Na linguagem neoliberal "flexibilidade" e "mobilidade" são entendidos como termos positivos, ter 15 (ou mais) locais/postos de trabalho ao longo da vida, mudar de cidade ou país várias vezes são valores necessários para uma economia dinâmica. Para um trabalhador estes termos traduzem-se como "precariedade". Para um trabalhador, ter contratos a termo, contratos precários, significa períodos de desemprego e subemprego, a necessidade de deslocação, a constante presença da incerteza e instabilidade, a não garantia de progressão ao longo da vida, e (mesmo com formação contínua) a perspectiva de chegar rapidamente a uma idade sem empregabilidade. Numa economia neoliberal, os vínculos laborais, os contratos por termo indeterminado são vistos como entraves. Para os trabalhadores são vistos como factores de estabilidade individual e familiar.
Os números oficiais indicam um aumento de 30% na taxa de desemprego, entre Dezembro de 2008 e 2009, que atingiu particularmente os trabalhadores com vínculo e teve menos impacto sobre os trabalhadores precários. Isto tem sido aproveitado para argumentar que a precariedade é boa, menos sujeita ao desemprego. Mas este argumento é falacioso. A verdade é que temos de ter em conta tanto a criação como a destruição de postos de trabalho. Os trabalhadores com vínculo têm sido sujeitos a violentos ataques e despedimentos. À destruição destes postos de trabalho correspondeu uma escassa (ou quase nula) criação de novos vínculos. Por outro lado, os trabalho precário têm aumentado. Mas a repartição da taxa de desemprego não significa que estes não sejam vítimas do desemprego. Significa que tem havido uma transferência de postos de trabalho com vínculo para trabalho precário, e que os trabalhadores com vínculo (muitos na casa dos 40-50 anos de idade) não têm conseguido trabalho.
Interpretar a maior incidência do desemprego nos trabalhadores com vínculo como expressão de que o trabalho precário é "melhor" porque menos sujeito a desemprego é uma obscenidade.
Igualmente obsceno é exigir que os desempregados tenham de provar que procuram emprego activamente, tendo eles por vezes de se dirigir ao patrão que não os emprega e pagarem 5€ para apresentar uma declaração de como tentaram procurar emprego. Dinheiro que lhes sai do subsídio de desemprego, que já de si é uma miséria.
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
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