sexta-feira, dezembro 29, 2006

G.W. Bush admitiu recentemente que os EUA poderão não estar a ganhar no Iraque. O porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, advertiu, qual Edite Estrela, que é inapropriado usar o gerundio para descrever a situação (winning/losing), a situação é mais complexa. Lá isso é. Não podemos esperar também grandes alterações quando o Partido Democrata assumir a liderança do Congresso. Vejam esta pérola: um jornalista perguntou a Silvestre Reyes, apontado como o Democrata para liderar o Comité de Inteligência da Casa de Representantes, se membros da al-Qaeda são Xiitas ou Sunitas, ao que respondeu “a al-Qaeda, tem ambos. Predominantemente ... provavelmente ... Xiita”. Na verdade são Sunitas e encaram os Xiitas como hereges. Osama bin Laden é Wahhabi (ou Salafi) ramo do Islão Sunita e religião oficial da Arábia Saudita. O jornalista (Jeff Stein do Congressional Quarterly) fez então pergunta semelhantes sobre o Hezbollah, e Reyes foi incapaz de responder: “Hezbollah. Uh, Hezbollah ... Porque me faz estas perguntas às cinco da tarde? Posso responder em Espanhol? Fala Espanhol?” Stein respondeu que sim.”Bem, eu, uh, ...” O conhecimento dos Estadunidenses no Iraque não será muito melhor. Apenas 6 pessoas na Embaixada dos EUA em Bagdade são fluentes em Árabe, e apenas duas dúzias dos seus mil funcionários têm alguma familiaridade com a lingua1.

Claro que falar a língua não faz muita falta se o objectivo não é conhecer o país e sua cultura, mas rapinar os seus recursos. Enquanto se discute se o número de tropas têm de aumentar ou diminuir, no Iraque aplica-se uma dose de choque de políticas neo-liberais. Logo em 2003, a Autoridade Provisória, liderada por Paul Bremer, decretou a abolição da proibição de investimento estrangeiro (Ordem 39) permitindo a compra por capital estrangeiro de até 100% de todos os sectores, excepto os recursos naturais: mais de 200 empresas públicas foram privatizadas, incluindo electricidade, telecomunicações, indústria farmacêutica, etc. Centenas de milhares de trabalhadores foram despedidos, pela aplicação de uma lei que o próprio Departamento do Comércio dos EUA reconhece como sendo contrária à Constituição do Iraque. É também contrária à Lei Internacional, em particular as Regulações Haia2. Outras medidas incluíram abolir as tarifas aduaneiras; reduzir a taxa fiscal mais alta de 45% para uma taxa horizontal de 15%; e propriedade estrangeira da terra continua ilegal, mas esta pode ser alugada por prazos até 40 anos. Agora o próximo passo é a privatização do sector petrolífero.

Não é casual que o relatório do Iraq Study Group (ISG) inclua recomendações sobre a abertura desta indústria, presentemente nas mãos do estado, a empresas estrangeiras. Na recomendação 63 apela aos EUA para “ajudar os líderes do Iraque a reorganizarem a indústria nacional do petróleo como uma empresa comercial” e “encorajarem investimento no sector pela comunidade internacional e companhias de energia internacionais.” Para tal torna-se necessário que o Iraque altere a Constituição e aprove uma nova lei do petróleo. A Administração Bush já contratou a Bearing Point, uma empresa de consultadoria, para ajudar o Ministério do Petróleo a redigir uma nova lei.

O ISG afirma ainda que a continuação de apoio militar, político e económico está contingente no governo Iraquiano atingir algumas metas, sendo claro que a reforma do sector petrolífero é uma delas. As companhias transnacionais de petróleo consideram a aprovação desta lei como mais importante que o melhoramento das condições de segurança.

1http://www.timesonline.co.uk/article/0,,11069-2501237,00.html

2http://www.guardian.co.uk/comment/story/0,,1079562,00.html

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