sábado, março 22, 2008

Bernanke vs. Constâncio

Em Janeiro deste ano recebi um mail que comparava o ordenado do presidente da Reserva Federal nos EUA ao do Banco de Portugal. A diferença era substancial, mas há que manter sempre alguma reserva sobre a veracidade de informação que circula por correio electrónico. Gosto de ver os números corroborados em fontes mais fidedignas. Assim fui tentar verificar.
  • A página da Reserva Federal esclarece que o salário anual do seu presidente (Chairman) será, em 2008, de $191.300 (ou, €121.882, segundo a actual taxa de câmbio). O salário dos restantes membros da direcção da RF, incluindo o vice-presidente, é de $172.200 (ou, €109.713).
  • A página do Banco de Portugal esclarece que governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, recebeu, em 2007, €249.448, sendo os vencimentos dos 2 vice-governadores e 3 administradores €233.857 e €218.266, respectivamente.
Em conclusão:
(1) os membros do Conselho de Administração do Banco de Portugal ganham um porradão de massa, ponto final.
(2) mas para por as coisas ainda mais em perspectiva, embora uma perspectiva muito distorcida, ganham o dobro dos membros do Conselho de Administração do Federal Reserve.

Como refere o tal correio que recebi:
O que mais impressiona nestes números é que o homem que é escutado atentamente por todo o mundo financeiro, cuja decisão sobre as taxas de juro nos afecta a todos, ganha menos do que o seu equivalente num país pobre, pequeno, periférico, que apenas uma ínfima parcela desse território presta alguma atenção!
Já agora, uma correcção ao tal mail. Enquanto o chairman do Fed fixa a taxa de juro, o presidente do Banco de Portugal já nem isso faz, já que a Aliança Neoliberal (PS-PSD-CDS/PP) entregou esse instrumento de soberania monetária e financeira nacional ao Banco Central Europeu.

A Reserva Federal dos EUA tem também um carácter que a distingue dos restantes bancos centrais: tem aspectos públicos e privados. A componente pública inclui o mandato de emitir dólares e regular o seu valor, de regular os bancos privados. O seu presidente do Conselho é nomeado pelo Presidente (mediante sugestão dos bancos privados), e o Congresso tem poderes de fiscalização sobre ele (responsabilidade que não exerce). Mas a sua actividade e decisões estão inteiramente e directamente sob os auspícios dos bancos privados, que nomeiam seis dos nove membros do Conselho de Administração do Fed. É esta estrutura e poder que tem permitido a emissão de dólares como se fosse dinheiro de monopólio. Mas desenvolvimento deste assunto tem de ficar para um post posterior. Como introdução sugiro o filme "America: From Freedom to Fascism" (2006).

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