Marcou-se no passado dia 20 de Março três anos sobre a invasão e ocupação do Iraque por parte dos EUA. Longe de ter “cumprida a missão”, como enunciado por Bush em Maio de 2003, os EUA está atolado num cenário de guerra que não logra controlar. O número de militares estado-unidenses mortos desde o início das hostilidades já ultrapassa dos 2300 e o número de feridos excede os 16 mil [1]. Os militares no terreno vivem em medo de serem vitimas dos ataques diários por parte da resistência Iraquiana. É por demais compreensível que as Forças Armadas dos EUA estejam com sérias dificuldades em recrutar jovens, mesmo economicamente desfavorecidos, para irem combater e arriscar a sua vida. Pelo quê? Pela garantia de “paz na região”, na qual a guerra no Iraque e a agressão Israelita contra o povo Palestino são os principais factores destabilzadores? Pela destruição das alegadas Armas de Destruição Massiva possuidas pelo regime de Saddam, das quais ainda não foram encontradas quaisquer provas, e quando é o próprio EUA a utilizar armas químicas, como o fósforo branco, e quantidades massivas de urânio enriquecido? Para defender uma democracia fantoche fabricada pela máquina de propaganda coorporativa?
Não pode haver uma verdadeira democracia enquanto permanecerem as tropas invasoras. Enquanto estas prendem, torturam e matam indiscriminadamente cidadãos Iraquianos. Enquanto um qualquer soldado Estado-unidense tem mais poder policial e judicial que membros das autoridades Iraquianas. Quando muitos dos cidadãos Iraquianos nem sabem onde são os locais de voto. E quando o país foi “balcanizado” por influência da própria ocupação, em regiões controladas por forças reacionárias Sunitas, Shiitas e Curdas. Para convencer o mundo que as eleições no Iraque foram livres, exagerou-se largamente a afluência às urnas. Mas há inúmeras indicações de fraude eleitoral em regiões controladas pelas milícias religiosas. Por outro lado, em regiões mais multi-etnicas, onde o controlo das urnas foi mais estrito, a afluência rondou os 18%.
Há que desmascarar que esta divisão baseada em traços étnico-religiosos tem vindo a ser incentivada desde o início pelos próprios EUA. É certo que existem regiões maioritariamente de um ou outro grupo, mas existe uma longa tradição de coexistência, na qual famílias têm membros Sunitas e Shiitas. Já durante a administração de Paul Bremer, o poder foi dividido em torno de linhas étnicas. Foi em grande medida Bremer que esboçou o primeiro governo provisório, também reforçando esta divisão. E este por sua vez marcou a estrutura da Constituição e do governo recentemente “eleito”. A dita “guerra civil” não é mais que uma luta pelo poder entre facções políticas de raíz religiosa presentes no governo e desde o início patrocínadas pelos EUA.
Há que não confundir esta guerra com a resistência popular do povo Iraquiano contra a ocupação e contra a entrega do poder aos fundamentalistas. O dirigente da resistência Iraquiana Jabbar al Kubaysi, durante a sua recente visita a Lisboa, falou numa cultura de resistência entre o povo Iraquiano. Esta tem vindo a alargar-se em número e a extender-se a todo o território, porque o povo do Iraque não tem outra saída senão resistir. A taxa de desemprego ronda os 70% e o tecido produtivo foi destruído ou levado à falência. Os únicas empregos disponíveis são vender informações às forças ocupantes – onde também funcionam as leis do mercado, de forma que o preço da informação tem vindo a descer, tal como a sua credibilidade -, entrar para as forças policiais das autoridades, ou para as mafias e milícias religiosas. A maioria do povo Iraquí tenta sobreviver, com menos de duas horas de electricidade por dia, com o sistema público de saúde e a rede alimentar desmantelados, sob o risco de ser preso arbitrariemente ou raptado pelas mafias, com medo diário de enviar as suas crianças para a escola, e com as forças ocupantes a sugarem os seus recursos naturais. As mulheres Iraquianas, que sob Saddam beneficiavam das protecções mais progressistas de todo o mundo Árabe, talvez até mais que em Portugal, sofrem de forma particularmente dura. É natural que se levante e tente por todos os meios à sua disposição combater a ocupação.
Consta que no gabinete do Secretário de Defesa Donald Rumseld, está emoldurada a seguinte frase: “Quando confrontado com um problema irresolúvel, alarga-se o problema”. O risco sério é que em vez de os EUA se retirarem do Iraque, como o exige o povo Iraquiano, venha ainda a envolver outros países da região, como a Síria e o Irão, na sua estratégia militar.
[1] http://icasualties.org/oif/
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