quarta-feira, dezembro 27, 2006

Arco-Iris para o novo ano

Yip Harburg foi um importante letrista socialista estadunidense que escreveu entre outras coisas, as letra dos musicais Finnian's Rainbow e o Feiticeiro de Oz (Wizard of Oz), incluíndo a canção Over the Rainbow, ambos adaptados para cinema, e Brother, Can You Spare a Dime? (do musical New Americana, de 1931) , uma das raras canções a abordar directamente na época as condições sob a Grande Depressão. Participou também nos primeiros musicais integrados, no qual brancos e negros participavam conjuntamente no elenco e coro. Durante o período McCarty, Harburg foi listado e impedido de trabalhar em Hollywood durante onze anos.

Muitos das suas obras têm simbolismo político. Finnian's Rainbow, uma história original, no qual um irlandês, Finian McLonergan, e a sua filha Sharon, imigram para o Tennesse, onde Finnian planeia enterrar um pote de ouro que roubou de um leprechaun, convencido que se enterrar o pote irá crescer ouro (Tennesse é onde fica o Forte Knox, um importante repositório de ouro). Porém quando chega ao Vale Arcoíris encontra uma comuna de agricultores de tabaco, negros e brancos, que lutam contra um senator racista. A filha, Sharon, é tão ofendida pelo racismo do senador e estando perto do pote mágico transforma o senador num negro.

O Feiticeiro de Oz está também carregado de simbolismo, já presente na versão literária de Frank L. Baum. Assim, o Espantalho que procurava um cérebro, representa o agricultor que se pensa parvo, mas é realmente esperto; o Homem de Lata representa o operário que em acidente após acidente nas fábricas foi substituindo as suas partes por metal ficando reduzido a um homem de lata mecânico, sem coração, na linha de montagem; o Leão representava um político anti-imperialista e anti-monopolista (também anti-evolucionista), William Jennings Bryan; o Feiticeiro era o capitalista de Wall Street puxando os cordeis por detrás da cortina, mas que resulta não ser um monstro incombatível, mas um homem; etc. Leiam este artigo sobre o simbolismo na obra. Embora haja alguma controvérsia sobre a sua interpretação, o filho de Harburg sugere que este tinha bem presente a suas implicações políticas, e imbuiu as fábulas de ideias progressivas.

Harburg escreveu já no fim da vida o seguinte poema:

As vidas dos grandes homens recordam-nos
que não há via fácil para a grandeza
Todos os herois de ontem são os hereges de hoje.
Socrates e Galileo, John Brown[1], Thoreau[2], Cristo, and Debs[3]
Ouviram a noite clamar "Abaixo os traidores"
e a madrugada gritar "Força aos vermelhos!"
Nada lograva partí-los, jamais.
Forcas, crucifixos, barras de prisão
Embora os tentassem reajustar
Eles eram de pedra.
Porquê todos os homens grandiosos nos lembram
que podemos escrever os nosos nomes ao alto e ser perdoados
deixando para trás um principe no FBI?

Lives of great men all remind us greatness takes no easy way.
All the heroes of tomorrow are the heretics of today.
Socrates and Galileo, John Brown, Thoreau, Christ, and Debbs
Heard the night cry down with traitors,
and the dawn shout "Up the reds!"
Nothing ever seems to bust them.
Gallows, crosses, prison bars.
Though they tried to readjust them
there they are among the stone.
Why do great men all remind us
we can write our names on high and be pardoned
leave behind us some prince in the FBI?'


[1] John Brown (1800-1859) Abolicionista; apelou à insurreição como forma de combate contra a escravatura.

[2] Henry David Thoreau (1817-1862) naturalista, filosofo, abolicionista; defendeu desobediência civil e a recusa de pagamento de impostos como forma de protesto contra a Guerra.

[3] Eugene Debs (1855-1926) fundador do International Labor Union e International Workers of the World (IWW), e cinco vezes candidato presidencial pelo Partido Socialista da America.

Nenhum comentário: