terça-feira, maio 30, 2006

UE: vigilância de comunicações e retenção de dados

Uma recente proposta do congressista James Sensenbrenner do Wisconsin ameaça remodelar a protecção da privacidade na internet. A lei obrigaria os fornecedores de acesso à internet (ISP-Internet Service Providers) a manter arquivos do que os seus clientes fazem na internet. As ISP já mantem algum registo, mas de muito curto prazo, já que manter esta informação (o nosso IP -Internet Protocol-, que email enviamos, etc) é dispendioso. Fazem-no pois pode ser útil no caso de fraude em pagamentos, spam, etc.

O projecto de lei de Sensenbrenner, que poderá não ser votado devido aos protestos já levantados, alargaria o periodo de tempo durante o qual esta informação seria guardada, ou retida (data retention), durante alguns anos e ficaria ao critério do Procurador Geral determinar se essa informação deveria ser fornecida a investigadores, incluindo sítios visitados, correio electrónico enviado, quando tempo se esteve ligado, com quem se falou, as conversas instantâneas, enfim, tudo o que se tenha feito online.

Não fosse já haver um clima de desconfiança e um historial de abuso de poderes violando a privacidade individual, poderiamos aceitar que esta lei seria usada apenas para os fins alegados, investigações criminais de fuga de impostos, trafíco de droga, pornografia infantil. Mas todas as conversas serão retidas, antes de haver suspeita, e de pessoas que não estão ligadas a crimes. O que impede que as informações sejam usadas de forma injustificada, sem causa provável.

E aos que pensam que isto se trata de algo que só seria possível no outro lado do Atlântico: vejam a lei, aprovada em 2005, que já exige a retenção de dados na União Europeia.

segunda-feira, maio 29, 2006

Portugal e o Euro, a moeda, não o campeonato de Futebol

Enquanto muitos novos países membros da EU se esforçam por entrar na zona euro, uma sondagem revela que quase 64% das pessoas residentes nesse zona monetária preferiam reverter para os sistemas nacionais. A notícia onde li este resultado não revela se tal se deve a algum saudosismo pelas antigas notas. Suspeito que seja pelo efeito que o euro teve sobre o custo de vida e sobre as economias domésticas.

Em Janeiro de 2002, entrou em vigor o sistema monetário europeu em 12 países membros da UE: Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Irlanda, Luxemburgo, Austria, Holanda, Finlândia e Grécia. De fora ficavam, por decisão própria, a Dinamarca, Suécia e Grã-Bretanha.

Entre os países que desejam entrar para o euro está a Eslovénia (que deverá integrar em Janeiro de 2007). Malta, Chipre e a Latvia apontam entrar em 2008, a Eslováquia em 2009, e a Hungria e a República Checa 2010. A Lituânia e a Estónia ainda não satisfazem os critérios de integração, devido às suas inflacções elevadas. O Primeiro Ministro da Polónia, Kazimierz Marcinkiewicz, declarou que nesse ano o seu país está preparado a discutir a integração.

Alguns pequenos estados Europeus usam também o euro como sua moeda oficial: Mónaco, São Marino, Vaticano. Andorra, ainda que não tenha adoptado como moeda oficial, usa o eu como principal moedade de troca. E a província da Sérbia-Montenegro administada pelas NU adoptou o euro. Assinale-se ainda a possibilidade significativa do Irão vir a adoptar o euro como moeda de venda do seu petróleo, algo que o Iraque havia iniciado antes da sua invasão e ocupação pelos EUA - este câmbio colocaria enorme pessão financeira sobre o dólar e os EUA, que possuem uma dívida cambial sustentável apenas pela diplomacia das armas.

Para os membros do euro, mais importante que as novas notas e moedas, que o exercício de conversão, que aprender o valor do café, pão, etc numa nova moeda, foi o abdicar de um aspecto fundamental da soberania: a política economica monetária doméstica. Não se trata de uma questão de orgulho nacional, de patriotismo numismático. Sem podermos ajustar o valor da moeda com que vendemos e compramos produtos ao e do estrangeiro, foi-nos retirado um instrumento fundamental de contolo da nossa economia. Esse poder está agora nas mãos do Banco Central Europeu (BCE), que responde sobretudo às necessidades das economias maiores da EU, em particular da Alemanha, com graves consequências para as economias mais pequenas e em maiores apuros.

Portugal é um exemplo muito claro. Fala-se agora muito na necessidade de modernizar a nossa economia, de passarmos de um economia baseada em baixos salários para uma economia baseada na tecnologia, uma opção ajuizada parece-me. Usa-se como argumento o facto de com o modelo de baixos salários não podermos competir com a China e Europa de Leste, onde os salários são ainda mais baixos. Explica-se a nossa dificuldade em exportar produtos com recurso à nossa incapacidade de produzir mercadorias competitivas (leia-se mais baratas). Mas esta incapacidade é explicada apenas em função do modelo de baixos salários, quando a integração no Euro teve enorme importância. Como? Desde a entrada em vigor do euro, essa moeda já subiu 30% em valor, relativamente ao dólar dos EUA. Assim, só por este facto, o preço das mercadorias portuguesas vendidas fora da UE aumentaram 30% de preço. Por outro lado, os produtos importados de fora da EU, como da China, tornaram-se 30% mais baratos. Isto sem alteração do sistema de produção, do valor dos salários, benefícios sociais dos trabalhadores, seu nível de formação. Apenas por alteração das taxas de câmbio. As tais que Portugal já não pode ajustar em favor favor da sua balança comercial, cuja alteração é da competência exclusiva do BCE.

quarta-feira, maio 17, 2006

América Latina: Vaga de nacionalizações de petróleo

"O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, assim como o Pacto ds Direitos Económicos e Culturais, subscritos a 16 de Dezembro de 1996, determinam que: «Todos
os povos podem dispor livremente das suas riquezas e recursos naturais, sem prejuízo das obrigações que derivam da cooperação económica internacional baseada no princípio recíproco, assim como no direito internacional. Em nenhum caso poderá privar-se um povo povo dos seus próprios meios de subsistência.»" Este é um dos vários considerandos do Decreto Supremo 28071 editado pelo governo do presidente Boliviano Evo Morales, no dia 1º Maio deste ano, no qual são nacionalizados os hidrocarbonetos do país.

A nacionalização teve lugar no seguimento da cimeira em finais de Maio, na Ciudade de Habana, entre os governos de Cuba, Venezuela e Bolívia. Na Venezuela, Hugo Chávez , no início de Maio, aumentou os impostos sobre as petrolíferas que exploram a região da Faixa de Orinoco de 34 para 50%, medida que afecta as grandes multinacionais Chevron, Exxon-Mobil, Total e Statoil que aí operam. Adicionalmente dobrou para 33% os direitos de exploração que permitem a estas companhias operarem na Faixa que representa 1/6 do crude da Venezuela, 620 mil barris diários.

Ontem, o governo do Equador anunciou o cancelamento do contrato com a Occidental Petroleum dos EUA, a maior investidora estrangeira no país. Disse o Ministro da Energia, Ivan Rodriguez, que a decisão foi tomada em resposta a pressões da Petroecuador - petrolífera estatal - e da população, em particular as camadas mais pobres e grupos indígenas, que reclamavam a expulsão da Occidental. O Equador é o terceiro maior detentor de reservas de crude da América do Sul. Mas à semelhança da Bolívia, o maior efeitos destas medidas não serão verificadas no preço mundial do crude, já que ambos países representam uma pequena fração do petróleo mundial, mas nos benefícios da exploração deste recurso que em vez de fluir para os cofres das multinacionais passará a beneficiar a população que vive no sólo donde são extraídos.

domingo, maio 14, 2006

Irão: Máquina Zero, mais uma vez

Máquina Zero respondeu ao segundo post: Portanto, meu caro, você acha que o Irão é um país que caminha para a Democracia e que as críticas ao facto de ser uma teocracia assassina, sem Direitos Humanos, só dificultam esse caminho, certo? Você defende, portanto, o silêncio. Estou a vê-lo, se tivese nascido uns anos antes, a guuardar silêncio perante a inauguração do primeiro campo de concentração alemão. E você acha que é incorrecta a ideia, transmitida pelos media, de que o presidente iraniano afirma ou afirmou que Israel deve ser destruído, deve desaparecer do mapa, deve ser 'transferido' para aEuropa, etc, etc? Então, meu caro, confirma-se uma das teorias mais interessantes da Twilight Zone: eu e você vivemos em mundos paralelos, parecidos, mas diferentes...

Donde foi MZ tirar a ideia que eu defendo o silêncio, ou que defendo o péssimo historial de pena de morte do Irão? Se acho que o Irão caminha para uma democracia? Esta é uma pergunta carregada pois assume que o Irão não é já uma democracia. Responder passa por clarificar então quais os critérios para se consistir um democracia, e suspeito que as minhas diferem das de MZ: tem de ser laico, ter eleições multipartidárias, liberdade de dissensão?

De qualquer maneira, quer seja uma democracia em construção, uma democracia de modelo diferente da tradição europeia, ou não seja uma democracia, em parte alguma defendi que devemos defender os aspectos - pelo contrário afirmei claramente o contrário, daí que me pareça que MZ vive no mundo paralelo onde se saltam sobre os factos para tirar conclusões. Mais uma vez, posso criticar a ingerência imperial dos EUA, fundada em razões estratégias, a sua retórica de ameaça, e defender o direito do Irão desenvolver energia nuclear, sem com isto ter que defender Ahmedinejad 'tout cour'. Aliás tratar o Irão com justiça e respeito, fundado no direito internacional, fará mais por uma sociedade plural capaz de progresso, do que as ameaças e certamente mais que uma alteração de regime orquestrada por fora. Posição pouco razoável MZ? Pois é partilhada pela juíza Iraniana, Shirin Ebadi, prémio Nobel da Paz em 2003. Estou em boa companhia.

Por fim, agradeço que MZ ou alguem me forneça transcritos onde Ahmedinejad afirme que Israel deve ser destruido. Peço com sinceridade, não com descrença que tais afirmações existam. Se tenho algumas reservas é porque nos dois últimos vezes que os media transmitiram essa interpretação (a carta e discurso na Conferência sobre a Palestina), ao ler as palavras efectivamente ditas pelo Presidente Iraniano fico com impressão muito diferente. Ele não diz que Israel deve ser destruido, opina que é insustentável e irá implodir. Opõe-se à existência de um estado judeu, preferindo um estado no qual as várias populações da região possam igualmente determinar o seu futuro conjuntamente. E faz a pergunta: porque devem os habitantes da região aceitar a imposição de um estado judeu (com a violência que daí decorreu); se a Europa queria dar um território próprio aos judeus lesados pela segunda guerra mundial, que lhes oferece-se uma fatia do seu território. A interpretação dos media incorre no erro de equiparar os judeus ao estado judeu de Israel. Pelo o que eu leio, Ahmedinejad faz a distinção e critica este último.

Devemos de facto viver em mundos paralelos: eu vivo no mundo real, donde tiro conclusões a partir da acção e palavra escrita e dita; você deve viver num mundo baseado no disse que disse, nas distorções repetidas mas não fundamentadas, ou simplesmente construindo premissas ignorando os factos.

Irão: Resposta à Máquina Zero

No post anterior, Máquina Zero (blog), escreveu o seguinte comentário «Um comunista aliado do Irão? Meu caro, os tipos, lá, enforcam gente como você!!!». Os meus dois recentes posts sobre o Irão tinham como principal objectivo fornecer elementos sobre a distorção das palavras de Ahmedinejad nos media ocidentais. Creio que tal não é sem motivos, e que merece a nossa atenção, em particular depois da colaboração dos media na difusão de mentiras na escalada da guerra ao Iraque.

É certo que os partidos comunistas do Irão, opostos ao república islâmica, estão proibidos, e que comunistas têm sido condenados à morte por luta armada contra o estado. Não estou a subscrever a pena de morte (sejam comunistas ou outros), nem a aliança estado-relgião, embora devo sublinhar que o Irão tem uma sociedade mais aberta, plural e democrática do que o retrato dos media geralmente permite inferir. O Irão é uma sociedade jovem e interveniente, com movimentos sociais activos. Vejam-se as recentes lutas laborais. O clima de ameaça pelos EUA só vem dificultar o movimento progressista, só vem radicalizar posições e reforçar o apoio ao governo.

Posso legitimamente separar a natureza do sistema iraniano, expressar oposição à natureza islâmica e capitalista do governo de Ahmedinejad e simultaneamente saudar a sua resistência às ingerências do imperialismo. Posso ter sérias reservas sobre a opção de energia nuclear como fonte alternativa ao petróleo, e defender o direito do Irão a desenvolver o seu sector energético por essa via sem. Posso inclusivamente ser categoricamente contra a proliferação de armas nucleares, e contudo constatar que face à presença de armas nucleares em Israel, ou face aos recentes acordos nucleares entre a Indía e os EUA, existem contradições entre as tomadas de posição dos líderes ocidentais: as pressões sobre o Irão não são fundadas no princípio da não-proliferação, mas interesses estratégicos dentro da actual conjectura.

A mim preocupa-me sobretudo o clima e retórica de conflito, fundada em meia-verdades, afirmações extraidas do contexto, manipulações e factos por estabelecer. Preocupa-me ouvir uma notícia sobre o Irão com a sequência "Irão bla-bla-bla nuclear bla-bla-bla Ahmedinejad disse que Israel vai desaparecer" e depois ler o texto original e ver um conteudo num sentido contrário. Estas justaposições não são fortuitas. Recordo que a Casa Branca repetidamente nos seus discursos pre-invasão do Iraque, falava do Onze de Setembro e de Saddam Hussein. Embora em geral não fosse atribuida responsabilidade a Saddam, essa associação cresceu na mente pública tendo ajudado a angariar apoio nas fases iniciais da operação. Não tenho dúvidas que agora também se está delibradamente a construir uma narrativa nestas linhas: Irão, regime ditatorial, com ambições expansionistas, desenvolve armas nucleares [algo ainda não estabelecido] e proclama querer usá-las para destruir Israel. Ora creio que esta narrativa é falsa, e é urgente desconstruí-la sobre o risco de ser assímilada e facilitar a aceitação de sanções ou intervenções militares preemptivas.

quinta-feira, maio 11, 2006

Irão: Carta de Ahmedi-nejad a Bush

Carta do Presidente Iraniano Ahmedi-nejad ao Presidente dos EUA George W. Bush
Traduzida do Árabe para Inglês pelo
"Le Monde"

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso,

Sr. George Bush
Presidente dos Estados Unidos da América,

Há algum tempo que tenho estado a pensar, como podemos justificar as inegáveis contradições que existem na arena internacional − que estão a ser constantemente, debatidas, especialmente nos foruns políticos e entre estudantes universitários. Muitas perguntas permanecem sem resposta. Estas levaram-me a discutir algumas das contradições e perguntas, na esperança que conduzissem a uma oportunidade de as reparar.

Pode uma pessoa ser seguidora de Jesus Cristo (Paz Esteja Com Ele), o grande mensageiro de Deus, sentir-se obrigado a respeitar humanos; apresentar o liberalismo como um modelo civilizacional; anunciar sua oposição à proliferação de armas nucleares e Armas de Destruição Massiva (ADMs); fazer da “Guerra ao Terror” seu lema; e finalmente, trabalhar pelo estabelecimento de uma comunidade internacional unificada − uma comunidade que Cristo e os virtuosos da Terra irão um dia governar − mas ao mesmo tempo atacar países.

As vidas, reputações e posses de pessoas destruidas e devido à remota possibilidade de estarem alguns criminosos numa vila, cidade, ou combio por exemplo, a vila, cidade ou comboio inteiro é incinerado. Ou, devido à possibilidade de existência de ADMs num país, ele é ocupado; cerca de cem mil pessoas são mortas; as suas fontes de água, agricultura e industria destruidas; cerca de 180 mil tropas estrangeiras colocadas no terreno; a santidade de casas privadas rompida; e o país empurrado 50 anos para o passado. Com que preço? Biliões de dólares gastos dos cofres de um país e certamente outros países e dezenas de milhar de homens e mulheres jovens − como tropas de ocupação − postas em perigo, longe das suas famílias e gente amada, suas mãos tingidas com o sangue de outros, sujeitos a tanta pressão psicológica que todos os dias alguns cometem suicídio e outros retornam a casa sofrendo depressão, ficam doentes e lidam com todo o tipo de enfermidades; enquanto outros são mortos e seus corpos entregues às famílias.

Com o pretexto da existência de ADMs, esta grande tragédia engolfou os povos do país ocupante e ocupado. Mais tarde foi revelado que não existiam sequer ADMs. Claro que Saddam era um ditador assasino. Mas a guerra não foi empreendida para o derrubar, o anunciado objectivo da guerra era de encontrar e destruir ADMs. Ele foi derrubado a caminho de se atingir outro objectivo, mas apesar disso as pessoas da região ficaram satisfeitas com isso. Faço notar que durante os muitos anos de guerra ao Irão, Saddam era apoiado pelo Ocidente.

Sr. Presidente,
Talvez saiba que eu sou professor. Os meus estudantes perguntam-me como podem estas acções ser reconciliadas com os valores enumerados no princípio desta carta e o dever à tradição de Jesus Cristo (PECE), o Mensageiro de paz e perdão. Estão prisioneiros na Baía de Guantanamo que ainda não foram julgados, não têm acesso a representação legal, suas famílias não os podem visitar e são obviamente mantidos numa terra estranha, fora do seu próprio país. Não existe monitorização internacional das suas condições ou destinos. Ninguem sabe se são prisioneiros, prisioneiros-de-guerra, acusados ou criminosos.

Investigadores europeus confirmaram a existência de prisões secretas também na Europa. Eu não pude correlacionar o rapto de uma pessoa, ela ser retida numa prisão secreta, com as estipulações de qualquer sistema judicial. Ademais, não entendo como estas acções correspondem aos valores destacados no princípio desta carta, i.e., os ensinamentos de Jesus Cristo (PECE), direitos humanos e valores liberais.

Jovens, estudantes universitários e pessoas comuns têm muitas perguntas sobre o fenómeno de Israel. Estou seguro que algumas lhe serão familiares. Ao longo da história, muitos países foram ocupados, mas penso que o estabelecimento de um país novo com um novo povo é um fenómeno novo, exclusivo do nosso tempo. Estuantes dizem que há sessenta anos tal país não existia. Mostram documentos e mapas antigos e dizem que por muito que procurem não conseguem encontrar um país chamado Israel. Digo-lhes que estudem a história da primeira e segunda Guerra Mundial. Um dos meus estudantes disse-me que durante a segunda Guerra Mundial, na qual várias dezenas de milhões de pessoas morrem, as notícias sobre a guerra era rapidamente disseminada pelas facções em guerra. Durante a guerra, alegou-se que seis milhões de Judeus haviam morrido. Seis milhões de pessoas que seriam seguramente aparentados de pelo menos dois milhões de famílias.

Assumamos que estes eventos são verdadeiros. Tal traduz-se logicamente no estabelecimento do estado de Israel no Médio Oriente ou apoio por tal estado? Como pode este fenómeno ser racionalizado ou explicado?

Sr. Presidente,

Estou seguro que sabe como − com com que preço − Israel foi estabelecido: muitos milhares de pessosa foram mortas no processo; milhões de pessoas indigenas tornaram-se refugiadas; bentenas de milhares de hectares de terra agrícola, plantações de oliveiras, aldeias e vilas foram destruidas. Esta tragédia não foi exclusiva do periodo de estabelecimento; infelizmente tem vindo prossegue há 60 anos. Foi estabelecido um regime que não mostra misericórdia nem mesmo a crianças, destroí casas enquanto os ocupantes ainda estão dentro delas, anuncia com antecedência a sua lista de alvos e planos para assassinar figuras Palestinas e mantem milhares de Palestinos na prisão. Tal fenómeno é único − ou pelo menos extremamente raro − na memória recente.

Outra grande pergunta feita pelas pessoas é: porque é este regime apoiado? O apoio a este regime está em linha com os ensinamento de Jesus Cristo (PECE) ou Moises (PECE) ou os valores liberais? Ou devemos entender que permitir aos habitantes originais dessas terras − dentro e fora da Palestina − quer sejam Cristãos, Muçulmanos ou Judeus, determinar o seu destino seja contrário aos princípios da democracia, direitos humanos e ensinamentos dos profetas? Se não, porqur existe tanta oposição a um referendo?

A recém eleita administração Palestina assumiu recentemente o poder. Todos os observadores independentes confirmaram que este governo representa o eleitorado. Inacreditavelmente, pressionaram o governo eleito e aconselharam-no a reconhecer o regime Israelita, abandonar a luta e seguir os programas do anterior governo. Se o actual governo Palestino tivesse concorrido com tal plataforma, teria o povo Palestino votado nele? De novo, pode esta oposição ao governo Palestino ser reconciliada com os valores sublinhados anteriormente? Os pessoas estão também a dizer “porque são vetadas todas as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas condenando Israel?”

Sr Presidente,

Como sabe, eu vivo entre o povo e estou em contacto constante com ele − muitas pessoas de todo o Médio Oreinte também me contactam. Elas também não têm fé nestas políticas dúbias. Existem indícios que o povo da região está crescemente zangado com tais políticas. Não é minha intenção colocar muitas perguntas, mas preciso de referir outros pontos. Porque são as realizações tecnológicas e científicas alcançadas pelo Médio Oriente traduzidas em e retratadas como uma ameaça ao regime Zionista? A investigação e desenvolvimento não é um direito básico das nações?


É familiar com a história. Tirando a Idade Média, em que outro momento da história foi o progresso científico e técnico um crime? Pode a possibilidade das realizações científicas serem usadas para fins militares ser razão suficiente para nos opôr-mos à ciência e tecnolocia como um todo? Se tal suposição é verdadeira, então todas as disciplicas científicas, incluindo a física, química, matemática, medicina, engenheiria, etc., deve ser oposta.

Mentiras foram contadas sobre o Iraque. Qual foi o resultado? Não tenho dúvidas que mentir é reprensível em qualquer cultura, e que não gostaria que lhe mentissem.

Sr. Presidente,

Não tem o povo da América Latina o direito de perguntar porque os seus governos eleitos estão a ser opostos e líders de golpes apoiados? Ou, porque devem viver constantemente sob ameaça e em medo?

O povo de África é trabalhador, creativo e talentoso. Eles podem ter um papel importante e valioso em satisfazer as necessidades da humanidade e contribuir para o seu progresso material e espiritual. A pobreza e sofrimento estão a impedir que tal aconteça. Não tem ele o direito de perguntar porque a sua riqueza imensa − incluindo minerais − está a ser pilhada, apesar de eles precisarem dela mais que outros?

Novamente, estas acções correspondem aos ensinamentos de Cristo e aos princípios dos direitos humanos?

O corajoso e fiel povo do Irão tem demasidas perguntas e queixas, incluindo o golpe de estado de 1953 e o subsequente derrube do governo legal; oposição à revolução Islamica; transformação da Embaixada num quartel-general apoiando as activdades dos opositores da República Islamica (muitas milhares de páginas de documentos corroboram esta alegação); apoio a Saddam na guerra empreendida contra o Irão; o abate de um avião de passeiros Iraniano; o congelamento de bens da nação Iraniana; as ameaças crescente, a raiva e descontentamento vis-à-vis o progresso científico e nuclear da nação Iraniana (logo quando os Iranianos estão jubilantes e coloborando no progresso do seu país); e muitas outras queixas que não irei referir nesta carta.


Sr Presidente,
O Onze de Setembro (11/9) foi um incidente horrífico. Matar inocentes é deplorável e horrível em qualquer parte do mundo. O nosso governo declarou imediatamente a sua repugnância pelos culpados e ofereceu as suas condolências aos enlutados.

Todos os governos têm o dever de proteger as vidas, propriedade e bem estar dos seus cidadãos. Alegadamente o seu governo emprega sistemas de segurança, protecção e inteligência extensivos − e até caça seus opositores além fronteiras. O Onze de Setembro não foi uma operação simples. Poderia ter sido planeada e executada sem coordenação com serviços de inteligência e segurnaça − ou a sua inflitração extensa? Claro que isto é apenas uma suposição. Porque têm vários aspectos dos atacantes permanecidos secretos? Porque não nos dizem quem falhou nas suas responsabilidades? E, porque não são os responsáveis e culpados identificados e julgados?

Todos os governos têm o dever de providenciar segurança e paz de espírito aos seus cidadãos. Há alguns anos que o povo do seu país e países vizinhos de lugares problemáticos não têm paz de espírito. Depois do 11/9, em vez de curar e atender as feridas emocionais dos sobreviventes e do povo Americano − que foi imensamente traumatizado pelos ataques − alguns media ocidentais intensificaram o clima de medo e insegurança − alguns falavam constantemente na possibilidade de novos ataques terroristas e mantiveram o povo sob medo. É isto serviço ao povo Americano? É possível calcular o dano resultante do medo e panico?

Cidadãos Americanos viveram em medo constante de novos ataques que podiam vir a qualquer momento e em qualquer lugar. Sentiam-se inseguros nas ruas, no trabalho e em casa. Quem estaria contente com essa situação? Porquê, em vez de alimentar uma sensação de segurança e providenciar paz de espírito, os media ajudaram o sentimento de insegurança?

Alguns acreditam que o exagero abriu caminho − e foi a justificação − para o ataque ao Afganistão. Devo novamente referir o papel dos media.

Nas cartas constitucionais dos media, a disseminação correcta de informação e a reportagem honesta de uma história são princípios estabelecidos. Expresso o meu profundo pesar pela desconsideração de certos media Ocidentais por estes princípios. O principal pretexto pelo ataque ao Iraque foi a existência de ADMs. Tal foi repetido incessantemente − para o público, finalmente, acreditar − e o terreno foi preparado para um ataque ao Iraque. Não irá a verdade ser perdida num clima de maquinação e decepção?De novo, se se permite perder a verdade, como pode tal ser reconciliado com os valores mencionados anteriormente? É a verdade conhecida do Senhor perdida também?


Sr Presidente,
Em países de todo o mundo, cidadãos contribuem despesas para o governo para que os seus governos possam por sua vez servir-lhes. A pergunta aquí é “que tem produzido para os cidadãos os biliões de dólares, gastos cada ano, para pagar a campanha Iraquiana?” Como sua Excelência sabe, em alguns estados do seu país, pessoas vivem em pobreza. Muitos mihares não têm lar e o desemprego é um grande problema. Claro que estes problemas existem − em maior ou menor extensão − noutros países também. Tendo em conta estas condições, podem as despesas gigantes da campanha − pagas da tesoraria pública − ser explicadas e serem consistentes com os princípios mencionados?


O que tenho dito são algumas das queixas do povo em todo o mundo, na nossa região e no seu país. Mas a minha contenda principal − com que espero concorde em parte − é:

Os no poder têm um tempo específico no cargo, e não mandam indefinidamente, mas seus nomes irão ficar registados na história e serão constantemente julgados nos futuros imediatos e distantes. O povo vai escrutinizar as nossas presidências.


Lougramos trazer paz, segurança e prosperidade para o povo ou insegurança e desemprego?

Era nossa intenção estabelecer justiça, ou apenas apoiar alguns grupos de interesse, e ao forçar muitas pessoas a viver em pobreza e sofrimento, tornar algumas pessoas ricas e poderosas − e assim trocando a aprovação do povo e do Todo Poderoso pela delas?

Defendemos os direitos dos desprivilegiados ou ignora-mo-los?

Defendemos os diretos dos povos do mundo ou imposemos guerras contra eles, interferindo ilegalmente nas suas vidas, estabelecendo prisões infernais e incarcerando alguns deles?

Trouxemos paz e segurança mundial ou levantamos o espectro de intimidação e ameaças?

Dissemos a verdade à nossa nação e às outras nações do mundo ou apresentamos uma versão invertida dela?

Estivemos ao lado do povo ou dos ocupantes e opressores?

Terá a nossa administração tentado promover o comportamento racional, a lógica, ética, paz, concretizando obrigações, justiça, serviço ao povo, prosperidade, progresso e respeito pela dignidade humana; ou, a força das armas, intimidação, insegurança, desconsideração pelo povo, adiando o progresso e excelência de outras nações, espezinhando os direitos do povo?

E finalmente, iremos ser julgados sobre se permanecemos verdadeiros ao nosso juramento − de servir o povo, que é a nossa principal tarefa, e as tradições dos profetas − ou não?


Sr. Presidente,

Quanto mais tempo pode o mundo tolerar esta situação?

Onde nos levará esta tendência?

Quando tempo mais deve o povo do mundo pagar pelas decisões incorrectas de alguns líders?

Quanto tempo mais irá o espectro da insegurança − de reservas de ADMs − conduzir à perseguição dos povos do mundo?

Quanto tempo mais irá o sangue do homem, mulher e criança inocente ser vertido nas ruas, e as casas das pessoas destruidas sobre as suas cabeças?

Está contente com a condição actual do mundo?

Acha que as políticas actuais podem continuar?


Se milhares de milhões de dólares gastos em segurança, campanhas militares e movimentos de tropas fossem antes gastos em investimento e assistência a países pobres, promoção da saúde, combate a diferentes doenças, educação e melhoramento da saúde mental e física, assitência às vítimas de disastres naturais, criação de oportunidades de emprego e produção, projectos de desenvolvimento e alívio de pobreza, estabelecimento de paz, mediação entre países em disputa e distinguindo entre as chamas de conflitos raciais, etnicos e outros, onde estaria hoje o mundo? Não estaria o seu governo e povo justificadamente orgulhoso? Não seria a posição política e económica da sua administração mais forte? E, tenho pena de dizê-lo, haveria um crescente ódio mundial aos governos Americanos?


Sr. Presidente, não é minha intenção perturbar ninguem.

Se o profeta Abrão, Issac, Jacob, Ishmael, José ou Jesus Cristo (PECE) estivessem conosco hoje, como teriam julgado tal comportamento? Iremos receber um papel a desempehar no mundo prometido, onde a justiça será universal e Jesus Cristo (PECE) estará presente? Irão aceitar-nos?


A minha pergunta básica é esta: não há nenhima maneira melhor de interactuar com o resto do mundo? Hoje existem biliões de Cristãos, biliões de Muçulmanos e milhões de pessoas que seguem os ensinamentos de Moisés (PECE). Todas as religiões divinas partilham e respeitam uma palavra e esta é “monoteísmo” ou fé num único Deus e nenhum outro no mundo.O sagrado Corão enfatiza esta palavra comum e apela aos seguidores das religiões divinas e diz [3.64] Diz: ó seguidor do Livro! Chega a uma proposição equitativa entre nós e ti que nós não serviremos nenhum que Allah e que não associaremos nenhum com ele e que alguns de nós não tomarão outros por senhores além de Allah, mas se voltarem atrás, então diz: testemunha que somos Muçulmanos. (Família de Imran).


Sr. Presidente,
De acordo com os versos divinos, fomos todos chamados a venerar um Deus e seguir os ensinamentos dos profetas divinos.“Venerar um Deis que esteja além de todos os poderes do mundo e pode fazer tudo o que Ele deseje.” “O Senhor que sabe o que está escondido e visível, o passado e o futuro, sabe o que sucede nos Corações dos Seus servidores e regista os seus actos.” “O Senhor que é o possuidor do céu e da terra, e todo o universo é o Seu tribunal” “planear para o universo é feito pelas Suas mãos, e dá aos Seus servidores as ofertas de misericórdia e perdão pelos pecados”. “Ele é o companheiro do oprimido e inemigo dos opressores”. “Ele é o Clemente e Misericordioso”. “Ele é o recurso do fiel e guia-o da escuridão à luz”. “Ele é testemunho das acções dos Seus servidores”. “Ele apela aos servidores para serem fieis e fazerem boas acções, e pede-lhes que permaneçam no trilho da justiça e fiquem firmes.” “Apela aos servidores que obedeçam aos Seus profetas e Ele é testemunhos dos seus actos”. “Um mau fim pertence apenas ao que escolheram a vida deste mundo e O desobedecem e oprimem os Seus servidores”. E “um paraíso bom e eterno pertence aos servidores que temem a Sua majestade de não sigam a lascividade.”


Nós acreditamos que os ensinamentos dos divinos profetas é o único caminho até a salvação. Fui informado que Vossa Excelência segue os ensinamentos de Jesus (PECE), e que acredita na promessa divina do reino da justiça na Terra. Nós também acreditamos que Jesus Cristo (PECE) foi um dos grandes profetas do Todo Poderosos. Tal é repetidamente louvado no Corão. Jesus (PECE) é citado no Corão também: [19,36] E seguramente Allah é o meu Senhor e portanto o teu Senhor serve-O; este é o caminho verdadeiro, Marium.


Serviço a e obediência ao Todo Poderoso é o credo de todos os mensageiros divinos.O Deus de todos os povos na Europa, Ásia, África, América, no Pacífico e no resto do mundo é um. Ele é o Todo Podersos que quer guiar e dar dignidade aos Seus servidores. Ele deu grandiosidade aos Humanos. Lemos novamente o Livro Sagrado: “O Deus Todo Poderoso enviou os Seus profetas com milagres e sinais claros para guiar as pessoas e mostrar-lhes os sinais e purificar-lhes dos pecados e poluições. E Ele enviou o Livro e a balança para que as pessoas exerçam justiça e evitem os rebeldes.”


Todos os versos acima podem ser encontrados, de uma forma ou outra, no Livro Sagrado também. Os profetas divinos prometeram: U~um dia virá quando todos os humanos irão congregar-se perante o tribunal do Todo Poderoso, tal que os seus actos serão examinados. Os bons irão para o céu e os maldosos irão encontrar retribuição divina. Estou seguro que ambos acreditamos num dia assim, mas não será fácil calcular as acções dos líderes, porque nós temos de responder perante as nossas nações e todos os outros cujas vidas é directamente ou indirectamente afectada pelas nossas acções.


Todos os profetas falam em paz e tranquilidade para o homem − baseado no monoteísmo, justiça e respeito pela dignidade humana. Não pensa que se todos nós acreditarmos e nos submetermos a estes princípios, isto é, monoteísmo, devoção a Deus, justiça, respeito pela dignidade do homem, o Dia do Julgamento Final, que podemos superar os problemas actuais do mundo − que são o resultado de desobediência ao Todo Poderoso e aos ensinamentos dos Profetas − e melhorar a nossa conduta?

Não pensa que acreditar neste princípios promove e garante a paz, amizade e justiça?

Não pensa que os referidos princípios escritos ou não escritos são universalmente respeitados?

Não aceitará este convite? Isto é, um regresso genuíno aos ensinamentos dos profetas, ao monoteísmo e justiça, à preservação da dignidade humana e obediência ao Todo Poderoso e Seus profetas?


Sr. Presidente,

A história diz-nos que os governos crueis e repressivos não sobrevivem. Deus confiou o destino ao Homem o seu destino. O Todo Poderoso não deixou o universo e a humanidade ao seu próprio cuidado. Sucedem muitas coisas contrárias aos desejos e planos dos governos. Estes dizem-nos que existe um poder superior a funcionar e que todos os eventos são determindos por Ele.


Podemos negar os sinais de mudança no mundo de hoje? É a situação do mundo actual comparável com a de há dez anos? Mudanças ocorrem rapidamente e a um ritmo furioso. O povo do mundo não está contente com o status quo e dá pouco peso às promessas e comentários de numerosos líderes mundiais influentes. Muitas pessoas pelo mundo sentem-se inseguras e opõem-se ao alastrar da insegurança e guerra e não apoiam ou aceitam políticas duvidosas. As pessoas estão a protestar o fosso entre os que têm e os que nada têm, e entre os países ricos e pobres. Estão enojadas com a corupção crescente. Os povos de muitos países estão revoltados com os ataques sobre os seus fundamentos culturais e a desintegração das famílias. Estão igualmente costernados com a erosão do carinho e compaixão. O povo do mundo não tem fé nas organizações internacionais, porque os seus direitos não são advogados por essas organizações. O Liberalismo e a democracia ao estilo Ocidental não têm sido capazes de realizar os ideais da humanidade. Hoje estes dois conceitos falharam. Aqueles com visão já podem ouvir os soms do desmoronar e queda da ideologia e pensamentos dos sistemas liberal democratas.


Cada vez mais vemos que as pessoas do mundo estão a convergir para um ponto focal − o Deus Todo Poderoso. Sem dúvida através da fé em Deus e os ensinamentos dos profetas, as pessoas vão conquistar os seus probelmas. A minha perguntar para si é: “Não se quer juntar a eles?”

Sr Presidente,


Quer queira quer não, o mundo está a gravitar para a fé no Todo Poderoso e a justiça e vontade de Deus irá prevalecer sobre todas as coisas


Vasalam Ala Man Ataba’al hoda

Mahmood Ahmadi-Najad

Presidente da República Islamica do Irão

quinta-feira, maio 04, 2006

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«Como sabemos, existem conhecidos conhecidos; há coisas que sabemos que sabemos. Também sabemos que existem conhecidos desconhecidos; quer dizer sabemos que existem coisas que não sabemos. Mas também existem desconhecidos desconhecidos – coisas que não sabemos que não sabemos.»
Este é um exemplo da clareza de comunicação de Donald Rumsfeld, Secretário da Defesa dos EUA, uma das figuras ideológicas e estratégicas centrais na Casa Branca desde que Bush II assumiu a presidência. Esta instância de poesia evasiva foi recitada, em 2002, após perguntas sobre a existência de armas de destruição massiva no Iraque. À semelhança de outros membros do círculo de Bush, Rumsfeld fez uso da oclusão, jogos de palavras e mentira para promover falsos motivos para invadir o Iraque, camuflando objectivos geoestratégicos que ele e o capital que representa vêm ambicionando de longa data.

O 9 de Setembro serviu de pretexto não só para trazer o Iraque para a esfera de influência directa dos EUA, como para conduzir reformas profundas na estrutura dos serviços militares, reforçar o domínio da DIA – Agência de Inteligência de Defesa, sob coordenação do Pentágono – no seio da comunidade de serviços de inteligência dos EUA, e estabelecer políticas militares explicitamente imperiais e beligerantes, tais como o objectivo de Domínio de Espectro Total e o uso de armas nucleares em combate convencional e de forma preemptiva.

Algumas das decisões de Rumsfeld foram contra a opinião e recomendações militares. Críticos internos foram premiados com reformas antecipadas ou afastamentos. Em 2003, o Gen. Eric Shinseki, então Chefe de Estado Maior do Exército, testemunhou perante o Congresso que a ocupação do Iraque necessitaria de mais de 300 mil tropas, enquanto Paul Wolfowitz, o falcão neo-conservador, então o número dois no Departamento de Defesa e agora presidente do Banco Mundial, rejeitou essa estimativa e recomendou menos de metade de contingente. Shinseki foi empurrado para a reforma antecipada em retaliação pela discórdia pública, num sinal claro à hierarquia que dissensão teria consequências. Depois da invasão, quando já era evidente que a ocupação iria enfrentar a resistência do povo iraquiano, o Gen. Anthony Zinni, ex-chefe do Comando Central, acusou Washington de não ter preparado efectivamente o pós-guerra, e pediu a demissão de Rumsfeld.

Contestação sem precedentes

Em Março deste ano, Shinseki e Zinni voltaram a público. E nos últimos dois meses, cinco outros generais na reserva tiveram igual postura, numa demonstração de desagrado pelo Secretário de Defesa por parte das patentes militares sem precedentes. O Major-General Paul Eaton, que treinou os militares iraquianos no primeiro ano de ocupação, argumentou nas páginas do New York Times que Rumsfeld «demonstrou ser estratégica, operacional e tacticamente incompetente». O Tenente-General da Marinha Gregory Newbold, oficial encarregue de operações antes da invasão, repreendeu as altas patentes, na revista Time, por terem agido «timidamente quando as suas vozes necessitavam urgentemente de serem ouvidas», e que em consequência do conformismo militar «executou-se um plano com falhas fundamentais para uma guerra inventada».

Os militares estão furiosos com a administração. O número de soldados mortos e feridos em combate acumulam-se. Os recrutadores militares enfrentam dificuldades em atrair jovens, e são frequentemente confrontados com protestos quando se dirigem a escolas e universidades. Rumsfeld foi inclusivamente processado por vários adolescentes de Nova Iorque alegando que o Pentágono tem uma lista ilegal de estudantes para serem abordados.

O exército recebeu ordens para executar tortura e quando tal vem a público foi este o responsabilizado. Rumsfeld não assume o seu nível de conhecimento e responsabilidade pela tortura de prisioneiros por si ordenada e conduzida em Guantanamo, Abu Ghraib, Bagram e dezenas mais de prisões militares estadunidenses. Segundo um recente relatório da Human Rights Watch, Rumsfeld recebeu comunicações regulares quando Mohammad al-Qahtani foi abusivamente interrogado em Guantanamo, e como tal deveria ser não só demitido mas processado, ao abrigo do princípio de Nuremberga que atribui a responsabilidade aos superiores por crimes cometidos, com o seu conhecimento, pelos seus subordinados.

Bush recusa-se, porém, a demitir Rumsfeld. É demasiado central para a sua política, e a sua demissão representaria admitir uma derrota política incomportável num ano de eleições para o Congresso e com a sua popularidade abaixo dos 35%. Em típica estratégia dos republicanos, não se muda a política, muda-se a imagem, substituindo o porta-voz da Casa Branca, Scott McCennan, por Tony Snow, um simpático jornalista conservador da cadeia televisiva Fox.