quarta-feira, junho 21, 2006

Direitos e Deveres

Eu insisto em ler e ouvir a oposição ideológica, são eco do que anda a pensar o poderes vigentes ('powers than be'). Os periodicos económicos são onde o ideólogos sentem menos rêdeas, menos pudores, e portanto sem o adoçante com que nos impingem suas teses. Mesmo em termo de notícias são óptimas fontes. O Noam Chomsky diz mesmo que o Wall Street Journal traz notícias mais relevantes para os trabalhadores que o New York Times ou Washingtom Post, notícias mais honestas, porque, enfim, os empresários têm de saber a verdade para determinarem os seus investimentos.
Mas de vez em quando aparecem artigos que não dão para acreditar. No Diário Económico de 19 de Junho, veio um artigo de opinião de um tal Jorge A. Vasconecellos e Sá, que tem esta tese extraordinária, a propósito dos 1,200 empregados da Azambuja, ameaçados de deslocalização da General Motors:
”Pelo direito a melhores condições salariais”, segundo um delegado sindical. Uma pessoa, pára, olha e pensa: Direito? Em que mundo vivem estas pessoas? Vejamos... um direito só existe na prática quando alguém tem o correspondente dever: de não fazer ou de fazer. Sem a obrigação deste, o direito daquele não existe. quem tem o dever (de pagar)? Os gestores? Mas estes representam os accionistas. Pelo que se aqueles tiveram subdesempenho, estes demitem-nos ou retiram o dinheiro. Os governantes? Mas estes representam os contribuintes. E a sua responsabilidade moral prioritária não é para os que têm algo e querem mais (ou igual), mas sim para os que não têm nada e querem algo: os doentes; os desempregados; os reformados; e os estudantes. ? ... Donde não há ninguém com um dever/obrigação que corresponda na prática ao direito dos empregados da Azambuja. Pelo que o direito destes é teórico, sem concretização real. É pois um direito de outro mundo, da Lalalândia ou do planeta Zorg. E talvez aí a personagem Oris ou Bug esteja disposta a passar o cheque. Neste mundo, não vejo ninguém.
Como cidadão do planeta Zorg, faço notar que JAVES não menciona os accionistas, que na sua lógica têm direito a tomar decisões para maximizarem o seu lucro especulativo. Se têm esse direito é porque alguem tem um dever de o garantir. Será o dever dos trabalhadores serem explorados, contribuirem com a sua mais-valia para o bem-estar dos especuladores? O direito a melhores salários é um direito conquistado, a custo, na luta de classes. O direito à greve vem garantido na Constituição Portuguêsa (Art. 57, ponto 1) não podendo a lei limitar o "âmbito de interesses a defender através da greve". Então eles haviam de fazer greve para quê? Para defender o direito de exploração?! O JAVES deve achar que os trabalhadores devem fazer sacrifícios para facilitar o trabalho dos gestores e governantes em evitar as deslocalizações - numa recente proposta patronal aos trabalhadores da Delphy, produtor da partes automóveis nos EUA, os salários seriam reduzidos em 70%! . A prática demonstra que as deslocalizações acabam por suceder, e os trabalhadores comeram com os sacrifícios para benefício de quem? Até onde a espiral descendente? Ou é só balelas que quermos mudar para um modelo económico que não esteja baseado nos baixos salários?

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