domingo, dezembro 09, 2007

Guantanamo tem de fechar; Portugal tem responsabildiade

Um novo artigo de Steven Grey — autor do livro Ghost Plane, sobre as rendições extraordinárias e os vôos secretos da CIA —, publicado no Sunday Times (25 Nov), revela que foram descobertas mais evidências demonstrando como a Turquia, Grécia, Itália, Espanha e Portugal ajudaram os EUA no transporte de prisioneiros para Guantanamo.

Um inquérito da deputada europeia do PS, Ana Gomes, revelou não só mais registos de vôo como planos de vôo militares sensíveis, que até agora permaneceram secretos. O registos indicam como a maior parte dos prisioneiros trocaram de avião numa base militar da Turquia e sobrevoaram o espaço aéreo Grego, Italiano e Português. Outros terão aterrado em Espanha: incluindo o cidadão britânico Feroz Abbasi, então com 21 anos, e o Australiano David Hicks.

Mas Portugal ofereceu mais que o seu espaço aéreo. A consulta da base de dados dos vôos no site GhostPlane revela cerca de 30 vôos de aviões da CIA nos Azçores, e outros tantos no Continente. Mais: conhecem-se apenas 5 locais de partida para vôos directos até Guantanamo: Líbia, Marrocos, Turquia, EUA, e os Azores.

O Comissário do Conselho Europeu para os Direitos Humanos, Thomas Hammarberg, terá afirmado: «O que sucedeu em Guantanamo foi tortura [é tortura teria sido o tempo verbal correcto] e é ilegal albergar ou assistir em tornar esta tortura possível. Sob a lei, os governos Europeus deviam ter intercedido e não deviam ter permtido que estes vôos ocorressem.» Ana Gomes acrescentou:«É claro para mim que Guantanamo não poderia ter sido criado sem o envolvimento dos países europeus.»

Grey cita ainda o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que justificou os sobrevoôs como estando ao abrigo das «Nações Unidas e Nato e que Portugal segiu naturalmente o princípio de boa fé nas suas relações com os seus aliados». O papel da NATO em Guantánamo resulta de um acordo secreto dos seus membros, celebrado em Bruxelas em Outubro de 2001. Segundo Lord Robertson, então secretário de defesa britânico e mais tarde secretário-geral da NATO, o acordo deu carta branca para sobrevoôs de aviões militares dos EUA e outros aliados relacionados com operações anti-terrorismo. Mas numa carta a Ana Gomes, o actual secretário-geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer, afirmou que «nenhum avião da NATO voou para ou de Guantanamo», e que a NATO «como organização não tem qualquer involvimento ou papel coordenador em dar permissões para vôos ou direitos de sobrevôo.»

4 comentários:

Fernando Samuel disse...

É comovente, a «boa fé» do ministro...

Curiosa Qb disse...

Voos acordados que deram acesso a que alguns voassem a outros cargos virando costas ao seu país.

Curiosa Qb disse...

Petição em Prol das Crianças Vítimas de Crimes Sexuais

Até ao momento (13/12/2007):
2138 assinaturas online
2600 assinaturas forma convencional (manual)
4738 total

A sociedade civil mexe. A corrente cresce.

A todos os que têm colaborado nesta causa, muito obrigada.

Anônimo disse...

O tema do mais recente filme de Gavin Hood é o programa da CIA que tem sido justificado pela Administração norte-americana como necessário para a obtenção de informações que visam proteger a segurança nacional e consequentemente a vida de milhares de pessoas. O recurso a técnicas intensivas de interrogatório é objecto de escrutínio e a pergunta impõem-se: até onde estamos dispostos a ir enquanto civilização em nome da segurança nacional? É aceitável o uso de técnicas de tortura para evitar o terrorismo? Petrificante é descobrir que uma pergunta de resposta óbvia... merece afinal um second thought por parte da opinião pública americana. Afinal, não é evidente para todos que a tortura é um crime e uma violação dos direitos humanos. O filme chama-se RENDITION e aqui fica o trailer: http://opoderdegrayskull.blogspot.com/2007/12/um-programa-da-cia-chamado-rendition_6667.html. Com Jake Gyllenhaal e Meryl Streep.