quinta-feira, setembro 20, 2007

Tambores de guerra

Os sinais de que os EUA estão a planear um ataque ao Irão continuam a emergir do interior do Pentágono e dos serviços de inteligência. Segundo Alexis Debat, director de terrorismo e segurança nacional no Centro Nixon, o Pentágono elaborou um plano de ataque aéreo contra 1200 alvos no Irão (1). O Pentágono terá concluído que a resposta iraniana será igual quer se façam ataques precisos ou um ataque massivo, pelo que pretendem aniquilar a capacidade militar iraniana em três dias. Terão também em conta os planos de Israel, que se tem declarado disposto a ataque as centrais nucleares iranianas, caso os EUA não o façam.

No final de Agosto, Bush acrescentou a Guarda Revolucionária do Irão – um braço das forças militares iranianas – à sua lista de grupos terroristas, em resposta ao seu alegado envolvimento no Afeganistão e Iraque. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, acusou a Guarda de ter «tentáculos numa diversificada gama de actividades, incluindo empresariais e bancárias; todos sabemos [!] que eles apoiam esses grupos que perseguem os nossos soldados no Iraque, que fornecem armas aos Taliban no Afeganistão, e também tem havido muitas informações sobre as suas ligações ao Hezbollah e outras organizações terroristas».

Estas acusações contrariam as afirmações do presidente Afegão, Hamid Karzai, que declarou à CNN que o Irão tem sido uma influência positiva sobre o Afeganistão. Ignorando estas declarações, Bush acusou o Irão de ser uma força desestabilizadora. Isto no país que os EUA invadiu para esmagar os Taliban e apanhar Bin Laden – dois objectivos falhados – e cuja integridade é ameaçada por conflitos entre as forças tribais financiadas pelos EUA e cuja grande proeza foi tornar o Afeganistão o maior produtor e exportador de ópio do mundo.
Bush acusa a teocracia xiita do Irão de ligações com os Taliban e al-Qaeda (no Iraque), ambos grupos fundamentalistas sunitas, ignorando o profundo antagonismo entre as duas correntes islâmicas: alegações tão ridículas como acusar o Vaticano de ter armado os Hugenots.

Perigo real

Persistem as alegações estadunidenses de que o Irão pretende desenvolver armas nucleares e tem impedido as inspecções da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Mas, a 30 de Agosto, Mohamed ElBaradei, director-geral da AIEA, emitiu um relatório assinalando cooperação significativa com o Irão, concluindo que foi capaz de verificar que o material nuclear declarado não está a ser desviado dos seus fins pacíficos (2).
As relações diplomáticas positivas são afogadas nos média nos EUA, onde predomina a imagem de Irão fundamentalista e ameaçador. O ex-embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, declarou, no canal televisivo Fox News, que deseja um ataque ao Irão: «Espero que o Irão entenda que estamos a falar a sério, que estamos determinados a que não consigam capacidade nuclear e que, se não inverterem as decisões estratégicas dos últimos 20 anos, devem ter em conta a possibilidade de um ataque». As notícias e comentários sobre o Irão na Fox News são em tudo semelhantes às que antecederam a invasão do Iraque (3).

Contrastando com a incapacidade dos EUA em dialogar com o Irão, Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irão, tem-se desdobrado em contactos diplomáticos. Em Agosto visitou o Afeganistão, Turquemenistão, Quirguizistão e Azerbaidjão, tudo países onde os EUA têm procurado aumentar a sua influência e presença militar. Após a sua reunião com Karzai, afirmou: «Queremos que o nosso melhor amigo seja um país poderoso, desenvolvido e estável».
Esteve ainda presente como observador na recente cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), após a qual o presidente russo, Vladimir Putin, reafirmou o seu compromisso de completar a construção da central nuclear de Bushehr, no Sul do Irão (4). Assinou um contrato com a Bielorússia para esta desenvolver o campo petrolífero de Jofeir.

Ahmadinejad descarta a probabilidade de os EUA atacarem o seu país, descrevendo como erradas as análises vindas do interior dos EUA referindo que uma secção da administração Bush estaria a preparar um ataque4. Temo que Ahmadinejad esteja a dar mais crédito à racionalidade da administração Bush-Cheney do que esta tem demonstrado merecer. Ou melhor, ela obedece a uma razão, mas a do imperialismo e seus interesses geoestratégicos, não a lógica do direito internacional, da paz e respeito entre nações. É certo que o Irão tem uma capacidade militar defensiva superior à do Afeganistão ou do Iraque (mesmo antes da primeira guerra do golfo). Mas os EUA só invadiram o Iraque após anos de sanções que enfraqueceram o país económica e militarmente. Uma primeira ofensiva não tomará a forma de invasão, mas possivelmente de ataques estratégicos. Há que dar atenção e peso aos tambores de guerra que tocam cada vez mais alto em direcção ao Irão, preparando terreno para o momento oportuno.
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(1) Times de Londres, 2 de Setembro
(2) Muriel Mirak-Weissbach, 31 de Agosto, http://www.globalresearch.ca ;
(3) Vejam o documentário curto de Robert Greenwald, "Fox Attacks:Iran", disponível no YouTube
(4) Agência de Notícias da Republica Islâmica, http://www2.irna.ir/


Artigo publicado na Edição Nº1764 do Avante!

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