segunda-feira, outubro 01, 2012

Levar a luta até ao voto


Estamos a horas da manifestação dos “indignados”, que espero conte com uma grande participação. Dado o largo espectro de personalidades a apoiá-la, o real nível de descontentamento entre a população em geral, incluindo os apartidários e não sindicalizados, a gravidade das medidas impostas pelo governo, e a sua incapacidade para resolver os problemas do deficit e dívida usados como pretexto para impor medidas de retrocesso civilizacional, a manifestação tem todas as condições para uma grande mobilização e ser um evento marcante no contexto mais alargado da luta dos Portugueses por uma alternativa política. Não creio que essa alternativa surja do seio desta manifestação ou sua plataforma promotora, dada o seu esquelético manifesto, e o seu espectro ecléctico e desestruturado (que oferece potencial mobilizador, particularmente de pessoas que não participam noutro tipo de manifestações, protestos e lutas, mas dificulta o seu futuro enquanto movimento político).
Seguem-se outras lutas. A Semana Nacional de Luta pela Cultura, Contra a Austeridade, nos dias 24-28/Setembro. As lutas convocadas pela CGTP para o dia 29. E outras que certamente virão a seguir.
Dado este contexto, e ainda que tenha bem presente as limitações de sondagens, particularmente as feitas por telefone, não deixa de ser decepcionante ver os números da última Eurosondagem, reportada no (excelente) blog Margens de Erro.
PS: 33.7% (+0.7)
PSD: 33.0% (-1.1)
CDS-PP: 10.3% (+0.2)
CDU: 9.3% (+0.5)
BE: 7.0% (+0.4)
Por um lado, o fraco reforço das forças de esquerda (onde não incluo o PS), sendo que reconheço que nestas sondagens os números destas forças são em geral subestimações. Mas sobretudo, o insignificante declínio do PSD (que recordo ganho as eleições legislativas de 2011 com 38,6%). Há claramente uma diferença entre a opinião da cidadania e do eleitorado. Os cidadãos queixam-se que os políticos e partidos são todos iguais (opinião da qual não partilho, e contra a qual já contra-argumentei noutros textos); o eleitorado parece votar sempre nos mesmos. Não se encontrará alternativa para o país entre o Dupond e Dupont, onde entre incompetência e ignorância, desrespeito pela soberania de Portugal, servilismo às forças económicas nacionais e europeias,  falta de visão e sinal de discussão política interna (Política, não politiquíce) não se vislumbra ventos de esperança e futuro.
É necessário uma grande e alargada frente alternativa de esquerda. Mas, repito, na minha opinião, esta não irá surgir como fruto do movimento da manifestação de hoje. A coluna vertebral dessa frente terá que contar com os partidos de esquerda, os sindicatos, os movimentos de cidadãos, de utentes, associações em defesa da paz, da cultura, etc. Sendo evidente que no seio dessa frente tem de haver lugar e espaço para as largas camadas de cidadãos “desalinhados” também descontentes com a actual política e prontos a contribuir para um futuro melhor.

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