A segunda foto significativa, publicada no Seatle Times de 21 de Abril, mostrava caixões de soldados mortos no Iraque, cobertos por bandeiras dos EUA, a bordo de um avião transportador num aeroporto no Kuwait. É política do Pentágono proibir fotos desta natureza. A explicação oficial é quererem proteger a privacidade das famílias dos falecidos, mas em geral as famílias sentem algum conforto em saber que o sacrifício dos seus membros recebe alguma atenção. A foto foi tirada por Tami Silicio, de novo um empregado de uma firma privada, Maytag Aircraft Corp, contratada para transporte aéreo. Silicio foi despedida da firma por ter violado o regulamento governamental e as regras da companhia, segundo o presidente da Maytag.
O caso mais recente de forte impacto de fotografias, e o que tem provocado maiores repercussões políticas, é o da série de fotos de tortura e sadismo tiradas pela unidade de reservas na prisão de Abu Gharib, reveladas no programa '60 Minutos' da cadeia CBS. O Pentágono logrou adiar a emissão televisiva da reportagem por duas semanas, mas a CBS-news rompeu as cadeias de silêncio e emitiu a reportagem mostrando as fotografias com comentário bastante crítico, e uma entrevista com o Brigadeiro General Mark Kimmitt, director deputado das operações militares no Iraque, que atribuiu culpas à perda da cadeia de comando militar.
Quem vem prestando atenção sabe que isto não foi um caso isolado. A Cruz Vermelha, a Amnistia Internacional e outros grupos de direitos humanos têm vindo a dar voz às queixas iraquianas de prisões arbitrárias e abusos nas prisões há mais de um ano - no Iraque, e no Afeganistão. Críticas sobem de tomA indignação do mundo árabe às fotos foi previsível. O presidente Bush e o primeiro-ministro Tony Blair fizeram as obrigatórias declarações de condenação, com a adenda de que se tratava de actos de um grupo restrito de soldados e não reflectia os valores e acções da maioria dos militares. Os papagaios da direita queixam-se das críticas às acções dos soldados, reiterando que as condições são melhores do que durante o regime de Saddam, como se as acções de um regime totalitário pudessem ser comparadas na mesma escala com as de um regime dito democrático que se proclama libertador e defensor do valor da liberdade.
Mas a indignação do público nos EUA tem vindo a crescer, alargando-se ao sector republicano, que reconhece o enorme golpe que isto representa na reputação dos EUA no mundo árabe e no mundo, na segurança das forças militares no Iraque, e na guerra contra o terrorismo. Conservadores (moderados nos tempos que correm) como o colunista do New York Times, Thomas Friedman, pediram a demissão de Rumsfeld. A pressão pública e no Congresso sobre Rumsfeld foi tão forte que ele assumiu a responsabilidade pelos abusos cometidos, mas logo Bush afirmou que Rumsfeld não será demitido. As afirmações do presidente ficam aquém de um verdadeiro pedido de desculpa, faltando o reconhecimento de se estar perante um problema mais crónico e um compromisso de remodelação. Bush tenta distanciar-se destes acontecimentos, pois com 62% da população insatisfeita com o estado dos EUA e 55% de insatisfeitos com a situação no Iraque (segundo a sondagem Gallup, de 6 de Maio), não está em grande forma para a reeleição. Com a cadeia de comando obviamente fragilizada, com militares presentes no Iraque há mais tempo do que lhes havia sido prometido e alvos de ataques populares constantes, e com a presença de mercenários cujos actos criminosos não são cobertos por nenhuma jurisdição, é necessário algo mais do que a alteração da estrutura de ocupação. O que faz mesmo falta é que os EUA saiam de onde nunca deveriam ter entrado.
Artigo publicado no Avante! Nº1590
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