sábado, janeiro 10, 2009

Obama de Mudança?


Falta pouco mais de uma semana para a tomada de posse do Presidente eleito Barack Obama. Segundo o meu mostrador, à hora que escrevo, faltam precisamente 233 horas. Há um grande clima de expectativa e de esperança por "Obama, o Salvador", o que trará a mudança e o fim da crise. O Obama, creio, é um pouco mais modesto nas possibilidades de tal ocorrer que alguns dos seus apoiantes.

Mas queria falar sobretudo sobre as suas nomeações para a área das relações internacionais, que não dão qualquer sinal de mudança. Primeiramente, decidiu manter o Secretário da Defesa de George W. Bush, Robert Gates, uma figura controversa, suja nomeação pelo pai Bush para chefe da CIA foi chumbada pelo Senado, e que tem sido um dos maestros da escalada no Iraque (que segundo afirmam as bocas do regime está a ter um grande sucesso; creio que os Iraquianos terão uma opinião diferente).

Mas Obama nomeiou, na passada sexta feira, Leon Panetta para chefe da CIA, John Brennan como principal conselheiro na Casa Branca em matéria de Inteligência, e o Almirante Dennis Blair como Director Nacional de Inteligência (DNI, um cargo criado em 2005 para coordenar as 16 agências federais da imensa rede de agências de inteligência do estado federal, incluindo a mais obscura – a Agência de Segurança Nacional (a NSA) – e a agência que mais poder ganhou durante os mandatos de Bush – a Agência de Inteligência do Departamente do Defesa (a DIA).

Que sabemos destes nomeados? Aqui estão algumas informações recolhidas do programa Democracy Now!

  • Brenan foi inicialmente considerado para Director da CIA, mas retirou a sua nomeação para esse cargo devido aos seus comentários de apoio à tortura e às rendições extraordinárias. Foi então escolhido para um cargo que não requer o escrutínio do Congresso. Brennan havia afirmado ao programa NewsHour, ao canal público PBC, em 2005:

«Penso que [a tortura e as rendições são] um instrumento absolutamente vital. Tenho estado intimamente familiarizado há uma década com os casos de rendição que envolveram os governo dos EUA, e posso dizer sem dúvidas que tem tido muito sucesso em produzir inteligência que salvou vidas.»

  • O Almirante Blair, nomeado para o cargo de coordenador da comunidade de inteligência, esteve implicado no apoio ao massacres em Timor Leste em 1999. Segundo o jornalista Alain Nairn, que cobriu o Massacre do Cemitério de Santa Cruz:
Além de apoiar o General Wiranto enquanto ele e as suas forças massacravam igrejas e matavam mais de mil civis em Timor em 1999, agora parece claro que Blair ou mintou ou enganou conscientemente o Congresso dos EUA durante o seu testemunho no Comité Senatorial das Formas Armadas, em Março de 1999. Nesse testemunho, Blair discutiu a queda da ditatura Indonésia de Suharto. Suharto caiu em Maio de 1998. E Blair, na sua declaração preparada afirmou: "Durante este processo, as forças armadas Indonésias desempenharam um difícil mas em geral positivo papel. Tendo havido instâncias de alguma violência individual ou de pequenas unidades contra cidadãos Indonésios, a liderança militar apoiava firmemente a Constituição. Ademais, os relatados incidentes de abusos, atentados e raptos estão agora a ser investigados e os responsáveis punidos."
Ora, isto é simplesmente falso. Praticamente todos os elementos da declaração são falsos, como qualquer pessoa familiarizada com a situação na Indonésia nessa altura pode comprovar. Não foram pequenas unidades ou indivíduos, mas altos oficiais Indonésios, liderados pelo general Prabowo, que conduziram o rapto de activistas em Kopassus, conhecido como os raptos da "Equipa Rosa". Isto não só envolveu a alta hierarquia militar, mas esse oficiais haviam sido treinados pelos EUA. E as unidades de inteligência que efectuaram os raptos em Kopassus tinham ligação com um adido militar da embaixada dos EUA, e que o General Prabowo era há muito um protegido dos EUA. Os oficiais das forças militares Indonésias instigaram motins anti-Chineses, nos quais os seus agentes andaram violentamente pelas ruas, queimaram casas, conduziram violações em massa de mulheres Chinesas e outras nas ruas, o modelo de caos que fora usado uma ano antes em Timor Leste ocupado. Eles estiveram também envolvidos na matança de manifestantes nas ruas.
E o Almirante Blair tentou dizer ao Comité Senatorial que a liderança militar Indonésia apoiava firmemente a constituição. Bom, ele teria que saber que pouco antes de ler o seu depoimento, ao dar-se a queda de Suharto, o movimento de massas Indonésio havia anunciado uma grande manifestação, e havia a expectativa em Jacarta que participariam um milhão de pessoas, podendo levar não só à queda de Suharto, mas do regime militar. Que fez o General Wiranto, o então comandante das formas armadas Indonésias. Informou os organizadores que se houvesse a tal manifestação, teriam um Tiannanmen, seriam massacrados pelos militares. A manifestação foi desconvocada, Suharto caiu, mas o regime militar liderado por Wiranto permaneceu intacto e domina a política Indonésia até hoje. Portanto, o Almirante Blair ou estava a mentir ou deliberadamente a enganar o Comité Senatorial em Março de 1999.
[Que fez Blair quando as forças militares começaram os massacres em Timor Leste?] Encontrou-se com Wiranto a 9 de Abril de 1999, não só para o reconfortar, mas para lhe oferecer mais apoio de treino militar, que havia sido cancelado pelo Congresso dos EUA. Isto é, Blair tomou o lado de Wiranto, responsável por massacres, contra o Congresso. Nos dias seguintes, naturalmente contente com o encontro, aumentaram as mortes. A 17 de Abril de 1999, os militares invadiram Dili, a capital de Timor, raptou o filho de um dos lideres Timorenses mais proeminentes, Manuelito Carrascalão, e executaram-no. No dia seguinte, o Almirante Blair telefonou novamente a Wiranto, reafirmando o seu apoio, e oferecendo ainda mais apoio dos EUA, e cinco dias depois a Igreja Católica relatava que nas aldeias rurais de Timor ocupado, , entre 42 e cem aldeãos foram executados pelas milícias. Depois a coisa piorou, incluindo eventos como a incendiar da casa do bispo, o massacre do gabinete da diocése, o massacre de cerca de 200 pessoas numa igreja de Suai, e o assassinato e violação do clero.
(...)
A equipa de Obama tem dito que quer obedecer as regras da lei na inteligência e política externa. Então, em 1999 na Indonésia, em Timor [cuja história Obama conhece em detalhe], o Almirante Blair cumpriu a lei? Se Obama acha que a resposta é não, então deveria processá-lo, não nomeá-lo. Se a resposta de Obama é sim, que Blair estava a cumprir a lei, então quer dizer que para ele á correcto patrocinar assassinato em massa de civis, e que fazê-lo pode conduzir a uma promoção no Washington de Obama.

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