O aparelho conservador, uma máquina de propagando e distorção bem oleada durante as últimas décadas, não tem conseguido contrariar o avanço de Obama e do PD. Tal reflecte uma grande insatisfação com a presente situação económica e social, uma insatisfação com a liderança de Bush/Cheney, e um verdadeiro desejo de mudança (forçando o próprio McCain a reclamar-se também como candidato pela mudança). Mas por si só, esta tendência do eleitorado não poderia explicar o avanço democrata e a sua resistência aos ataques conservadores. Reflecte também uma vontade, por parte do poder económico e financeiro, de uma mudança para que tudo fique na mesma.
Esse apoio encontra-se expresso na capacidade de angariação de fundos do PD, que excede a do PR, contrariando a tendência história mais recente, e provando que, na corrida para a Casa Branca, o dólar é quem mais ordena.
O estudo dos fundos de Obama revela que este recebeu muitos pequenos contributos (<$200), mas estes representam apenas um quarto dos $600 milhões de dólares angariados durante a corrida presidencial. Entre os seus grandes contribuintes encontramos, por exemplo, os grupos financeiros Goldman Sachs, Citigroup, JP Morgan/Chase e Morgan Stanley, expressando a preferência de Wall Street por Obama.(1) Sem subestimar a importância da candidatura de Obama – figura inteligente, carismática, e galvanizadora – que se tem mostrado capaz de motivar novos eleitores, e cuja vitória representaria o regresso do PD à Casa Branca e a primeira eleição de um africano-americano, um olhar atento às suas posições revela que ele não é garante de mudanças de fundo do sistema. Obama ganhou a atenção pública com o seu discurso na convenção democrata de 2004, no qual apelou à união de todo o país, mas onde fechou os olhos às profundas divisões sociais, económicas e étnicas. Enquanto senador do estado de Illinois, Obama opôs-se à guerra no Iraque, mas já durante a campanha para o Senado Federal o seu discurso aproximou-se da posição de Bush. A partir de 2006, já no Senado, apoiou todos os financiamentos para a continuação da ocupação do Iraque, e votou para confirmar a nomeação de Condeleezza Rice, umas das arquitectas da invasão e ocupação, como secretária de Estado. Face ao forte sentimento popular contra a ocupação, Obama tem, durante a campanha, defendido uma retirada gradual (não completa) do Iraque, mas esta seria acompanhada de um aumento do efectivo militar e uma deslocação de tropas para o Afeganistão. O senador Obama apoiou a renovação do USA Patriot Act e a construção do muro de separação entre os EUA e o México; chumbou uma lei que fixaria um tecto nas taxas de juro dos cartões de crédito, uma lei que pretendia reduzir os custos administrativos dos serviços de saúde e alargar a cobertura do programa aos que não possuem seguro de saúde, e uma tentativa de censurar o programa de escutas de Bush. Durante a campanha, num encontro com o lobby pro-Israelita AIPAC, Obama renegou o seu anterior apoio à causa Palestina. Claramente, Obama não é uma figura de grande ameaça ao status quo,. sendo permeável à influência dos sectores monopolistas. Os grandes movimentos sociais nos EUA, em torno do fim da guerra, pela defesa dos imigrantes, têm estado apagados durante a campanha. Se as forças progressistas nos EUA, que constituem uma maioria em diversos temas(2), desejam influenciar um executivo e uma legislatura democrata terão de mobilizar-se e pressionar os órgãos de poder para implementar políticas de efectiva mudança, de maior justiça social e menor militarismo.
Publicado no Avante! Nº 1822 30.Outubro.2008
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