quarta-feira, abril 15, 2009

Vitória de Morales

Conquistar cargos políticos de proeminência, por via eleitoral ou revolucionária, é apenas o início do processo de transformação social, política e económica. São conquistas a celebrar, mas que não devem por fim ao processo que lhes deu aso. Pelo contrário, devem servir como factor de mobilização para as batalhas contra a reacção que inevitavelmente se seguem, para solidificar o já conquistado e aprofundar o processo, sob pena das forças conservadores conseguirem, por vias legais ou conspirativas e usando os meios ainda em sua posse (média, sectores económicos, algumas franjas do poder político, apoio do imperialismo) para reconquistarem o monopólio do poder político. A fragmentação das forças progressistas face à reacção unida é um risco a ter sempre presente, devendo ser contrariando com o fomentar de uma frente unida de transformação. A história do pós-25 de Abril é sobre o tema um exemplo muito próximo. Mas as mesmas preocupações têm lugar nos processos em curso na Venezuela ou Bolívia.

Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia em 2005, com 53.7% do voto, tornando-se o primeiro Ameríndio a liderar o país e o primeiro candidato a ganhar uma maioria. Desde então tem procurado transformar o país, a sua organização económica (com um processo significativo de reforma agrária e renacionalização dos recursos de hidrocarbonetos), e torná-lo mais soberano e independente das forças imperialistas. Mas durante a sua presidência teve de enfrentar a Câmara Alta (ou Senado) onde a maioria lhe é oposta . À semelhança do sucedido na Venezuela, houve necessidade de alterar a constituição por forma a dar mais poder e direitos à maioria da população empobrecida, e dar condições de continuidade ao processo de transformação. Em 2006, foi constituida uma Assembleia Constituinte, cujo funcionamento sofreu os efeitos da reacção e das forças conservadores (expressas em boicotes dos delegados conservadores, instigação de manifestações violentas e ameaças de autonomização de algumas regiões mais ricas e controladas pelos sectores conservadores), forçando mesmo a Assembleia a mudar de localização, por razões de segurança. O texto final foi apresentado à Câmara Baixa (ou Congresso), em Outubro de 2008, e sujeito a referendo no passado 25 de Janeiro de 2009, tendo sido aprovada por 61.7% da população.

Apesar do claro apoio a favor de reformas políticas, no início de Abril, o Senado recusou-se a aprovar a reforma da lei eleitoral, que daria mais poder à população indígena (incluindo 14 lugares no Congresso - de 130 lugares - para as minorias indígenas, e alargando o direito de voto aos Bolivianos no estrangeiro) e permitiria a nova candidatura de Morales. A 9 de Abril os membros do partido de oposição, Podemos, abandonaram o Congresso, exigindo modificações à lei eleitoral e a adição de um novo processo de registo eleitoral.

Face ao bloqueio do Senado, Morales manteve vigília no palácio presidencial, dormindo num colchão no piso do palácio, e entrou em greve de fome juntamente com outros líderes sindicais membros do seu partido o Movimiento al Socialismo (MAS).

A 12 de Abril, Morales consentiu à implementação da nova forma de registo eleitoral. O MAS havia colocado que não havia condições financeiras e logísticas para implementar o novo processo até às eleições este Dezembro. Mas Morales decidiu prescindir da aquisição de um avião presidencial (Morales é o presidente boliviano que fez mais viagens diplomáticas internacionais), por forma a libertar fundos para o novo registo. Concordou também em reduzir de 14 para 7 o número de lugares no Congresso reservados às minorias indígenas. Mas continuou a sua greve de fome até a lei ser aprovada pelo Senado (um total de 5 dias).

Morales, líder sindical de tradição, que há enquanto sindicalista havia efectuado greves de fome, foi acusado de "ridículo" por membros do Podemos e acusado de chantagear o Senado. "Ridículo" não seria certamente o termo que usariam para descrever as marcantes greves de fome do líder Indiano, Mohandas Ghandi. O acto de entrega e coragem de Morales só o dignifica como líder político, como um Presidente que entende bem que mesmo no poder há que lutar, que o processo de transformação em curso implica batalhas constantes, e que em cada uma delas há que dar o couro e colocar, se necessário, encravar com o corpo os mecanismos da reacção. Saludos Evo!

2 comentários:

Anônimo disse...

Drugariu,já leste o odiario?
http://odiario.info/articulo.php?p=1124&more=1&c=1
A tenativa de assassinar Evo Morales na 5ª feira.Os media,a vozes do dono,nada dizem.Palavras para quê?

Anônimo disse...

Ouçam a nova música da Banda Zé Ninguém:

Corrupção

Corrupção em Portugal
Não vai nada nada mal
Este país é a loucura
Está pior que uma ditadura

O governo é uma piada
Nem o circo tem tanta palhaçada
Este país à beira mar
Vamos todos afundar

Por isso eu digo não
Por isso eu digo não
À corrupção
À corrupção

E depois, quem vai pagar!
Andamos todos a brincar!
Nem o gato nem o cão!
Eu aposto um milhão

Autarquia fraudulentas
Presidentas pestilentas
Sabem de quem estou a falar
Ou é preciso explicar?

Senhoras e senhores:
Bem vindos a Portugal!
O País mais corrupto da Europa!
Mais corrupto da Europa!
Não tenha medo, aqui ninguém vai preso!
Ninguém vai preso!
Mais corrupto da Europa!
Mais corrupto da Europa!

Este país é uma demência
É uma grande decadência
Autarquia fraudulentas
Presidentas pestilentas

E depois, quem vai pagar!
Andamos todos a brincar!
Nem o gato nem o cão!
Eu aposto um milhão

Por isso eu digo não
Por isso eu digo não
À corrupção
À corrupção

Banda Zé Ninguém
www.myspace.com/bandazeninguem