sábado, março 11, 2006

Iraque: al Kubaysi, Pres. da Aliança Patriótica Iraquiana, em Lisboa

O Dr. Jabbar al Kubaysi, Presidente da Aliança Patriótica Iraquiana, visitou Lisboa a convite da Plataforma "Iraque 3 anos de ocupação, 3 anos de resistência", que engloba a CGTP-IN, Conselho Portugues para a Paz e Cooperação (CPPC), PCP, Bloco de Esquerda, Tribunal Mundial sobre o Iraque, e outras organizações.
O dr. Al Kubaishi foi libertado recentemente, depois de passar 15 meses preso pelas tropas dos EUA. Ele é o porta-voz oficial (desde 31 de Janeiro) de uma frente política unitária, constituida a 2 de Outubro de 2005, a Frente Nacional de Resistência e Libertação, que contem oficialmente várias organizações: a Aliança Patriótica Iraquiana; os Nasseristas (liderados por Dr. Omar Nadmi e Subhi Abdul Hamid); o Ajuntamento Democrático Iraquiano (Iraqi Independent Gathering), liderada pelo enginheiro Khaled al Maini); o Iraque Nossa Casa, de Abdel Latif al Mailmayah; o Comité Islâmico, dirigido pelo Dr. Harith al Aldari; o Comando Central (ICP, uma fracção do antigo Partido Comunista do Iraque, liderada por Ibrahim Allawi); e o Partido Árabe Socialista Ba'ath.

A nova frente está a preparar a sua delcaração programática, mas que incluirá os seguintes elementos:
1) O fim da ocupação e a libertação do Iraque, com a retirada completa das tropas estrangeiras
2) Qualquer autoridade Iraquiana montada pelos ocupantes é ilegitima, e será rejeitada e combatida
3) Colaboração com os ocupantes é proibida. Irão pedir aos polícias e outras pessoas ao serviço dos ocupantes que se demitam
4) Os agressores Anglo-Americanos devem pagar reparações
5) O objectivo da frente de resistência é constituir um governo democrático

alKubaysi traz duas mensagens importantes:
  • a resistência Iraquiana é neste momento uma cultura. Não se tratam simplesmente de alguns grupos, alguns ataques, mas de uma forma de estar, imposta pela ocupação, pela taxa de desemprego de cerca de 70%, onde as únicas saídas para os jovens é integrar as forças de segurança ou servir como informantes. O Iraque já não possui tecido produtivo: desde o início da ocupação 80,000 pequenas e médias empresas (5-20 empregados) fecharam, directamente destruídas ou levadas à falência. As fronteiras carecem de controlo alfandegário, alimentos e medicamentos fora do prazo de validade entram e são vendidos por preços baixos no mercado negro.
  • As forças ocupantes não podem ganhar. A resistência cresce. Em 2003 seriam algumas centenas, sobtretudo jovens. Agora são mais de 300 mil, por todo o território, todos Iraquianos, sem financiamento estrangeiro. E fazem uso da sua engenhosidade. AlKubaysi conta como no início da resistência usaram alguns dos seus recursos financeiros para comprar detonadores para os RPGs (Rocket Propelled Grenades), os tubos para lançamento de granadas, que custariam $500-700 no Norte de África e funcionavam a uma distância de 60m. Mas electricistas Iraquianos, membros da resistência, conseguiram desenhar e construir detonadores por $25 que funcionam a várias centenas de metros de distância.
No Norte do Iraque, a resistência ataca diariamente os oleoductos, e praticamente nenhum petróleo tem logrado sair desta região durante os 3 anos de ocupação. A situação no Sul é diferente - o deserto aberto oferece menos cobertura para ataques da resistência. Mas em resultado a exportação de petróleo é neste momento inferior à do periodo do Saddam sob o embargo.
Há que fazer um distinção clara entre a resistência popular Iraquiana às forças de ocupação, e os conflitos entre as milícias religiosas Sunni e Shia. Ambas estas milícias têm representantes no actual governo Iraquiano, e o conflito entre elas (a chamada guerra civil) é um combate por uma maior fatia de poder. Os EUA tem grande responsabilidade pela alimentação de conflitos étnicos e religiosos. Optou desde o início por criar um novo estado dividido segundo linhas étnicas e religiosas (veja-se o conselho governante, a Constituição, o actual governo), embora os Iraquianos na sua maioria não pensassem segundo esses termos: em muitas regiões do Iraque, famílias tinham membros Sunnis e Shias. Ao determinar que as linhas de poder se orientariam segundo essa forma, promoveu-se a ascenção das forças mais sectárias, que ao se encontrarem no poder não hesitaram em colocar as suas milícias no terreno, atacando civis da etnia oposta.
A legitimidade do actual governo é nula. Muito dos seus actuais membros, haviam sido nomeados por Paul Bremer para o governo provisório. Os mesmos apresentaram-se às eleições integrados em organizções com nomes diferentes, mas a linha de condução tendo como origem os EUA é fácil de traçar. E depois há que colocar seriamente em causa a democraticidade das chamadas eleições. Como podem estas ter sido livres se o país está ocupado. Se muitos dos cidadãos nem sabiam onde ficavam as urnas. Se não existe livre circulação, devido às forças militares ocupantes, à milícias e ao medo. A alta percentagem de participação propagandeada é uma mentira. Inúmeros relatos apontam para as urnas terem sido enchidas à última da hora por boletins de votos, tanto nas zonas controladas por Sunnis como por Shias. Uma estimativa mais aproximada da verdadeira participação pode ser obitida consultado os valores para alguns bairros multietnicos, onde vários grupos poderam fiscalizar-se uns aos outros. Numa zona de Bagdad com estas caracterísicas a participação foi de 18%.

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