sábado, maio 15, 2010

Perguntas

O Sócrates, não o nosso lamentável primeiro-ministro, mas o outro, de Atenas, que viveu há mais de 2400 anos atrás e cujas palavras estão em todos os interstícios do pensamento contemporâneo, tinha o bom hábito de fazer perguntas. Por vezes incomodava, sobretudo quando questionava a noção de justiça e moralidade do Estado, e por isso foi julgado, tendo aceite a sua condenação à morte.
A Pergunta surge pois como o primeiro passo no caminho para o conhecimento. Num contexto mais prosaico, a pergunta é o primeiro passo na libertação do colete de forças ideológico que nos é injectado todos os dias. O acto de pergunta é já um acto de resistência à aceitação passiva do que nos querem impingir como factos adquiridos, como inevitabilidades. Outros passos se devem seguir na batalha das ideias. Mas o acto de perguntar, questionar, por em dúvida, não deve ser subestimado.

Na passada segunda feira, num encontro do GUE/NGL, o grupo do Parlamento Europeu no qual o PCP participa, sobre a nova Estratégia 2020 para a União Europeia, Jerónimo de Sousa, lançou as seguintes perguntas pertinentes a propósito dos sacrifícios que o PS e PSD mais uma vez pedem que os Portugueses sustentem:
Sacrifícios para salvar o quê e quem? Para salvar os grandes grupos económicos que continuam a registar lucros obscenos? Para salvar o capital financeiro que está a lucrar rios de dinheiro com esta crise? Para salvar as políticas de retirada de direitos, de diminuição das condições de vida dos trabalhadores e dos povos e de destruição dos aparelhos produtivos de países como Portugal? Para isso não contem connosco, era a mesma coisa que pedir ao condenado para salvar o carrasco.

Um comentário:

Conceição Matos disse...

....E é uma comparação muito bem feita, por Jerónimo de Sousa. Por este andar estaremos a passos largos, como no tempo da monarquia o rei faustosamente no seu palácio e em redor os pedintes à espera de uma migalha de pao! Será isto desenvolvimento ? Afinal que Europa é esta ?? Quando Álvaro Cunhal disse não estarmos preparados para entrar na CE (na altura CEE) os comilões saltaram logo dizendo afinal quem é que quer o isolamento ? O dito isolamento começa logo internamente. Para onde nos levam ? Até onde vai a resignação do povo português ?