domingo, maio 14, 2006

Irão: Máquina Zero, mais uma vez

Máquina Zero respondeu ao segundo post: Portanto, meu caro, você acha que o Irão é um país que caminha para a Democracia e que as críticas ao facto de ser uma teocracia assassina, sem Direitos Humanos, só dificultam esse caminho, certo? Você defende, portanto, o silêncio. Estou a vê-lo, se tivese nascido uns anos antes, a guuardar silêncio perante a inauguração do primeiro campo de concentração alemão. E você acha que é incorrecta a ideia, transmitida pelos media, de que o presidente iraniano afirma ou afirmou que Israel deve ser destruído, deve desaparecer do mapa, deve ser 'transferido' para aEuropa, etc, etc? Então, meu caro, confirma-se uma das teorias mais interessantes da Twilight Zone: eu e você vivemos em mundos paralelos, parecidos, mas diferentes...

Donde foi MZ tirar a ideia que eu defendo o silêncio, ou que defendo o péssimo historial de pena de morte do Irão? Se acho que o Irão caminha para uma democracia? Esta é uma pergunta carregada pois assume que o Irão não é já uma democracia. Responder passa por clarificar então quais os critérios para se consistir um democracia, e suspeito que as minhas diferem das de MZ: tem de ser laico, ter eleições multipartidárias, liberdade de dissensão?

De qualquer maneira, quer seja uma democracia em construção, uma democracia de modelo diferente da tradição europeia, ou não seja uma democracia, em parte alguma defendi que devemos defender os aspectos - pelo contrário afirmei claramente o contrário, daí que me pareça que MZ vive no mundo paralelo onde se saltam sobre os factos para tirar conclusões. Mais uma vez, posso criticar a ingerência imperial dos EUA, fundada em razões estratégias, a sua retórica de ameaça, e defender o direito do Irão desenvolver energia nuclear, sem com isto ter que defender Ahmedinejad 'tout cour'. Aliás tratar o Irão com justiça e respeito, fundado no direito internacional, fará mais por uma sociedade plural capaz de progresso, do que as ameaças e certamente mais que uma alteração de regime orquestrada por fora. Posição pouco razoável MZ? Pois é partilhada pela juíza Iraniana, Shirin Ebadi, prémio Nobel da Paz em 2003. Estou em boa companhia.

Por fim, agradeço que MZ ou alguem me forneça transcritos onde Ahmedinejad afirme que Israel deve ser destruido. Peço com sinceridade, não com descrença que tais afirmações existam. Se tenho algumas reservas é porque nos dois últimos vezes que os media transmitiram essa interpretação (a carta e discurso na Conferência sobre a Palestina), ao ler as palavras efectivamente ditas pelo Presidente Iraniano fico com impressão muito diferente. Ele não diz que Israel deve ser destruido, opina que é insustentável e irá implodir. Opõe-se à existência de um estado judeu, preferindo um estado no qual as várias populações da região possam igualmente determinar o seu futuro conjuntamente. E faz a pergunta: porque devem os habitantes da região aceitar a imposição de um estado judeu (com a violência que daí decorreu); se a Europa queria dar um território próprio aos judeus lesados pela segunda guerra mundial, que lhes oferece-se uma fatia do seu território. A interpretação dos media incorre no erro de equiparar os judeus ao estado judeu de Israel. Pelo o que eu leio, Ahmedinejad faz a distinção e critica este último.

Devemos de facto viver em mundos paralelos: eu vivo no mundo real, donde tiro conclusões a partir da acção e palavra escrita e dita; você deve viver num mundo baseado no disse que disse, nas distorções repetidas mas não fundamentadas, ou simplesmente construindo premissas ignorando os factos.

4 comentários:

a.castro disse...

Por que não há-de o Irão ter energia nuclear, incluindo a bomba atómica?... O Irão é uma ditadura? E o que é, em termos práticos, os EUA senão uma ditadura? Não existem muitos países com poder nuclear? E Israel, quem é que "construiu" esse país? Não foram os americanos? E esse sim, com armas de destruição maciça?
Quem é que "determina" quais são os países que devem ou não ter "nuclear". Isto é ridículo!...
Fico-me por aqui. Muita coisa havia a dizer... mas a caixa de comentários não é a "caixa" para elaborar posts.

Anônimo disse...

O Ahamadi não escreveu na carta q Israel devia ser apagado do mapa... mas afirmou exactamente isso em discursos perante multidões de apoiantes , afirmações essas que foram transmitidas pelos media crediveis de todo o mundo -- também afirmou (e continua a afirmar) que o Holocausto nunca aconteceu... mas enfim, pra quê perder tempo a ateimar isto... vocês desde que seja anti-USA é logo um santo... o Hitler tambem era assim...

Anônimo disse...

poizé!... coitadinho do Ahamadi Nejad!... ele só ker um reactorzinho pra akecer os pés, coitado !!!!... ora, ora...

André Levy disse...

J. Luís leia com alguma atenção o que eu tenho andado a escrever e verá que eu não formei a minha opinião sobre o Ahmedinejad a priori, ou com base nos "media credíveis". Fui ler o que ele disse, na fonte mais directa possível. E verifiquei que o que ele andava a dizer não condiz com o que os "media credíveis" reclamam que ele afirma. Tenho desenvolvido esta descrepância sobretudo para evitar que sejamos conduzidos a caricaturá-lo, demonizá-lo, para depois mais facilmente aceitarmos que o Irão seja atacado. E lancei o repto: produzam os textos onde ele faz as tais afirmações. Mas não tragam citações de jornais. Faço o desafio, não convencido que não encontrarão nada, mas com o interesse de efectivamente ver o que ele diz. Foi nessa perspectiva que eu fui ver os outros textos.
E dê-me por favor um pouco mais de crédito e deixe-se de maniquísmos fáceis. Isso não é argumento, e dificulta-lhe ler os argumentos dos outros. Nada mais fácil que equacionar os "vocês" [?] com o Hitler, que, já agora, era sobretudo anti-semita e anti-comunista, não anti-USA; nos seus discrursos erguia o espectro da conspiração judaico-bolchevique.