terça-feira, março 01, 2011

Situação no Mediterrâneo

Tem sido muito revelador acompanhar a administração e a comunicação social Estadunidense ao longo destas semanas de movimentações populares no norte de África e um pouco por todo o Mundo Árabe. Os comentários e atenção subiram de tom com os eventos no Egipto. Obama viu-se entre a espada e a parede, entre apoiar o velho aliado dos EUA (Mubarak) e seu regime de 30 anos que recebeu biliões de apoio Estadunidense, em particular para armamento; e aquilo que obviamente era um movimento popular para derrubar um decrépito ditador. Fartou-se de patinar e hesitar nas suas afirmações públicas. Mais claro foram os programas televisivos dos crânios falantes conservadores que só cospem ódio. Saltaram logo do tema do Mubarak e da legitimidade e cariz popular dos protestos, para especularem sobre os resultados de umas eleições democráticas, que na sua perspectiva dariam a vitória a extremistas e fundamentalistas e portanto conduziriam o processo ao surgimento de uma nação hostil (aos interesses dos EUA, claro). Comentários que revelavam um profundo paternalismo para com os Egípcios. Claro que os que protestavam sabiam muito bem o que queriam, e as sondagens não davam qualquer indicação de uma vitória eleitoral da Irmandade Islâmica. Vi algumas entrevistas a manifestantes, por parte de jornalistas dos EUA, que em resposta a estas especulações respondiam inteligentemente e apontavam os problemas com a democracia dos EUA.

Ora neste período, a NATO decide conduzir "exercícios" no Mediterrâneo, com 21 navios de 11 países, incluindo um submarino e 2 fragatas Portuguesas. Exercícios ?! Treinos ?! Não brinquem com as palavras. Trata-se claramente do posicionamento estratégico de forças militares para poderem rapidamente intervir a favor dos interesses dos EUA e EU. E lá está Portugal, com um dos seus novos submarinos, a participar nas manobras, que vêm demonstrar na prática a estratégia de domínio global da NATO.

É óbvio que a frota da NATO não está em formação. E não é neutra. Leiam-se as afirmações de Hillary Clinton, Secretária de Estado dos EUA, que publicamente considerou "urgente" a retirada de Kadhafi do poder. Até a Itália, aliado de longa data da Líbia, veio pela voz do seu ministro de política estrangeira, Franco Frattini, apelar à saída de Khadafi, conduzindo a UE a considerar um embargo à Líbia. Esquecido está o período de graça de Khadafi após o 11 de Setembro, após o qual assistiu no combate ao Al-Qeda e admitiu ser responsável pelo atentado na Escócia, abrindo o bolso a compensação monetária.

Não sei se a acusação de Kadafi que os protestos são fomentados pelo Al-Qeda. É um modus operandi bastante distinto dos ataques pontuais e sincronizados a que esta organização nos vem habituando, o que me deixa algumas dúvidas sobre a legitimidade da acusação. Pode ser simplesmente uma forma de Kadhafi procurar ganhar o apoio do Ocidente. A ser verdade, seria mais uma evidência do realpolitik dos EUA, em que um inimigo do inimigo se transforma num amigo do peito. O certo é que o "grande bastião da democracia", nascido de uma revolução militar, se sente desconfortável com a emergência de democracias que podem conduzir à eleição de líderes hostis aos seus interesses. Sobretudo em países que controlam recursos de hidrocarbonetos. Veja-se a postura dos EUA face à Venezuela e Equador. Os eventos no Egipto e na Líbia, sobretudo, já se fazem sentir no mercado de petróleo com a subida do seu preço. Facto que afecta as previsões de orçamento num país dependente da importação de energia, como Portugal.

Seja qual for a fonte e motivação dos manifestantes e manobras militares na Líbia, trata-se de um processo interno, não cabendo a intervenção da NATO. Um ataque ou invasão da Líbia por parte da NATO não é descabido. David Cameron, primeiro ministro Britânico, que declarou que medidas militares não devem ser excluídas e que as forças Britânicas alinhariam na manutenção de uma zona de restrição área sobre o território soberano da Líbia, de forma a impedir ataques (ou defesas) aéreas do governo sobre territórios ocupados pela oposição.

Mesmo no caso dos estrangeiros (por vezes erroneamente referidos como refugiados) que procuram fugir aos conflitos, deverá ser as NU a lidar com a sua extracção. No processo político-militar, no actual contexto, uma intervenção estrangeira só virá piorar a situação dos interesses dos Líbios. Estes são os que estão verdadeiramente em causa.

2 comentários:

Vtrain disse...

"interesses libaneses" libios?

Anônimo disse...

A.Levy,há 2 semanas atrás um 'sinhor' 'professor' que vai muito à tTV,especialista e q falou na Antena 1 dizia que só lá estaVA UM BARCO,(UM) e eu já sabia q lá estavam pelo menos 23 vasos de guerra e,não foi o KGB que mo disse,foram as noticias dos media de referencia(?).O sr.prof. mentiu com todas as suas dentolas(pq,parece mesmo com uma ratazana).Este pa´s é muito pequeno q estas vedetas se dão ao luxo de contar estórias q nunca são desacreditados.É a 'meritocracia' do Bell,um outro nome para aparatchiks infinitamente mais aparatchiks.Já agora glasnost e perestroika era bom para os outros mas,não em sociedades democráticas dos conselhos de administração...