quarta-feira, novembro 28, 2007

Escapou-me alguma coisa sobre os boletins de voto no distrito de Santarém? Os eleitores puseram a cruzinha junto à foto e nome da Luísa Mesquita, em vez de os símbolos da Coligação Democrática Unitária?

Já bem basta a deturpação de se apresentarem as eleições legislativas como uma corrida ao lugar de primeiro-ministro; agora vem a deputada LM falar do lugar de deputada como se fosse seu, como se o eleitorado tivesse votado nela em vez de na CDU.

A atitude da LM demonstra bem como os interesses e sentido de voto do eleitor só são protegidos se o assento parlamentar estiver a cargo do partido eleito, e não respectivo deputado. Sim, soam violinos sob a imagem do deputado que age em consciência, defendendo a população do seu círculo, opondo-se à disciplina da sua bancada. Mas deixemo-nos de filmes. O deputado que age independente da orientação da sua bancada tende a fazê-lo por ambições pessoais ou influências questionáveis, por se agarrar ao poder, prestígio, benefícios, favores associados ao cargo.

O assento parlamentar pertence não ao depuado, nem ao partido, mas ao eleitorado. E expressa, no boletim de voto, confiança num partido; e muito bem, pois é este que apresenta um programa político, económico, social, sobre a energia, a organização do território, a orientação económica, os subsídios culturais, a realização de referendos, etc, etc. Quando voto, posso gostar muito da cara dos membros da lista, posso achar que falam bem, têm boa presença, mas a minha confiança política nos membros daquela lista não se mede pela minha avaliação das suas posições pessoais sobre os mais variados assuntos. O mais provável é eu nunca ser exposto a essas posições. Venho a conhecer, isso sim, as posições da lista a que pertence. Por isso, a minha confiança política nos candidatos por uma lista é função da sua capacidade de cumprir esse programa. O meu voto é num programa. Não na pessoa. Porque infelizmente, as pessoas mudam por factores menos consistentes com a minha expressão de voto. Mas os partidos, pelo menos o meu partido, sei que a fazê-lo ajustará a sua posição após uma avaliação e decisão colectiva.

3 comentários:

Esquerda Comunista disse...

Concordo em absoluto com o que escreves. A Luísa Mesquita está, simplesmente, agarrada ao tacho.

Consultei a minha bola de cristal e verifiquei os alinhamentos das estrelas e tenho cá a impressão que a LM ainda será candidata do Bloco de Esquerda a qualquer coisa... ;-)

Agora - e mais a sério - também não me parece que a solução encontrada pelo partido tenha sido a melhor e passo a explicar.

Problemas políticos resolvem-se politicamente e não através de medidas disciplinares. Com a expulsão da LM, não só não se recupera o lugar de deputado, como ainda se dá armas ao anti-comunismo que agora novamente clama "quando há diferenças, o partido expulsa".

O PCP tinha toda a razão neste caso, mas teria sido melhor, daqui a 2 anos, aquando da escolha da lista de deputados, reunir em Assembleia a Organização Regional de Santarém e por tudo a votos. tenho a certeza que a Mesquita perdia por muitos...

Se não quisesse esperar 2 anos, fazia-o agora e ficava claro para todos (sobretudo para aqueles que não são do partido) que a LM não tinha o apoio de nignuém.

Era mais simples e mais democrático.
Assim, não se conseguiu nada, mas criou-se mais um caso.

beta disse...

Ontem de manhã ía para o trabalho e ía a pensar: como é que se passa a ser "ex-Comunista"?
Como é que um/uma militante com ideais, com convicções, com sonhos, com aspirações e desejos de comunista, passa a ser "ex-Comunista"?
Deixa de se acreditar no que sempre se acreditou?
Deixam de se ter como justas lutas que sempre se lutaram?
Deixa de se defender as classes dominadas e passa a defender-se as classes dominadoras?
Deixa de se defender os operários e passa a defender-se os patrões?
Um "ex-Comunista" passa a defender o capitalismo,o livre mercado e a exploração selvagem?
E a Flexigurança passa a ser "uma medida necessária para o crescimento económico do país"?
E o aborto, deixa de ser uma realidade da desigualdade social que vivemos e passa a ser " uma maneira irresponsável de fazer contracepção"?
E o défice? A luta contra o défice passa a ser legitima para quem fica sem hospitais, centros de saúde, maternidades, escolas,remédios, empregos,casa, pão??
Um "ex-Comunista" é aquele que hoje acredita no materialismo dialéctico e no socialismo e amanhã acredita no FMI??
É aquele que hoje canta o "Avante!" e amanhã o hino do PP??
Porra, quem é que me explica o que raio é uma ex-comunista???
Quem é que me diz como se deixa de defender o sol que nos aquece a alma e nos faz acreditar que amanhã o dia será justo e livre para todos?
Quem é que me diz como é que nos deixamos de emocionar ao ouvir a Internacional??

a formiga disse...

Beta,

É facil, basta que um comunista deixe de viver com base em ideais humanos e começe a viver com base em interesses financeiros e de conveniencias.
Infelizmente quando damos mais importância ao lugar que ocupamos, do que ao colectivo, resulta desta maneira.
Quando esquecemos o porquê de nos termos tornado militantes, não de um partido qualquer, mas sim do PCP, resulta nisso... sim porque não existe ninguém no seu perfeito juízo que adira ao PCP por interesse em subir na vida (estatuto social / economicamente).
Mas é por estas e outras, que deve ser mantida a posição do colectivo, em que os lugares não são de uma determinada pessoa, mas sim do colectivo que ela representa.