Outro exemplo curioso da evolução da linguagem é a palavra «simpósio». O termo é hoje usado sobretudo num contexto académico, em que vários interlocutores que se dirigem a uma audiência (estritamente, sem o formato de pergunta-resposta). Distingue-se de um «colóquio» - mais apropriado para uma apresentação individual - ou de uma mesa-redonda - em que os vários interlocutores debatem entre si perante um público (ou. no caso das mesas redondas na televisão. tentam gritar por encima dos outros, procurando ganhar o debate não por via do argumento mas dos decibéis, tendo um moderador que é um insulto ao nome pois é tão frequentemente enviesado).
Mas voltando a «simpósio». A palavra provém do grego 'sin' (com) e 'posis' (beber), isto é, beber juntos. Na tradição helénica, aplicava-se tanto a um debate como a um encontro para confraternizar, cantar, jogar, por vezes com a presença de dançarinas ou prostitutas. Um bacanal. Tinha é de haver bebida e companhia. O Bairro Alto num sábado à noite é pois um grande simpósio. À esquerda, está um desenho em vaso de um simpósio hetearae, i.e., com a presença respeitada de uma cortesã culta, que participava no simpósio juntamente com os homens.
Com os trabalhos de Platão e Xenofonte, intitulados Simpósio, o termo passou a ser usado no sentido mais estrito de conferência para discussão de temas mais eruditos ou académicos. Mas quem já participou numa conferência científica, sabe que depois das sessões da manhã e tarde se segue um simpósio na tradição antiga.
Publicado no blog «Viver a Ciência»
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