terça-feira, outubro 09, 2012

Painel sindical no ISPA

Depois de alguns contactos pedindo que um dos painéis informativos no ISPA fosse designado como painel para informação sindical, como é de direito em qualquer local de trabalho, a reitoria aceitou a sugestão e designou um dos painéis, num local de bastante movimento, para esta finalidade. Tenho desde então procurado colocar informação sindical e associativa. Na passada 5a, véspera de feriado, apareceu uma folha de caderno sem assinatura e com o dizer: "Os políticos são como as fraldas ... devem ser trocadas com a mesma frequência e pelo mesmo motivo."
Na altura cedi ao impulso de retirar a provocação, por não se enquadrar nos objectivos dos cartaz. Mas a caminho de casa, ocorreu-me que seria mais interessante responder. Assim, hoje, a par de um cartaz da CGTP sobre a greve geral de dia 14 de Novembro, e comunicado da FENPROF com os motivos pela qual aderia à greve, voltei a colocar o cartaz, com a seguinte resposta, por cima:
Em breve dizendo ~Sou membro da ABIC, sou sindicalizado, defendo a cultura. Coloquei estes cartazes no painel para tal designado, como é de direito segundo o código laboral. Devo ser um político. Convido-o a vir mudar-me a fralda ou conversar sobre o que significa ser político: andre_levy@ispa.pt~
Ainda não fui contactado e já começo a ficar com a pele assanhada. Ao longo do dia, vários colegas foram mostrando o seu apreço pela resposta, o que muito me alegrou. Um colega inclusive instruí-me que o texto é uma paráfrase do Eça de Queirós, autor que muito estimo, que escreveu: «Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão». Desconheço se o responsável pelo cartaz sabia que estava a citar o Eça. Se o sabia, não o citou, ou assinou como Eça. Prontamente, rectifiquei o meu cartaz, mudando "ao autor da" para "quem afixou a", com indicação que a frase era efectivamente do Eça.
Desconheço porém a fonte exacta da citação. Se alguém souber, gostaria muito de a ler contextualizada. Em todo o caso, parte do contexto é evidente. Eça escrevia noutro tempo político, na Monarquia, com partidos de outra natureza que os actuais, cobrindo um espectro político bastante mais estreito, aos quais pertenciam uma fracção muito pequena da população, e durante a qual a actividade de "político" eram também muito limitada. Achará o responsável pela citação que a frase do Eça é universal? Eu admito que possa em determinados contextos corresponder à verdade. Mas no Portugal de hoje em dia. Felizmente, ainda que possa ser aplicada a muitos "políticos" da nossa praça, não é uma afirmação universal. Sobre isso já escrevi noutro post.
Mas a questão é também que aquela citação colocada num painel com informação sindical, de uma associação de bolseiros e de um movimento em defesa da cultura, não pretendia dirigir-se ao políticos dos partidos (o painel não tem qualquer informação de partidos políticos), mas sim a trabalhadores organizados em sindicatos, cidadãos organizados em associações e movimentos. Aceito uma definição lata de "político", o cidadão envolvido na política, a fazer política através da sua acção cívica, a participar na democracia, como este exige da sua cidadania para ser aquilo que promete poder ser. Duvido que o Eça tivesse essa concepção de político em mente. Seria esse o caso da pessoa que colocou a citação? Fico à espera.

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