segunda-feira, março 01, 2010

Portugal nas Trincheiras da Guerra Imperialista

Este ano comemoram-se o centenário da República. Podemos esperar muita "história" empregada de conteúdo de classe e rescrita da história. Recomendo o artigo de Albano Nunes, publicado recentemente no Avante!. Um dos elementos da campanha que a mim me choca é o cartaz evocando a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, uma guerra que merece estudo histórico por parte de todos nós, pelas portas que abriu ao uso de novas tecnologias (como os primeiros tanques e submarinos, o uso de armas químicas), pelo contraste entre estas tecnologias e estratégias militares antiquadas, pela condições miseráveis a que estiveram expostos os soldados nas trincheiras praticamente imóveis durante anos; mas sobretudo, pelas suas causas.
Um estudo objectivo das causas desta guerra demonstra que ela pouco ou nada teve que ver com o pequeno episódio da morte do Arquiduque em Sarajevo. Foi claramente uma guerra entre as classes dominantes dos países dominantes da Europa, que por serem estados coloniais envolveu frentes de combate no resto do mundo. Uma guerra oposta pelas forças de esquerda e pacifistas da época, que viam nela claramente um guerra de conquista das burguesias nacionais, de tentativa de resolver as rivalidades entre entre essas burguesias e protelar uma crise do capitalismo (que acabou por suceder nos anos 20, e como proveta de teste para novas tecnologias militares.
Para esta guerra foram arrastadas as massas trabalhadores, tirando proveito dos seus sentimentos patrióticos, distorcidos pela propaganda na altura em rivalidades nacionalistas. Foi-lhes prometido que a Guerra iria durar apenas alguns meses, que estariam de volta a casa antes do Natal de 1914. A guerra durou até 1918, e milhões nunca voltaram a casa, outros voltaram sem membros ou severamente traumatizados psicologicamente. Guerra que teve como fruto positivo, o aprofundamento do descontentamento entre a população russa e eventualmente na Revolução Russa de 1917. Curiosamente, a guerra terminou quando a Alemanha estava em ascendente no terreno europeu, mas previu não poder resistir após a entrada tardia dos EUA, até então praticando uma política isolacionista. Mas, as potencias vencedoras, sem qualquer humildade, impuseram exigências à Alemanha que estiveram directamente ligadas à crise económica que teria lugar na Alemanha do pós-guerra, na ascendência do nacional-socialismo, e logo na Segunda Guerra Mundial. A Grande Guerra falhou no seu objectivo de ser "a guerra para acabar com as guerras". Mas as vítimas mais trágicas deste jogo de xadrez imperialista foram os trabalhadores que sofreram e morreram nas trincheiras. Foram heróis? Não estavam a defender a sua pátria nem os interesses da sua classe. Foram gado para chacina, vítimas, obrigados ou doutrinados a mobilizar.

Um comentário:

António disse...

O Diário do Soldado Beijosense, José Pais dos Santos, na I Guerra Mundial foi publicado na integra em 2006 no Blogue Beijós XXI, da sua terra natal, Beijós – Carregal do Sal.
http://antoniopovinho.blogspot.com/2006/05/dirio-de-um-soldado-beijosense-na-1_15.html