Na passada 3ª feira faleceu Mahmoud Darwish, um dos mais importantes poetas árabes contemporâneos, cuja actividade literária e política fizeram dele o poeta nacional da Palestina.
Nasceu em 1942, na vila de Barweh, na Galileia. Com o estabelecimento do Estado de Israel, a Barweh foi arrasada, juntamente com outras 400 aldeias Palestinas, e a família fugiu para o Líbano, tendo depois regressado ilegalmente para a vila vizinha de Dayr-al-Asad. Darwish e a sua família tornaram-se assim refugiados internos sob o regime militar Israelita.
Muito cedo assumiu uma activa vida política e literária activa, e as duas estiveram sempre muito interligadas, sendo referido como o poeta da resistência. Recitava a sua poesia e viajando clandestinamente de vila em vila. Foi membro do Partido Comunista de Israel nos anos 60, depois juntou-se à Organização de Libertação da Palestina. Foi membro do Comité Executivo da OLP, mas pediu demissão devido à assinatura pela OLP dos acordos de paz de Oslo.
Devido às suas actividades, Darwish foi preso repetidas vezes, tendo-se exilado em 1970, primeiramente para a URSS, depois para o Egipto, Líbano e França. Em 1996, foi-lhe finalmente concedido autorização para viver em Ramallah, na Faixa de Gaza.
Publicou mais de 30 volumes de poesia e prosa, traduzida em 35 línguas. O seu primeiro livro de poesia, Aves sem Asas, aos 19 anos de idade. Ganhou um número de prémios durante a sua vida, incluindo o Prémio Lenine da Paz em 1983 e o Prémio de Liberdade Cultural da Fundação Lannan, em 2001. Em Portugal, encontra-se publicado e traduzido pelo Campo de Letras. A sua peosia foi adaptada também para música, incluindo por Marcel Khalife.
Ler e recitar Darwish tornou-se para muitos palestinos e árabes um acto de identificação, de resistência e luta, de reflexão e inspiração.
Ofereço aqui a tradução de um seu poema (a partir do Inglês):
A Menina / O Grito
Há uma menina na costa marítima
E a menina tem uma família
E a menina tem uma casa
E a casa tem duas janelas e uma porta.
E no mar está um barco de guerra jogando um jogo
alvejando os que passeia na costa.
Quatro cinco sete caiem na areia.
A menina é poupada por uma manga de névoa
uma certa manga celestial veio salvá-la.
Ela chama o Pai: meu Pai, vamos para casa, este mar não é para nós.
E o pai não responde.
Ele está deitado ali numa agonia de ausência, envolvido na sua sombra numa agonia de ausência.
Sangue nas suas palmas, sangue nas nuvens,
Os seus gritos voam para longe com ela para a costa e mais alto.
Ela grita na noite da selva
O eco não tem eco
E a menina torna-se no grito eterno de um evento noticioso tornado obsoleto pelo retorno dos aviões
para bombardear a casa com duas janelas e uma porta.
terça-feira, agosto 12, 2008
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