quarta-feira, setembro 20, 2006

Propinas Não, Empréstimos Também Não

Quando o governo de Cavaco Silva primeiro quiz introduzir o valor das propinas usou, entre outros argumentos falaciosos, que com o pagamento de uma propina modesta (~€250), um valor comportável para a maioria das famílias, mas um valor que fosse superior à quantia simbólica de então (~€10), haveria possibilidade de melhorar a qualidade do ensino e alargar o apoio social. A JCP e as Associações de Estudantes reinvidicativas alertaram que aceitar esse primeiro aumento seria abrir as portas para aumentos subsequentes, que as propinas iriam permitir uma maior desresponsabilização do estado no financiamento das universidades, que já então ia na sua esmagadora maioria para o pagamento de salários, e que poucos seriam as melhorias resultantes tanto na qualidade de ensino como no apoio social.

Passados mais de quinze anos os resultados estão à vista. O Diário Económico (19/Setembro) resumiu o relatório da OCDE "Olhares sobre a Educação 2006".
  • as propinas em Portugal variam entre um valor mínimo de €486 e um máximo de €920, enquanto em 7 países da OCDE (25%) o ensino superior público é gratuito (República Checa, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Eslováquia, Suécia)
  • Em média 17% do investimento em ensino superior é canalizado para o apoio aos estudantes. Em Portugal, é 2.2%.
  • Portugal é um dos países com menor investimento público por aluno, cerca de €7,200 (média da OCDE é €11,254). Pior só mesmo a Correia do Sul, República Checa, México e Grécia.
Claro como água quem tinha razão. Um novo perigo está no horizonte. Para colmatar a falta de apoio social público e os elevados custos do ensino: empréstimos. Aí estão os bancos a oferecer uma crédito e empréstimos bancários. É agarrá-los enquanto são novos, e querem educar-se. Colocá-los logo sobre o jugo dos pagamentos de juros, durante anos e anos. Não basta já os empréstimos de habitação, esses têm um mercado alvo já de avançada idade. Há que agarrá-los antes. Sobe os custos de ensino, o estado desresponsabilização passando o ónus dos custos para os estudantes e suas famílias, e quem lucra no fim do dia são os bancos, que coitados, andam tão mal.

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