ter nesta instância um entendimento lato de resistência. Manter esperança e fé no ser humano foi uma forma de resistência espiritual pessoal. Atirar-se aos arames farpados electrificados, tomando para si a escolha e modo da sua morte, era uma forma de resistência. Mas houve também resistências organizadas, das quais destaco a acção de uma equipa de Sonderkommando (Unidades Especiais). Estas equipas de presos eram forçados a ajudar os Alemães a limpar os crematórios. Devido ao seu conhecimento do modo e taxa de mortandade nos campos, eram mantidas isoladas dos restantes presos. Geralmente tinham um tempo de vida de apenas alguns meses. A primeira tarefa de um Sonderkommando era limpar os restos do Sonderkommando precedente.

Em Outubro de 1944, a resistência do campo informou o então Sonderkommando que o seu assassínio estava planeado para o dia 7. Cientes do seu futuro, atracaram os SS e kapos com machados, facas e granadas de fabrico próprio, matando 3 SS que foram enfiados vivos para dentro do crematório, tendo depois feito explodir o Crematório IV (Birkenau, parte do complexo de Auschwitz 5 crematórios). A confusão permitiu a fuga de alguns presos, e levou a um levantamento geral. Alguns foram recapturados no próprio dia. Dos que não foram logo abatidos durante o levantamento, 200 foram forçados a despir-se, deitar-se virados para o chão, e baleados na nuca. Um total de 451 Sonderkommando foram mortos nesse dia. Mas não sem reconquistarem a sua liberdade espiritual, resistirem e atacarem os seus opressores. A destruição do Crematório IV salvou incontáveis presos. Milagrosamente, testemunhos dos Sonderkommando sobreviram e estão publicados («Des voix sous la cendre. Manuscrit des Sonderkommandos d'Auschwitz-Birkenau»).

Tive oportunidade de visitar o complexo de Auschwitz-Birkenau, durante uma visita à Polónia no versão de 2006 (ver foto álbum). A primeira unidade, mais perto da população polaca de Oświęcim (re-denominada Auschwitz durante a ocupação Alemã), é a que possui o portão metálico com a frase «O trabalho libertar-te-á». É um campo de vários edifícios de tijolo, agora convertido num museu emocionante. Diversas exposições explicam o tratamento a que foram submetidos o judeus de diferentes partes da Europa, os cristãos, os activistas políticos, os Roma, os homossexuais, descrevem as experiências médicas ali conduzidas, e expõem os montes de malas, utensílios, cabelo, dentes etc que eram roubados e extraídos dos presos. Os alemães eram tão meticulosos no aproveitamento dos seus presos como nas aldeias se aproveitam todos os pedaços de uma vaca. É possível também ver e entrar no único câmara de gás que os Alemães não conseguiram destruir antes da sua retirada. O campo de Birkenau, a alguns quilometros de Oświęcim é também visitável. Aqui encontramos o arco de tijolo por onde entrava o comboio para descarregar os presos. Era aqui que se encontravam grandes parte deles, em barracas de madeira, grande parte delas já destruídas, permanecendo apenas as colunas das lareiras de cada barraca. Algumas foram reconstruídas para fins museológicos. É impressionante ver em presença os beliches de 3 andares onde se amontavam os presos, as condições sanitárias (se é que merecem essa designação). Mas o mais impressionante é a dimensão do campo, pontuado pelas chaminés de tijolo. Visitei o campo no verão, pelo que estava um dia acalorado de céu azul. Havia relva pelo campo. Um tremendo contraste com a lama sobre a qual caminhavam os presos, e o frio que os presos sofreram nos invernos polacos. Ainda assim, há quem negue o Holocausto.

Um comentário:

Anônimo disse...

E igualem o comunismo ao nazismo,controlo extremo da máquina de estado ao serviço das grandes fortunas/corporações à PROCURA DE 'NICHOS DE MERCADO'...