quinta-feira, junho 21, 2007

sistema de saúde doente


No final do mês, estreia nos EUA o último filme de Michael Moore, «Sicko», dedicado ao sistema disfuncional de saúde nos EUA, com 40 milhões de pessoas sem acesso ao sistema de saúde. Mas o documentário alerta também para a situação dos 250 milhões de pessoas que tendo um serviço de saúde providenciado por companhias de seguro médico privadas (as Health Maintenance Organizations, ou HMOs) são muitas vezes privadas de efectivo acesso aos cuidados necessários, pois estes vão contra a principal responsabilidade destas companhias ... perante os accionistas – obter lucros e valorizar a quotação das suas acções. O mecanismo é o mesmo se se trata de um procedimento simples ou caro, de prevenção ou crucial para a sobrevivência do paciente – se implica ao HMO fazer um pagamento, isso implica uma despesa. A companhia só tem lucro se não pagar os cuidados médicos.

No trailer vê-se Moore a tentar levar três doentes, que trabalharam nos destroços dos edifícios do World Trade Center, ao único território dos EUA onde os cuidados médicos são de graça: a prisão de Guantánamo. Não podendo levá-los aos serviços prisionais, Moore visita a vizinha Cuba, e reporta sobre o seu sistema de saúde. Esta visita já levou as autoridades dos EUA a investigarem a visita de Moore, alegadamente um incumprimento do embargo dos EUA a Cuba. Moore defende que o embargo permite a visita jornalistica (ver).

O mercado de saúde dos EUA tem verficado aumentos vertiginosos dos preços de consultas médicas e medicamentos, de tal forma que mesmo as pessoas com seguro médico e cujo seguro co-paga os cuidados têm muitas vezes dificuldades em assegurar o pagamento do restante custo. De tal forma que a principal causa de bancarrota pessoal, nos EUA, é a incapacidade de pagamento dos cuidados de saúde.

Do que é cobrado ao doente pela oferta de cuidados médicos, 15-30 % são para cobrir despesas administrativas dos HMOs. Por contraste, os custos administrativos do sistema de saúde público canadiano correspondem a 1.7% do seu orçamento.

Prevejo que quando o filme estrear em Portugal, muitos irão vê-lo, distanciadamente, como mais um documentário sobre aquela estranha terra que é os EUA. Isso até valeria para o documentário sobre a posse de armas e violência, Bowling for Columbine. Mas neste caso, há paralelos muito relevantes com o caso Português que importará sublinhar. Pois, há traços da reforma do Sistema Nacional de Saúde, da sua privatização de Hospitais e liberalização das farmácias, que podem, caso não sejam freadas, conduzir a uma situação tão amoral como a dos EUA.

2 comentários:

Samir Machel disse...

Relembra-vos algum relatório?

Samir Machel disse...

Secreto? Talvez em Portugal?