"A maioria dos que estão aqui sabem que há bastante tempo que o país se encontrava numa situação económica insustentável (...) bastava ter presente a evolução de três variáveis: o desequilíbrio das contas externas, a dimensão da dívida externa e o pagamento ao exterior de juros e outros rendimentos. Analisando estas três variáveis nós sabíamos de certeza que chegaria o dia em que os mercados internacionais exprimiriam dúvidas quanto à capacidade de Portugal gerar riqueza para cumprir os compromissos assumidos no passado"Caiu-lhe a boca para a verdade. Não só admitiu que a situação é grave, como que as causas não são recentes. Aliás, com um pouco mais de honestidade, até faria meia culpa pelo desequilíbrios entre importações e exportações, já que teve a sua mãozinha na destruição do aparelho produtivo nacional.
o país "numa situação económica insustentável". [ver]
Em abono da verdade, o seu tom não foi totalmente negativo. Face a jovens empreendedores afirmou existir "uma nova geração de empreendedores" no país que "não se resignam" e devem ser apoiados, para que não se vejam forçados a "partir para outras partes do mundo". [ver] E como todos sabemos, a juventude é o futuro.
Acho curioso que estas confissões de Cavaco tenham suscitado declarações de ex-presidentes e candidatos à presidência.
Para Mário Soares um Presidente da República deve "dar sugestões úteis e construtivas" e não "denunciar uma situação" que as pessoas sentem em casa. [ver]. Talvez se Cavaco desse um passeio em cima de um elefante animasse a malta. Pessoalmente, prefiro um presidente que fale a verdade, e prefiro esta versão de Cavaco à sua imitação de avestruz, apelando à calma e serenidade.
Manuel Alegre, sobre um fundo escuro e tenebroso, num jantar em Setúbal, disse que ao "Presidente da República cabe, não palavras de depressão que desmobilizem os portugueses, mas uma palavra de confiança" (...) Diz a SIC: «Reconhecendo que o país está a atravessar momentos difíceis devido à crise provocada pelo sector financeiro, Manuel Alegre defendeu que é preciso encontrar outras soluções para a crise, que não as que estão a ser defendidas pelos defensores do neoliberalismo. » Mas Cavaco não poderia dar soluções alternativas ao neoliberalismo, pois com um ou outro tempero, ele é um dos seus defensores, à semelhança do Primeiro-Ministro Sócrates.
Este recusou-se a comentar o discurso de Cavaco alegando desconhecê-lo (sinal de demência), mas referiu que "muitas vezes se sente sozinho a puxar pela confiança e as energias do país". [ver] Lá está o Zé a fazer um dos seus papeis preferidos: o de vítima misturado com Hércules. Então os seus ministros, Zé, não ajudam a puxar a carroça? O Passos Coelho não tem dado uma mãozinha no PEC? O patronato não tem aplaudido os seus ataques aos direitos laborais? "O que o país precisa de saber é que nos primeiros três meses o crescimento da economia portuguesa foi muito positivo, que nos primeiros cinco meses a nossa execução orçamental é muito encorajadora [pudera com a promessa de privatizações e congelamentos salariais] e quer deveremos deixar uma palavra de confiança a todos os empresários e a todos os agentes económicos" (...) "Não gostaria de comentar as palavras do Presidente da República, eu digo as minhas. O que o país precisa é de confiança. Não acentuem o negativismo".
É preciso dizer a verdade, mesmo que seja negativa. Isso não é negativismo, é enfrentar a realidade. Claro que é preciso também palavras de confiança, mas o Sócrates não tem dito nada de inspirador. A evocação de indicadores económicos de curto prazo não é nada encorajador. O país está mal, e não se perspectiva nenhuma solução dentro dos moldes de pensamento da direita que venha a orientar estruturalmente o país num rumo de recuperação sustentável. Para oferecer confiança, é preciso um outro rumo.
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