O petróleo não explica todos os conflitos, mas ajuda a contextualizá-los.
Coincidente com o início do conflito no sul do Líbano, no dia 13 de Julho foi inaugurado o oleoducto Baku-Tblisi-Ceyhan (BTC), que liga Baku, no Mar Cáspio, a Ceyhan no Mediterrâneo Turco. O consórcio responsável pelo BTC é liderado pela British Petroleum (BP), e inclui também a Chevron (EUA), Total (França) e ENI (Itália). Este circuito permite evitar o território Russo no transporte de petróleo do Cáspio, passando antes pelo Azerbeijá e Georgia, que figuram já na esfera de influência dos EUA e NATO.
Ambos países têm também acordos militares com Israel, cujas importações de petróleo incluem 20% de petróleo do Azerbeijão. O BTC vai aumentar o potencial de importação de petróleo cáspio.
Israel terá um papel importante na protecção do BTC, e os planos de Israel, apoiado pelos EUA, em alcançar um posição de força no Mediterrâneo Oriental, avançando sobre o Líbano, não estarão desligados do BTC, que veio tranformar o interesse geoestratégico do Mediterrâneo Oriental.
Existem planos para um oleoducto subaquático entre Ceyhan e o porto Israelita de Ashkelon e daí, através do sistemas de oleoductos Israelitas, para o Mar vermelho, no porto de Eilat. O eixo Ceyhan-Ashkelon-Eilat permitirá tranferir eficazmente petróleo do Cáspio para os mercados asiáticos, e fará de Israel o centro estratégico desse eixo, enfraquecendo o papel da Rússia, subvertendo a importância dos oleoductos (mais compridos da China para a Ásia Central), e isolando o Irão.
Concomitantemente, a Russia tem planos para uma base naval no porto Sírio de Tartus, a 30km da fronteira com o Líbano. Em troca, a Russia irá modernizar as defesas da Síria, incluindo a modernização dos MIG-29, dos seus submarinos, e forças terrestres.
Tanto os oleoducto entre a Turquía e Israel, como os 4 aquaductos entre os dois países anunciados em April deste ano, necessitam de protecção. Se forem subaquáticos, será necessário controlo do litoral do Líbano e Síria. Se forem terrestres, haverá que garantir um corredor terrestre nesses países.
Estes dados apenas reforçam os motivos geoestratégicos no conflito no Líbano, que estão muito além da questão de segurança civil e da desmilitarização do Hezbollah. O General Wesley Clark revelou que já em Novembro de 2001, o pentágono se referia a uma campanha quinquenal, involvendo o Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão.
Este conflito tem revelado com pecaminoso detalhe a confluência de interesses entre os EUA e Israel. Uma notícia do Guardian (2 de Agosto) revela que as bombas usadas nos ataques a Qana eram BSU 37/B ("bunker-busters"), fabricadas nos EUA. Em sí tal não é surpreendente, já que os EUA são o principal exportador de armas para Israel. Mas será certamente chocante que os EUA tenham enviado 100 bunker-busters GBU-28 para Israel já depois de 12 de Julho, num claro apoio militar à ofensiva.
quarta-feira, agosto 02, 2006
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