Teatro: No Papel da Vítima

Os Artitas Unidos apresentam no Teatro Maria II, uma peça dos irmãos Presnyakov, "No Papel da Vítima", que conta com excelentes prestações de todo o elenco, com destaque para João Meireles, no papel de Valia. Este "jovem" de trinta e poucos anos dirige-se ao publico e explica-nos os vários estratagemas que usa para não ter que fazer grande coisa na vida. Valia não se dá ao trabalho de puxar o autocolismo até ao fim, come com pauzinhos chineses, para grande irritação do pai em casa do qual vive (claro), para não ter que lavar a louça. Acompanhamos também Valia no seu trabalho, sessões quase absurdas nas quais o inspector de polícia (Américo Silva) obriga o acusado (António Simão) a contar o homicídio cometido. Durante as recriações, feitas com todo o detalhe, alguem teria que interpretar a vítima do crime, e é neste papel que entra Valia. Um emprego onde se limita a imitar alguem que morreu. O inspector explica, numa tírada contra as novas gerações russas, o tema central da peça, um fosso entre as gerações soviéticas, que embora podessem estar insatisfeitas, tinham motivação pessoal, e as geração perdida, preocupada com a imagem, mas sem saber o que quer ou simplesmente não querendo nada. Os pais de Valia lamentam até o seu problema não ser a droga, pois saberiam nesse caso o que fazer (ou que não poderiam fazer nada). As vinhetes domésticas e as reconstruções dos crimes são perfeitamente hilariantes (destaque para a canção da chinesinha, interpretada por Isabel Muñoz Cardoso). A peça culmina com uma cena de café entre uma autora interessada em produzir algo interessante e um director que distorce todas as suas ideias em algo fácil, transparente, ridículo e vácuo.
A peça é rica em observações sociais, fez-me rir às gargalhadas e as personagems permanecem entre nós muito depois da peça terminar. Que mais se pode pedir.