Regressei momentos atrás do Parque Eduardo VII, em Lisboa, onde elementos do Partido Nacional Renovador (PNR) se preparavam para uma manifestação. Desta feita, para afirmarem-se contra a adopção de crianças por casais homosexuais e à mistura contra a pedofilia, como se os dois temas estivessem interligados. Mais significativo que o tema desta manifestação em particular, trata-se de mais uma manifestação com razoável atenção dos media de uma organização fascista. Dirigi-me ao local pois enoja-me que uma tal organização exista, revolta-me que não tenha sido ilegalizada, e indigana-me que o Governo Civil tenha mais uma vez permitido uma manifestação desta organização, que está em ascendente de protagonismo e ameaça tornar-se mainstream. Não é meu desejo dar-lhe mais atenção do que mereçem, mas temo que sem uma forte oposição este movimento consiga ir recrutando membros e alargando o seu círculo, à semelhança de movimentos e partidos análogos noutros países da Europa. Já não se trata de um movimentozeco que se reune para ouvir música num recanto escondido. Cada vez mais tentam marcar agenda política e mostram-se à luz do dia. Só nos últimos meses estiveram no Martim Moniz "contra a imigração", e na Baixa Lisboeta homenageando Rudolf Hess como um apóstolo da Paz, esse mesmo Nazi condenado a prisão pertétua pelo Tribunal de Nuremberga.
Quando cheguei ao local, estavam já cerca de 50-70 manifestantes. Após apenas 5 minutos no topo do Parque Eduardo VII, onde exibi um cartaz que citava o artigo 46 da Constituição Portuguesa ("Não serão consentidas (...) organizações racistas ou que perfilhem a ideologia racista") fui solocitado por agentes à paisana da PSP que me afastasse do local para a minha própria segurança. Acabei por abandonar o local, mas não sei expressar-lhes que a opção de por em perigo a minha segurança era minha e assumida, e da ironia de ser quem defende a constituição e a democracia que tem de abandonar o local. Na verdade, em conversa com os agentes, era evidente que eles partilhavam a minha opinião, mas que a sua principal preocupação ser velar pela minha segurança física. Explicitamente, reconheciam que os manifestantes alí presentes constituiam um risco a iniciarem actos de violência. O aparato policial que já às 14h45 se espalhava pelo Parque e Marquês de Pombal reflectia isso mesmo.
O erro é ter sido concedida autorização à manifestação, e desta organização não ser combatida por via legal. Como o artigo da CP citado claramente anuncia, esta organização é inconstitucional. Que não haja dúvidas. Não é um pacato partido nacionalista. Basta consulta a sua página da internet, estudar a sua história, ler e ouvir o que proclamam os seus militantes, para não haver duvidas que se trata de um partido racista, xenófobo e fascista. A nosso democracia não oferece liberdade de associação indescriminadamente. Impõe restrições, que reflectem a nossa história, e correctamente não esquece os 48 anos de fascismo a que os portugueses estiveram sujeitos. Ironicamente, ainda esta semana, os militares portugueses foram impedidos de se manifestarem. Os militares portgueses, que despoltaram a revolução que nos libertou do fascismo, não podem usufruir do direito de se manifestarem (apesar da CP declarar no Art 45 que "a todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação."), mas os que perfilham de fascismo fazem-no. Reconheço, com sentido democrático, o direito de cada um ter a sua opinião mas não reconheço, tal como a constituição não o reconheçe, o direito a estes fascistas de constituirem um partido e desse partido ser reconhecido e poder convocar, organizar, e realizar eventos de promoção das suas ideias. Não foi para isso que o povo português sofreu e lutou contra o fascismo.
sábado, setembro 17, 2005
Fascismo em Portugal?
Posted by
André Levy
at
4:28 PM
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Labels:
Anti-PNR
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Um comentário:
Obrigada, André, por mais uma vez "dares o corpo ao manifesto", por uma causa que é de muitos. (Tem cuidado!) Este "post" fez-me pensar que em Portugal não há muita tradição de anti-manifestações. Será que, sem procurar o confronto, as pessoas não deviam mostrar mais a sua indignação perante organizações e demonstrações como esta?
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