Uma manifestação desta natureza tem um significado particular nesta cidade. Mais do que nenhuma outra cidade nos EUA, Nova Iorque constitui a consciência dos EUA neste período de guerra contra o terrorismo. Afinal, foi aqui que se deram os trágicos ataques de 11 de Setembro 2001, que chocaram o mundo, mas que aos olhos da administração Bush abriram as portas da oportunidade, parafraseando a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice [3].
Dois anos após os ataques, os EUA já haviam invadido e ocupado o Afeganistão e o Iraque e alargado a sua presença militar no mundo, incluindo a reinstalação de tropas militares nas Filipinas. Traço aqui estes laços, apesar da flagrante ausência de qualquer ligação entre Saddam Hussein e os ataques de 11 de Setembro, porque esta ligação foi explorada pela administração e continua a ser utilizada pelo Partido Republicano, com força renovada nos dias de campanha que decorrem. Muitos nova-iorquinos e familiares de falecidos nesse dia, ficam enfurecidos com o abuso da sua tragédia e como o seu sofrimento abriu as portas para mais sofrimento pelo mundo, em seu nome, mas sem a sua autorização.
As vozes e placares reflectiam essa solidariedade, clamando contra a ocupação do Iraque, contra a opressão do povo palestiniano, contra a intervenção americana na revolta na Haiti e expulsão do presidente legítimo, Aristide. O alvo principal do descontentamento era naturalmente o presidente (ilegítimo) dos EUA, Geroge W. Bush.
1 Shock and Awe.
2 Números de um dos grupos organizadores, United for Peace and Justice
3 «Esta dura realidade, tornada mais premente pelo 11 de Setembro, é muito importante para a orientação das nossas relações externas. Mas há outra verdade importante deste período: um terramoto da magnitude do 9/11 pode desviar a placa tectónica da política internacional. O sistema internacional está a dissolver-se desde o colapso do poder da União Soviética. Agora é possível – na verdade, é provável – que esta transição esteja a chegar ao fim. Se assim for, se o colapso da União Soviética e o 11 de Setembro trouxeram alterações à política internacional, este não só é um período de grande perigo, mas também de uma enorme oportunidade. Antes que o barro volte a secar, a América e os nossos amigos e aliados devem agir de modo a ganhar vantagem nestas novas oportunidades. Este é, então, um período semelhante à época entre 1945 e 1947, quando a liderança americana aumentou o número de estados livres e democráticos – Japão e Alemanha entre as grandes potências – para criar um novo equilíbrio de poder que favoreça a liberdade.» Declaração de Condoleezza Rice, Conselheira para a Segurança Nacional, em 29 de Abril de 2002.
Artigo publicado na Avante! Nº1582
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