Tive recentemente uma experiência de cinema fantástica. Fui ao fim da tarde ver "A Queda - Hitler e o fim do Terceiro Reich" e de seguida vi "Os últimos dias de Sophie Scholl": ambos filmes alemães retrantando diferentes aspectos da segunda guerra mundial. O primeiro, Der Untergang no original, dirigido por
Oliver Hirschbiegel, conta com actuações excelentes, em particular de Bruno Ganz, que apresenta um Hitler mais complexo e subtil, horivelmente mais humano, do que estamos habituados a confrontar. Expõe, claro, os mais tradicionais ataques de fúria, mas toca-nos com a sua fragilidade física e com os seus momentos de ternura em momentos de maior intimidade, quando assumia o papel de pessoa e não o de Fuhrer. Mas mesmo nestes momentos, não fosse uma pessoa esqueçer-se, vem ao de cima a sua ideologia rígida, racista, e reacionária.
Mas o filme trata os dias finais de Hitler e seu círculo nacional-socialista mais intímo: onde se destacam as locuras de Hitler na sala de estratégia, a sua constante preocupação com a traição (Santana Lopes teria muito em que se rever), o ambiente claustrofóbico no bunker, o caos e destruição em Berlim. Um dos episódios mais terríveis é certamente quando Frau Goebbels dá a um anastésico às suas 6 crianças, para mais tarde vir sem remorços dar, a cada uma, uma cápsula de veneno mortal. Momentos mais tarde, ela e Joseph Goebbels comenteriam suicídio. Os Goebbels não concebiam a vida após o nacional-socialismo, como consta no testamento político deixado por ambos.
Mas a figura central do filme é Traudl Junge, a jovem secretária de Hitler, cujas recordações serviram de base para este filme. Junge era, por admissão própria, uma jovem apolítica, que desconhecia bem o regime que escolheu servir. Confessou-se atraida por curiosidade pelo "pai" da nação. Talvez um dos momentos mais marcantes foi o curto depoimento documental da própria Junge, pouco antes da sua morte, já com 81 anos, confessando que ficou horrizada com os crimes cometidos pelo regime nazi, que só veio mais tarde a conheçer (credível, talvez, mas apenas porque é sabido que Hitler evitou ter o seu nome associado por escrito à solução final), mas que a sua juventude não desculpava o seu desconhecimento. Esta revelação inundou-a quando visitou o túmulo dedicado a Sophie Scholl, que com uma idade equivalente à de Taudle Junge foi presa em 1943 na mesma altura em que Junge entrava ao serviço de Hitler.
Sophie Scholl, seu irmão Hans Scholl, e outros membros da organização Rosa Branca, lutaram clandestinamete contra o regime nazi dentro de fronteiras alemãs, com os meios ao seu alcançe, e com grande determinação e convicção. É com essa confiança na sua superiodade moral perante os crimes nazis, que Scholl, uma rapariga de 22anos, enfrenta o seu interrogador policial, o seu juíz e a guilhotina, de queixo erguido, e sem hesitações. O filme acompanha os seus últimos dias, desde a noite preparando um manifesto, ao dia em que o distribui na Universidade de Munique, no seguimento do qual é pressa, e o interrogatório, julgamento sumário, e execução expedita que se seguem.Os irmãos Scholl foram criados numa atmosfera mais educada e combativa. Mas tal também não desresponsabiliza quem não tenha tido essa boa fortuna. A consciência política e moral de Sophie Scholl contrastam com a ingenuidade e seguidismo de Junge, e demostram a diferença entre os que fazem história e os que sobrevivem para apenas a contar. Sophie Scholl foi executada, juntamente com outros membros da Rosa Branca. Mas num epilogo que sublinha que a sua luta mereçeu a pena, são mostradas imagems de aviões descarregado milhões de cópias do mesmo manifesto dos Rosa Branca sobre cidades alemãs.
quinta-feira, junho 02, 2005
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