«Porta giratória» é a expressão usada para descrever o saltitar de pessoas entre postos de governo e empregos no sector privado que previamente regulavam. Dick Cheney, o actual vice-presidente, é um exemplo entre muitos. Cheney foi secretário de Defesa do primeiro presidente Bush. Durante este período, após o fim da Guerra Fria, supervisionou a redução do número de bases militares e do contingente de soldados para o número mais baixo desde a guerra da Correia. Em consequência, explodiu o mercado de firmas militares privadas que providenciam serviços geralmente efectuados pelas forças militares federais. Entre estas companhias está a Halliburton, uma firma petrolífera, mas cuja subsidiária Kellogg Brown & Root (KBR) tem uma longa história de contratos militares com o governo.
Em Agosto de 1992, enquanto Cheney era ainda secretário de Defesa, a Halliburton recebeu o contrato para implementar o Programa de Aumento de Logística Civil [Logistics Civil Augmentation Program (LOGCAP)]1. O contracto quinquenal colocou a Halliburton em posição privilegiada para ser contratada para apoiar operações militares em todo o mundo.
Em 1993, Cheney perdeu o lugar no governo quando Bush perdeu para Bill Clinton. Mas em 1995, sem nenhuma experiência empresarial, Cheney foi contratado como presidente [CEO] da Halliburton. Os seus contactos políticos facilitaram a recepção de empréstimos e seguros bancários, tal como 2,3 mil milhões de dólares de contratos com o governo. Durante o seu mandato, a Halliburton perdeu a renovação do lucrativo LOGCAP para a firma Dyncorp, o que não impediu que a firma recebesse 2 mil milhões de dólares para coordenar as operações logísticas nas bases da NATO na ex-Jugoslávia.
Em 2001, Bush júnior e Cheney entram na Casa Branca. Apesar do óbvio conflito de interesses, Cheney ainda detém acções da Halliburton no valor de 46 milhões de dólares e recebe anualmente 150 mil dólares de um pacote de compensação no valor de 26,4 milhões de dólares. Não foi surpreendente que quando chegou o momento de re-atribuir a LOGCAP, a Halliburton tenha sido favorecida, ganhando desta feita o contrato por dez anos.
Com Cheney na vice-presidência e uma «Guerra ao Terrorismo» sem fronteiras e sem limites, a Halliburton tem lucrado como nunca. Em Abril de 2002, a Halliburton chega ao Uzbequistão e ajuda a preparar a guerra ao Afeganistão. Hoje a KBR recebe 1.5 milhões de dólares por semana para alimentar, lavar a roupa e manter as bases dos EUA no Afeganistão.
A verdadeira bonança para a Halliburton começou porém com a guerra e ocupação do Iraque. Em Março de 2003, antes do início da guerra, a KBR recebeu, sem ter que competir com outras firmas, um contrato de 7 mil milhões de dólares, supostamente para extinguir eventuais incêndios nos poços de petróleo e outros deveres não especificados (que incluem dar à Halliburton controlo dos poços). Um correio electrónico recentemente chegado à imprensa, revela que Cheney teve um papel directo na oferta do contrato2. O Gabinete de Contabilidade Geral [General Accounting Office (GAO)], concluiu que o contrato não estava ao abrigo da LOGCAP e como tal deveria ter sido entregue em concurso público, mas tal foi impedido pelo gabinete do actual secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.
A Halliburton3 tem sido o principal beneficiário financeiro da guerra, tendo recebido 18 mil milhões de dólares em contratos para reconstruir a indústria petrolífera e servir as tropas dos EUA. Os contratos militares em 2003 representam um aumento de rendimento face ano anterior de 680%, três vezes superior ao do competidor mais próximo, a Bechtel.
Mas a história da Halliburton é mais do que apenas ter contactos privilegiados no governo e enormes lucros provenientes de guerra. A Halliburton vem estabelecendo um padrão de fraude tirando vantagem do seu quase monopólio na oferta de serviços, incluindo cobrar ao governo 61 milhões de dólares em excesso pelo fornecimento do petróleo, 25 milhões de dólares por refeições, e o triplo do preço por toalhas! A GAO concluiu que a Halliburton fez inúmeras cobranças em excesso, e o Departamento de Justiça está presentemente a investigar o caso. A França está a investigar alegações de suborno do governo da Nigéria por um executivo da Halliburton, para obtenção de contratos de exploração de gás natural entre 1995 e 1999, enquanto Cheney liderava a companhia4. Quinhentas pessoas protestaram em Houston, Texas durante a mais recente reunião de accionistas5. Mas entretanto, a Halliburton continua a lucrar. E o seu protector, e beneficiário, continua a puxar os cordelinhos a partir da Casa Branca.
1 - A Halliburton havia recebido, em 1990, 5 milhões de dólares para esboçar um plano do Programa
3 - Uma excelente fonte de informação sobre a Halliburton é a HalliburtonWatch
Artigo publicado no Avante Nº1594
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