sábado, janeiro 17, 2009

Algumas pérolas, umas barocas

Ao longo da semana fui recolhendo algumas pequenas notas dispersas que queria partilhar. Não têm ligação particular entre elas. Apenas o facto por uma ou outra razão terem despertado a minha atenção.

1.
Nas minhas viagens de metro pela cidade apanho todos os diários gratuitos que consigo. Adoro fazer Soduku's (os do Meia-Hora são os mais desafiantes) e por vezes há referências a questões interessantes. E são de graça. O título deste Meia-Hora chamou-me a atenção não tanto pelo elevado número médio de SMS, mas porque o título é estatisticamente absurdo. Uma média é um sumário de uma população, é uma quantia abstracta. No estudo referido, haveriam jovens que enviavam 1-2 SMS e outros várias centenas, e em média os jovens sondados enviam, ao que parece, 235 SMS por semana. O que é absurdo é dizer-se que "cada um dos jovens" envia a média. Só consigo entender que isto tenha passado, porque num jornal quem faz os títulos em geral não são os jornalistas que escrevem os textos, mas sim outros trabalhadores que procuram sumarizar os textos com a preocupação de criar títulos apelativos e que paginem bem. Mas neste caso, saiu-se mal.

2. Por contraste, no Correio da Manhã, vinha um artigo da Lusa a propósito do assalto à casa do Ministro Mariano Gago. No pequeno texto que li estava uma frase que me parecia digna de um livro do Eça:
"A mulher do governante estava sozinha em casa e, doente na cama, na segunda-feira de manhã, nem se apercebeu de que lhe estavam a revirar a casa toda, tendo os ladrões fugido com um casado valioso de Mariano Gago."
As melhoras para a Sra. Gago, o assaltante que passe um inverno mais quentinho que o Gago há-de ter outros casacos, e parabéns ao jornalista que lavrou tal frase deliciosa.

3. Ao mudar de linha na estação de Metro do Marquês, encontrei um Público abandonado. No título da capa lia-se «Mais riscos, menos emprego»; falava em despedimentos na Autoeuropa (referidos eufemisticamente como "corte de postos de trabalho"; na paragem de produção da Aerosoles, a maior empresa de calçado, por falta de matéria prima; no ameaça de aumento do risco financeiro português e a prevista subida do custo das dívidas; e tinha uma photo do Oliveira e Costa a ser escoltado do Parlamento, onde optou por não responder à comissão de inquérito parlamentar sobre o caso BPN. No interior havia um barómetro dos riscos globais e previsões negras para Portugal; referência ao João Pedrosos, ex-dirigente do PS, que tendo sido contratado pela Min. da Educação, em Fev. de 2005, por despacho interno, para uma prestação de serviços que ascendia a quase 267 mil euros, não completou o trabalho para que havia sido contratado, tendo agora que repor o dinheiro (mas claro a prestações e sem juros; estamos em crise); havia a notícia de que Ehud Olmert havia telefonado a Bush dictando-lhe como os EUA haviam de votar nas NU. Na secção de economia, havia indicação que o rating do Governo português está em risco de descer, isto é, que o Estado terá maiores dificuldades em pedir dinheiro emprestado, o que pode implicar um cresciemento, em Portugal, abaixo de um por cento nos próximos 5 ou mesmo 10 anos. Outra notícia indicava que a venda de automóveis irá cair 15%.

Isto combinado com outras notícias que fui lendo durante a semana (que a taxa de desemprego em Portugal esteve nos 7.8% em Novembro; que 3/4 das pensões de reforma são inferiores ao salário mínimo!, incluindo 100 mil ex-funcionários públicos com pensões inferiores a 400 euros) e outras informações (como, apesar da descida do EURIBOR, em Portugal os novos compradores de casa não estarem a beneficiar de crédito mais acessível porque os Bancos estão a compensar essa descida, aumentando o spread – lembram-se de Sócrates se gabar de ter sido responsável pela baixa da taxa de juro, como se essa não fosse um decisão do Banco Central Europeu, que pouca importância dará ao Socrates e ao que ele acha).

Com os depedimentos, os encerramentos de empresas, as benesses dadas ao grande capital, enquanto ajustes à atribuição do subsídio de desemprego foram chumbadas pela maioria PS (neste momento um desempregado que consiga emprego por apena algumas semanas, não pode depois, ao voltar ao desemprego, beneficiar do súbsídio), cresce em mim a sensação de que Portugal vive um estado de guerra. Já não se trata de uma luta de classes, mas de uma guerra de classes, onde os trabalhadores têm de persistir na luta não já apenas pela defesa dos direitos laborais conquistados com Abril, mas lutar pela sobrevivência contra os círculos do poder e capital que, à custa de dinheiros públicos, enchem os bolsos e vêm os seus crimes e inaptidões recompensadas, em vez de punidas.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que esta merda precisa é de uma REVOLUÇÃO,tudo o resto é 'encanar a perna à rã'.
As pessoas estão-se cagando e são uns alienados de merda até chegarmos à África do Sul.Olha o Mandela...quais mandelas quais carapuças é o Capital, a besta que compra tudo e todos!