quinta-feira, março 25, 2004

Milhões contra Bush nos EUA

Um ano depois do lançamento da campanha militar de «choque e assombro»[1] no Iraque, mais de 2 milhões de pessoas saíram à rua em mais de 575 cidades em 60 países pelo mundo exigindo paz, contra guerra e ocupação, e contra a política imperial dos EUA. Nos EUA, decorreram cerca de 300 manifestações em cidades e vilas, incluindo 50 mil pessoas em São Francisco, 20 mil em Los Angeles e 10 mil em Chicago[2]. Tive o prazer de vociferar o meu descontentamento com a política da administração Bush juntamente com mais de 100 mil pessoas na cidade de Nova Iorque.
Uma manifestação desta natureza tem um significado particular nesta cidade. Mais do que nenhuma outra cidade nos EUA, Nova Iorque constitui a consciência dos EUA neste período de guerra contra o terrorismo. Afinal, foi aqui que se deram os trágicos ataques de 11 de Setembro 2001, que chocaram o mundo, mas que aos olhos da administração Bush abriram as portas da oportunidade, parafraseando a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice [3].
Dois anos após os ataques, os EUA já haviam invadido e ocupado o Afeganistão e o Iraque e alargado a sua presença militar no mundo, incluindo a reinstalação de tropas militares nas Filipinas. Traço aqui estes laços, apesar da flagrante ausência de qualquer ligação entre Saddam Hussein e os ataques de 11 de Setembro, porque esta ligação foi explorada pela administração e continua a ser utilizada pelo Partido Republicano, com força renovada nos dias de campanha que decorrem. Muitos nova-iorquinos e familiares de falecidos nesse dia, ficam enfurecidos com o abuso da sua tragédia e como o seu sofrimento abriu as portas para mais sofrimento pelo mundo, em seu nome, mas sem a sua autorização.
As vozes e placares reflectiam essa solidariedade, clamando contra a ocupação do Iraque, contra a opressão do povo palestiniano, contra a intervenção americana na revolta na Haiti e expulsão do presidente legítimo, Aristide. O alvo principal do descontentamento era naturalmente o presidente (ilegítimo) dos EUA, Geroge W. Bush.
1 Shock and Awe.
2 Números de um dos grupos organizadores, United for Peace and Justice
3 «Esta dura realidade, tornada mais premente pelo 11 de Setembro, é muito importante para a orientação das nossas relações externas. Mas há outra verdade importante deste período: um terramoto da magnitude do 9/11 pode desviar a placa tectónica da política internacional. O sistema internacional está a dissolver-se desde o colapso do poder da União Soviética. Agora é possível – na verdade, é provável – que esta transição esteja a chegar ao fim. Se assim for, se o colapso da União Soviética e o 11 de Setembro trouxeram alterações à política internacional, este não só é um período de grande perigo, mas também de uma enorme oportunidade. Antes que o barro volte a secar, a América e os nossos amigos e aliados devem agir de modo a ganhar vantagem nestas novas oportunidades. Este é, então, um período semelhante à época entre 1945 e 1947, quando a liderança americana aumentou o número de estados livres e democráticos – Japão e Alemanha entre as grandes potências – para criar um novo equilíbrio de poder que favoreça a liberdade.» Declaração de Condoleezza Rice, Conselheira para a Segurança Nacional, em 29 de Abril de 2002.

Artigo publicado na Avante! Nº1582

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