A recente agressão israelita no Líbano ilustrou claramente a estreita relação entre o Estado judaico e os EUA. Quando a maioria no Ocidente apelava para um cessar-fogo, a secretária de Estado dos EUA, Condeleeza Rice, declarava tolerar os bombardeamentos israelitas e a morte de civis durante mais uns dias. E Israel ia recebendo encomendas militares dos EUA (pelo menos uma passando pelos Açores!). Sabe-se agora que o ataque ao Líbano estava já planeado e coordenado com os EUA, tendo Israel recebido carta branca para atingir objectivos e ensaiar tácticas que poderão ser úteis aos EUA num eventual ataque ao Irão(1).
A ligação entre os dois países tornou-se particularmente íntima durante a presidência de Reagan, no rescaldo da crise do petróleo e da revolução islâmica no Irão. Israel tem liderado, desde 1976, a lista de países beneficiando de apoio financeiro e militar dos EUA e, desde 1949, os EUA terão oferecido mais de 108 mil milhões de dólares em apoio financeiro directo a Israel(2): anualmente cerca de um quinto do apoio externo directo dos EUA, ou 500 dólares por cidadão israelita. Isto para um país com um PIB per capita equivalente ao da Espanha ou da Correia do Sul.
As economias dos dois países estão também cada vez mais entrecruzadas. Nos anos 90, a economia de Israel sofreu um processo de concentração de capital e uma crescente transnacionalização. Em 2005, Israel ultrapassou o Canadá e tornou-se o segundo país em número de empresas cotadas no NASDAQ da bolsa de Nova Yorque(3). Entre 1999-2004, as oscilações da bolsa de Telavive foram altamente correlacionadas com as do NASDAQ (87%), isto é, a bolsa foi mais influenciada pela «nova economia global» do que pelo andamento do processo de paz ou a Intifada. Recentemente, num sinal de confiança na economia israelita, Warren Buffett, investidor estadunidense e a segunda pessoa mais rica do mundo, comprou 80% da Iscar, uma companhia israelita que produz equipamento industrial, um investimento de 4 mil milhões de dólares.
A cumplicidade entre os dois países estende-se à esfera diplomática. Desde 1982, os EUA vetaram 32 resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas censurando Israel, um número que excede o somatório de vetos dos restantes membros do Conselho. E Israel tem sido muitas vezes o voto solitário apoiando os EUA. Por exemplo, desde 1992 todos os anos é apresentada uma resolução à Assembleia Geral da ONU apelando à necessidade de pôr fim ao embargo dos EUA a Cuba. Israel tem sido o único país que consistentemente tem votado, juntamente com os EUA, contra a resolução.
O lobby israelita
Nos EUA, a intimidade entre os dois países é justificada pela sobreposição de interesses estratégicos. Contudo, a opressão do povo palestiniano é um dos factores unanimemente reclamado pelo mundo árabe como desestabilizador da região, dificultando assim as relações dos EUA com os membros árabes da OPEC. E Israel nem sempre é o aliado leal, ignorando apelos dos EUA para suspender a construção de colonatos, vendendo tecnologia militar à China, ou conduzindo uma intensa operação de espionagem contra os EUA. Ainda este ano, o Cor. Larry Franklin da Força Aérea dos EUA foi condenado por ter passado inteligência a Israel sobre a política dos EUA contra o Irão.
Vários artigos publicados este ano argumentam que o apoio incondicional dos EUA a Israel, contra o interesse nacional dos EUA, se deve à força do lobby israelita. A organização mais poderosa deste lobby, a AIPAC(4), foi eleita como o segundo lobby mais influente de Washington. Através de contribuições financeiras nas corridas eleitorais, mais de 42 milhões de dólares para candidatos ao Congresso desde 1978(5), estas organizações têm logrado travar qualquer debate no Congresso que insinue ser crítico a Israel. Organizações como a AIPAC, JINSA(6), a CoP(7), não representam a maioria dos judeus nos EUA, favorável ao processo de paz e «concessões» ao palestinianos, mas antes a ala expansionista do Likud. O lobbypró-Israel é composto não apenas por organizações de raiz judaica: o recém-formado Cristãos Unidos por Israel, representa um sionismo cristão, que pretende rivalizar o AIPAC, e tem já grande influência no Congresso e na Casa Branca, tendo com sucesso influenciado esta administração a ter uma postura de confronto com o Irão, recusar apoio aos palestinianos e dar carta branca a Israel no seu ataque ao Líbano. Para esta corrente evangelista, na qual se pode incluir o presidente Bush, os conflitos no Médio Oriente são um sinal do fim dos dias e da aproximação do arrebatamento. Acolhem assim com alegria e fervor religioso a destruição e morte de inocentes.
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(1) - Seymour Hersh, New Yorker 21 de Agosto de 2006 - www.newyorker.com/printables/fact/060821fa_fact
(2) - Washington Report on Middel East Affairs - www.washington-report.org/
(3) - www.ishitech.co.il/1105ar5.htm
(4) - American Israel Public Affairs Committee
(5) - www.washington-report.org/archives/May-June_2006/0605031.html
(6) - Jewish Institute for National Security Affairs
(7) - Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations
quinta-feira, setembro 14, 2006
Senhores da guerra
Posted by
André Levy
at
12:24 PM
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Labels:
EUA,
Israel/Palestina
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