terça-feira, agosto 28, 2007

A semana passada a senadora e candidata presidencial Hillary Clinton e o Senador democrata e líder do Comité das Forças Armadas do Senado Carl Levin apelaram à subsituição do primeiro ministro Iraquiano Nuri al-Maliki, por não ter alcançado as metas estipuladas pelo Senado dos EUA.

Até já há um possível substituto: "Ayad Allawi, está a pagar 300 mil dólares a uma empresa de lobbying de Washington muito próxima da Casa Branca para se promover a si próprio e minar a imagem de Maliki. A poderosa firma republicana contratada por Allawi é a Barbour, Griffith & Rogers (BGR), cuja secção internacional é chefiada por Robert Blackwill, outrora o homem forte do presidente Bush para o Iraque, que vai encabeçar a operação de lobbying a favor de Allawi." (1)

Esta postura não deixa de ser natural por parte de um país ocupante, como se este é que estipulasse o programa de governo. Já não basta ter celebrado a suposta democracia das eleições, que tiveram lugar sob enormes limitações à participação, para agora não respeitarem os seus resultados. Respondeu al-Maliki:«"A Sra. Hillary e Sr. Carl não tiveram o desfortúnio durante as suas vidas políticas de lidar com disputas e problemas políticos profundos, como os existentes no Iraque. Portanto quandos fazem juízos, deviam fazê-lo duma posição de ignorância sobre o que é exigido para a reconciliação nacional. Daí que eu os desculpe e diga: está a ter lugar a reconciliação nacional, e embora possa parecer um processo lento, é rápido quando comparado com outros processos semelhantes (noutros países).»

Contrariamente a al-Maliki, há quem considere que o Iraque se está a fragmentar em cidades estado, que a organização dos serviços e economia já não passa pelo governo central, que Bagdade já não é o centro de todo o país, que porventura já não faz sentido falar do Iraque enquanto entidade nacional, mas antes de várias zonas de influência de diferentes milícias sunis, xias, kurdas, e dos estados-unidos.

A principal vítima da desagregação provocada pela invasão e ocupação é o povo iraquiano. A crise de desalojados agravou-se no passado ano, tendo duplicado desde o aumento do número de tropas estadunidenses: são neste momento mais de 1.1 milhões de Iraquianos internamente desalojados. Estima-se que a taxa de mortalidade tenha aumentado de 33 morte por dia o ano passado, para 62 mortes por dia.

Aumentou também, em 50%, o número de prisioneiros Iraquianos em prisões geridas pelos EUA: estes detêm cerca de 24500 prisioneiros, na sua maioria alegados resistentes.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Os Partidos são todos iguais?

«Os Partidos são todos iguais!» Eis uma daquelas afirmações que se vão tornando convenção social. Mas em vez de traduzir uma vontade de "os partidos" assumirem as suas responsabildades, cumprirem as suas promessas, revelarem transparência, e implementarem o programa constitucional, é um encolher de ombros que propaga a complacência e a abstenção, e reforça o afastamento entre os cidadãos e o poder político. A quem serve essa atitude? Ora, aos partidos que tem ocupado o poder nos últimos 33 anos de democracia.

Infelizmente, há verdade na afirmação. "Os partidos"são meros convênios de personalidades desejosas de assumir poder e influência. Debatem como chegar ou manter-se no poder. Criticam o executivo e quando chegam ao governo executam a mesma política única. Enchem os bolsos dos ricos, variando apenas a cor das calças. Os confrontos internos nesse clubes políticos reflectem sobretudo rivalidades entre grupos de interesse, mais que diferenças programáticas ou até estratégicas. Os seus membros oscilam no seu envolvimento no partido consoante a sua proximidade ao poder. E algumas das suas personalidades mais destacadas preferem o protagonismo mediático.

Mas há "os partidos" e O Partido. Assim era referido o Partido Comunista Português durante o fascismo, por ser o único partido que durante esse perido negro de 49 anos persistentemente resistiu e combateu o regime, promevendo um programa democrático, de paz e cooperação, e pelo socialismo. Pode manter-se activo devido às suas caracteristicas de organização, à disciplina, fraternidade, abnegação, e entrega dos seus militantes. O PCP e os seus militantes ainda promove essa forma de estar na política. Daí que o PCP não seja um partido como os outros.

Um militante do PCP eleito para um cargo político sabe que irá exercer essa tarefa não para benefício próprio, mas para benefício da população que irá representar e defender. Os deputados do PCP na Assembleia da República são os únicos que não beneficiam dessa posição em termos de remuneração: recebem apenas o equivalente à sua profissão, remetendo o restante para o partido. Executam a sua tarefa não para benefício pessoal, prestígio e promoção social, mas para advogar as propostas do programa do partido na qual os eleitores votaram. E assumem essa responsabilidade com a máxima seriedade e dedicação. A prová-lo estão (mais uma vez) as estatísticas da actividade parlamentar. Vejam os números referentes à última sessão legislativa (a 2ª sessão da X legislatura). O gráfico diz respeito apenas aos Projectos de Lei que deram entrada nessa sessão, demonstrando claramente o destaque do trabalho legislativo realizado pelo grupo parlamentar do PCP. Essa produção é tanto mais significativa se tivermos em conta o tamanho relativo dos diferentes grupos. Enquanto o PCP produz cerca de 2 Projectos de Lei por deputado, a cada PL do PS ou PSD correspondem pelo menos 5 deputados. O mesmo sucede com Projectos de Resolução, Apreciações Parlamentares, Requerimentos.

Os números tornam evidente que também é falsa a "boca fácil" de que «a oposição só critica, não avança com propostas». Depende, se falamos da outra metade do Partido Único (durante esta legislatura o PSD), ou da efectiva oposição à ideologia e programa económico e social no poder. Essa sim, avança com alternativas.

Estes número fazem também questionar a proposta de reforma da lei eleitoral que visa diminuir o número de deputados na AR. Essa proposta assenta nestes mitos que se vão propagando sobre a actividade parlamentar, mas visam apenas reforçar o peso relativo dos grupos parlamentares que menos fazem e limitar ainda mais a capacidade de trabalho dos que promovem o confronto democrático de ideias.

Voltando ainda à diferente atitude dos militantes do PCP e dos sócios dos outros partidos: os dias de eleição é um outro momento que separa as águas. Enquanto os membros afiliados ao PCP entregam ao Partido o dinheiro pago para estar nas mesas de voto, os restantes partidos procuraram quem esteja interessado em depositar o cheque na sua conta, recorrendo muitas vezes a simpatizantes de outras forças políticas, ou pior, pessoas sem qualquer experiência e genuíno interesse em particpar nesse momento alto da democracia. Quantas vezes não ouvi já membros das mesas dizerem que se não fosse o cheque não estariam alí, já para não falar na folga do emprego no dia seguinte.

E quem diz participar na mesa de voto, diz também participar num comício. O "casting" de comícios é prática comum nos partidos de direita. O recente caso no PS é apenas uma gota no oceano. Quer seja pagando os participates, quer seja enfiando-os em camionetes supostamente destinadas a Fátima, quantos comícios do PS e PSD são meras encenações. Nem os seus simpatizante ou militantes conseguem motivar a ir participar nestes eventos.

Mas na margem sul do Teja, na Atalaia, milhares de comunistas dão generosamente o seu tempo livre, o seu trabalho, para construir a Festa do Avante!. Não é um mero comício de rentrée política, nem um qualquer festival de verão. É tudo isso e mais. «Não há festa como esta» não é apenas uma lema de propaganda, é a realidade. Que outro evento tem música, debate político, teatro, comida de todo o país, artesanato, arte, divulgação científica, desporto, etc. Que outro evento reune pessoas de todas as idades, vindas de todo o pais. Que partido conta com militantes e simpatizantes que asseguram a construção, o serviço, a culinária, a limpeza, a segurança, sem esperar daí outro benefício senão contribuirem para o evento mais lindo e fraterno em Portugal. Não me venham dizer que todos os partidos são iguais. Pois como o PCP não há nenhum.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Marcha para guerra contra o Irão

Meses atrás escrevi sobre o reposicionamento de navios e misseis estadunidenses que faziam prever um ataque eminente dos EUA ao Irão. Felizmente esse ataque não teve lugar ... ainda. O momento oportuno ainda não terá sido encontrado, as condições ainda não estão suficientemente férteis, mas a intenção persiste, tal como os insistentes ataques na praça pública, incluindo alegações de ligação ao terrorismo.
  • Os EUA vai adicionar a Guarda Revolucionária do Irão - um equivalente da GNR portuguesa - à sua lista de grupos terroristas em resposta ao seu alegado envolvimento no Afeganistão e Iraque. O porta voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, afirmou «Têm tentáculos numa gama variadade de actividades, incluindo empresariais e bancárias; todos sabemos [!] que eles apoiam esses grupos qe perseguem os nossos soldados no Iraque, que fornecem armas aos Taliban no Afeganistão, e também tem havido muitas informações sobre as suas ligações ao Hezbollah e outras organizações terroristas». O Irão desconsiderou as acusações e um porta voz da Guarda Revolucionária limitou-se a afirmar que iriam seguir crescendo em tamanho e preparando-se para responder em caso de ataque estadunidense
  • No dia 5 de Agosto, o Presidente Afegão, Hamid Karzai, apareceu na CNN e disse claramente que o Irão tem ajudado e sido uma influência positiva sobre o Afeganistão. Ignorando estas declarações, Presidente Bush, no dia 6, numa conferência de imprens conjunta, acusou o Irão de ser uma força destabilizadora. No dia 14, em Kabul, o Presidente Iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, reuniu com Karzai e negou as acusações: «A nossa política é clara e como temos anunciado, apoiamos firmemente o processo político no Afeganistão. A segurança no Afeganistão tem um grande impacto sobre o Irão, porque temos uma extensa fronteiro comu. Ao Irão convem que o Afeganistão seja estável. Queremos queo nosso melhor amigo seja um país poderoso, desenvolvido e estável.»
As alegadas ligações entre os Taliban e al-Qaeda, forças fundamentalistas Sunni, com a teocracia Xia do Irão faz lembrar a ignorância demonstrada por elementos das forças de inteligência dos EUA quando questionados pelo Congresso ao não saberem referir se diversos líderes árabes era xiias ou sunnis. Fazendo uma comparação com a história europeia, estas alegações são tão ridículas como acusar o Vaticano de ter armados os Hugenots em França. O ironia suprema é que os EUA continuam a considerar o Pakistão seu estreito aliado quando existem evidências abundantes de que a principal via de recrutamento e armamento dos Taliban provêm deste país.

Os paralelos entre a presente escalada contra o Irão com a que precedeu a invasão do Iraque são mais que evidentes. E contribuindo para bater os tambores de guerra, está a cadeia de televisão FOX de Robert Murdoch. Vejam um video produzido por Robert Greenwald comparando a linguagem belicista e as mentiras passadas como factos antes da invsão do Iraque e agora.

terça-feira, agosto 21, 2007

Famílias Iraquianas sob a ocupação



[Tradução da Locução]

Locutora: O Município de Al Musaiab no sul de Bagdade tem o mais alto número de famílias desalojadas devido a violência e migração forçada. Um oficial do Ministério de Desalojamento e Migração em Babel declarou que o número de famílias desalojadas em Al Musaiab é superior a 2400. O número de famílias desalojadas em todos os municípios de Babel é superior a 6000, a maior parte dos quais enfrente dificeis condições de vida.

Reporter (voz off): Dezenas de famílias desalojadas enfrentam depravação, pobreza, doença e vivem rodeados de montes de lixo e entulho. Cerca de 600 famílias Iraquianas foram forçadas a abandonar as suas casas e familiares por razões económicas e de segurança. Construiram as novas casas de latas entre montes de lixo e água poluida. Sim, estas cenas são do berço da civilização. O Iraque é rico em recursos e tem terra muito fértil, mas as suas pessoas morrem de fome e sede, e sofrem migração forçada e violência. As famílias Iraquianas estão a viver em pantanos e as crianças brincam com lixo e bebem o liquido que resta em garrafas deitadas fora. É como tivessemos voltado à idade média, quando as pessoas eram forçadas a viver onde não podiam encontrar água e comida.

Entrevistado: Não sabemos donde vem esta água. Não sabemos se é saudável bebê-la. Temos de sobreviver.

Reporter: A mãe teve a coragem de expressar os problemas e protestar contra a dificuldade de viver numa casa feita de latas num clima extremamente quente.

Entrevistada: Está muito quente. Não temos abrigo deste calor. A única coisa que podemos fazer é cobrir-nos com roupa. Suamos muito, mas não temos água suficiente; mal conseguimos 1-2 recepientes de água cada 3 dias.

Reporter: As casas das famílias desalojadas são indistintas das pilhas de lixo, um resultado óbvio da situação no Iraque.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Protesto contra milho trangénico no Algarve

No passado dia 17, mais de uma centena de activistas invadiram os cerca de 50 hectares da Herdade da Lameira, em Silves - a primeira no Algarve com plantação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), em particular milho trangénico (MON 810) comercializado pela multinacional Monsanto, que confere resistência a uma larva de insecto.

Em 2004, o Algarve foi a primeira região do país a declarar-se livre de culturas com OGMs, declaração feita pela Junta Metropolintana do Algarve. Mas desde então o cultivo de OGMs em Portugal tem crescido, e alargou-se até ... o Algarve. Há data, só o concelho de Lagos está em vias de se tornar zona livre de transgénicos (ao abrigo da portaria 904/2006), tendo enviado no dia 20 de Agosto, o processo à Direcção Regional de Agricultura do Algarve.

O comunicado da Verde Eufémia, associação que organizou a acção, declara: «O objectivo é restabelecer a ordem ecológica, moral e democrática que tem sido constantemente deteriorada pelas políticas de União Europeia e pelo governo português; [trate-se de uma] acção de desobediência civil contra o primeiro campo transgénico do Algarve». (1)

O proprietário José Menezes afirmou: «É disto que os meus filhos e mulher vivem. É a única fonte de rendimento. Se ceifarem este milho, eu morro à fome». (A destruição tão pouco terá sido tão dramática. Os manifestantes terão destruido meio hectar (3) de uma propriedade com 50 hectares.) Defendou-se declarou que o seu cultivo está legal, respeitando as distâncias de segurança e as exigências impostas para o cultivo de OGM (transgénicos).

O Presidente da República, Cavaco Silva, reagiu defendendo a sanctidade da propriedade privada: «A violação de propriedade privada é uma violação da lei e espero bem que as autoridades competentes não deixem de fazer as investigações necessárias». (2) Pena que não tenha aproveitado a ocasião para lançar um necessário e atempado debate público sobre o cultivo de OGMs em Portugal.

É claro que os manifestantes violaram a lei. Faziam-no em consciência, protestando uma lei que consideram errada. É seu direito moral protestarem dessa maneira, tendo de estar preparados para sofrer as consequências legais, incluindo eventualmente compensação do proprietário. Esse é o cerne da desobediência civil, sem violência directa contra terceiros, mas quebrando a lei. Contrariamente ao que as vozes apostólicas do status quo nos fazem querer, a lei não foi feita para cumprir, a lei foi feita para impôr uma ordem. E se essa ordem constituir um atentado contra a saúde pública e ecológica? Ou uma violação da tradição milenar de colher as sementes num ano para as plantar no ano seguinte? É que o Sr. Menezes terá que comprar novamente para o ano mais sementes à Monsanto, e assim todos os anos, devido às clausulas proprietárias das plantas trangénicas. Talvez por isso Gualter Baptista, do Verde Eufémia, tenha oferecido ao agricultor "milho biológico para semear, caso quisesse abandonar os transgénicos".

terça-feira, agosto 14, 2007

Fosso salarial


Segundo números divulgados pelo Eurostat, em 2005 os 20 por cento dos portugueses mais ricos tiveram salários 8,2 vezes superiores aos 20 por cento mais pobres. O fosso salaria portuguese volta assim a bater recordes, estando quase duas vezes acima da média europeia a 15.

Segundo o Jornal de Negócios, o fosso salarial em Portugal começou a agravar-se em 2000, após a chegada do Euro.

Dados avançados pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários mostram que os ordenados dos presidentes dos Conselhos de Administração das empresas do PSI-20 mais do que triplicaram entre 2000 e 2005.

De acordo com o Jornal de Negócios, os vencimentos dos administradores foram, em média, 33 vezes superiores aos dos trabalhadores tendo crescido nove por cento entre 2005 e 2006 por comparação com os dos restantes funcionários com aumentos não acima dos cinco por cento.

terça-feira, agosto 07, 2007

Nunca mais

Este relógio foi encontrado nos escombros de Hiroshima, marcando a hora da primeira explosão nuclear usada como arma de guerra. 8:15. 1945. Há 62 anos o Enola Gay libertava o Little Boy sobre uma população civil insuspeita do inferno que iria cair sobre ela. Nos 5 kilómetros em torno do local de impacto, 2/3 dos 90,000 edifícios foram arrasados. Cem mil pessoas morrem imediatamente. 145,000 morrerão devido a ferimentos até ao fim do ano de 1945. Cerca de 70 mil morrem por efeito da radiação nos 5 anos seguintes. Milhares de crianças nascerão com defeitos devido à radiação a que os pais foram sujeitos. (mais fotos)
Quando recebeu notícia do bombardeamento, o Presidente dos EUA, Harry Truman terá declarado "Este é o maior dia da história". Um dia de infámia, que nos força a levar muito seriamente o propósito da actual administração Bush e as forças militares dos EUA de utilizar armas nucleares como táctica de prevenção.

Eis o comunicado do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC)

Há 62 anos que a humanidade foi confrontada com o lançamento das primeiras bombas atómicas, em acto de guerra, sobre populações civis. Duas cidades foram instantaneamente aniquiladas. Foram essas as primeiras armas de destruição maciça alguma vez utilizadas. Já tinha acabado o inferno da guerra na Europa, na Africa, no Próximo Oriente. As populações ainda festejavam o final da guerra mundial. No Japão, muitos milhões de homens e mulheres acalentavam, certamente, a esperança certa do fim rápido das hostilidades com o seu país. A guerra, que nunca tivera sentido para os povos, ainda menos tinha na sua insensata continuação. O Japão estava isolado, cercado, derrotado. Mas para as populações das cidades de Hiroshima e Nagasaki o inferno dos infernos iria acontecer. Um acto militarmente gratuito iria fazer prevalecer o pesadelo da guerra por gerações.


O lançamento das 2 bombas atómicas sobre aquelas cidades mártires relançou uma irracional corrida armamentista. Desde então a humanidade vive sob a ameaça de outras catástrofes nucleares. O poder do arsenal nuclear agora existente dá para destruir a vida sobre todo o planeta Terra. E todavia continuam a gastar-se somas fabulosas, a consumir-se energias enormes no fabrico e em inovação de mais e outros armamentos, nomeadamente nucleares.

È possível, necessário e urgente inverter este caminho. A humanidade não deve ser posta em risco por causa de desvarios imperialistas e hegemónicos de alguns governantes. O que foi feito em Hiroshima e Nagasaki já foi demais. Sob o patrocínio da ONU foram redigidos vário Tratados tendo em vista não só travar o desenvolvimento e a proliferação de armamento nuclear, como também reduzir progressivamente os seus arsenais, até que fosse atingido um mundo livre de tais armas.


Neste contexto, num momento em que pelo contrário as principais potências mundiais levam a cabo uma nova corrida aos armamentos, o CPPC apela aos órgãos de comunicação social, às organizações e instituições democráticas, aos homens e mulheres deste País, para que se empenhem na criação de uma opinião pública que exija o cumprimento e o empenhamento do governos Português na defesa dos Tratados internacionais conducentes à não proliferação e à abolição das armas nucleares.


O CPPC apela para que o assinalar daquele crime impune seja uma manifestação de vontade para que nunca mais se volte a repetir.

A Direcção do CPPC

segunda-feira, agosto 06, 2007

Água da torneira da Pepsi

Após pressão da campanha "Pensem fora da garrafa" ('Think outside the bottle'), liderada pela Corporate Accountability International, a Pepsi Co., produtora da água engarrafada Aquafina foi forçada a admitir que esse seu produto não é mais que água da torneira. A Aquafina terá que adicionar ao seu rótulo, junto à imagem de riacho de montanha um texto que indique que a origem da água é a rede pública.

Mais de 40% da água engarrada tem como fonte água da torneira, incluindo a Dasani (da Coca-Cola) e Pure Life (da Nestlé). Tal abre portas para enormes lucros. O jornal Arizona Daily Star informa que meio-litro de Aqufina - contendo água do sistema municipal de Tuscson, Arizona - custa $1.39 numa loja de conveniência em Tucson. Directamente da torneira, 29 litros de água custa um centimo.
Embora seja a mesma água, na garrafa da Pepsi, o líquido custa 7000 vezes mais que a água municipal.

Estas companhias promovem as suas águas como mais limpas, puras e saudáveis que a água das redes municipais, embora se alimentem desses sistemas para encher as suas garrafas (e os seus bolsos). Ao promoverem o consumo de água engarrafada criam também um acréscimo de lixo proveniente das garrafas vazias. Só nos EUA 60 milhões de garrafas de plástico são deitadas ao lixo diariamente, a maioria das quais não é reciclada. O Pacific Institute concluiu que a produção de garrafas para água nos EUA consumiu cerca de 17 milhões de baris de petróleo, não incluindo o consumo ligado ao transporte, responsabilizando o sector de engarrafamento de água pela produção de 2.5 milhões de toneladas de CO2. A "água pura de montanha" afinal vem da torneira, e produz quantias significativas de gases de estufa. Mais absurdo, a produção de um litro de água engarrafada exige o consumo de 3 litros de água!

domingo, agosto 05, 2007

combustiveis comestiveis

Durante a cimeira entre o Brasil e a União Europeia, em Julho passado, os biocombustíveis foram louvados como uma panaceia, uma fonte de energia renovável alternativa ao petróleo e gás natural, particularmente como combustível dos meios de transporte. Actualmente, as duas formas principais de biocombustíveis são etanol – produzido a partir de milho e cana de açúcar – e biodiesel – produzido a partir de soja. Sendo produzidos a partir de material vegetal (daí o prefixo “bio”, que lhes dá uma bem apreciada entoação amigável do ambiente), para calcular o balanço energético da sua produção há que deduzir ao valor energético do produto final o consumo energético das máquinas necessárias para plantar, colher e processar o material vegetal, a energia para produção e aplicação de pesticidas e fertilizantes, e para sustentar a força de trabalho humana necessária em todo o processo. Estudos recentes parecem indicar que o balanço é de facto positivo, particularmente no caso do biodiesel. Adicionalmente, a substituição dos hidrocarbonetos fósseis pelos biocombustíveis resultaria numa redução na libertação de gases que contribuem para o efeito de estufa.

A União Europeia já cresce plantas para biocombustíveis, particularmente colza, e tem incentivos para a sua produção e uso. Contudo mesmo com a mobilização de terrenos protegidos para plantar matéria para biocombustíveis, a produção da UE15 apenas permitiria uma redução de 0.3 % das emissões de gases de estufa desses países. Dai que o enfase na produção de plantas para biocombustíveis esteja centrado em países do terceiro mundo, com amplos terrenos férteis ainda por explorar e força de trabalho barata. Investidores ansiosos por apanhar o comboio dos biocombustíveis têm alimentado uma enorme pressão sobre terrenos agrícolas e terrenos protegidos. Na Argentina, o aumento de 10% por ano na produção de soja (é o 3º maior produtor mundial depois dos EUA e Brazil) tem sido feito à conta do despejo de pequenos agricultores e populações indígenas, uma aumento da poluição por uso excessivo de pesticidas e fertilizantes, e um desgaste do solo fértil. Fidel Castro, num discurso pronunciado a 14 de Maio de 2007, descreve em pormenor os custos humanos do agrocombustiveis 1. Os terrenos desflorestados no Pantanal, Amazonas e florestas atlânticas do Brazil, e em El Chaco na Argentina e Paraguay têm sido utilizados para plantação de soja. No balanço de emissões de gases de estufa pelos biocombustíveis dever-se-ia também contemplar o desaparecimento do contributo desta floresta original para retenção e captação de dióxido de carbono.

Importa notar também que para biocombustíveis se está a utilizar sobretudo soja e milho geneticamente modificado. Incapazes de romper a resistência dos consumidores a alimentos abertamente identificados como geneticamente modificados, a indústria biotecnológica está a aproveitar-se da frente dos biocombustíveis para ganhar terreno. Mesmo que se possa garantir que não haverá mistura entre soja geneticamente modificado para uso nos biocombustíveis e soja usado para alimentação, a verdade é que um número crescente de agricultores ficarão sobre o jugo dessa indústria que estende o direito de propriedade sobre a própria vida: um agricultor que compre sementes geneticamente modificada poderá plantá-la e vender o produto, mas não pode colher sementes para re-iniciar o processo; tem de comprá-las de novo.

Sendo o soja , milho e colza também fontes de alimento, quer directamente quer como ração, o preço destes alimentos no mercado livre passa a ser determinado também pela sua procura enquanto fonte para biocombustível. Em 2006, cerca de 60% da produção de colza nos EUA já era usada para biodiesel. O preço de óleo de colza aumentou 45% em 2005, e 30% no ano seguinte. O mesmo sucedeu com o preço de cereais, reduzindo a exportação de milho para o mercado asiático, para ser usado domesticamente para a produção de bioetanol. O efeito dos biocombustíveis no preço dos alimentos poderá estar de momento mascarado por quebras de produção conjecturais, mas o relatório Agricultural Outlook 2007/2016 2 da Organização para o Desenvolvimento Económico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), prevê que este factor irá contribuir significativamente para um aumento de preços, particularmente nos países em desenvolvimento que já exibem crescente pressão demográfica sobre o preços dos alimentos.

Não se pretende com este artigo excluir os biocombustíveis do debate necessário sobre formas alternativas de energia. Outras fontes de matéria vegetal devem ser exploradas, em particular formas que não sejam usadas também como alimentos. Mas qualquer forma que tome, deve haver sempre combate à exploração dos trabalhadores e ao sistema que permite, sob a capa de estar a ajudar o ambiente, intensificar a desflorestação, a degradação de solos férteis com agricultura intensiva e o uso de pesticidas e fertilizantes.

1 http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/2007/esp/f140507e.html

2 http://www.oecd.org/dataoecd/6/10/38893266.pdf

sexta-feira, agosto 03, 2007

CPPC alerta para situação nos acampamentos de Refugiados do Sahara Ocidental

O CPPC alerta a comunidade nacional para a gravíssima crise humanitária que vivem presentemente os refugiados saharauis, maioritariamente mulheres e crianças e apela à sua denúncia.

A entrega de 77% do auxílio alimentar dos 158.000 refugiados está em falta, desde Julho, e a levedura necessária à produção de pão falta há quatro meses. Cerca de 66% das mulheres em idade fértil sofrem de anemia grave e dessas, 76% encontram-se grávidas. O mesmo se passa com 68% das crianças com menos de 5 anos, das quais 39% sofrem de subnutrição, segundo as últimas estatísticas da PAM, ACNUR e UNICEF.

A agravar esta situação, refira-se que cerca de 40% dos escassos donativos são retidos pela ACNUR para despesas de gestão.

Esta grave crise humanitária só se resolverá com o desbloqueamento imediato dos entraves ao auxílio humanitário e com um esforço efectivo da comunidade internacional para colmatar a situação dramática em que vive presentemente o povo saharaui. É necessário ter presente que cada dia, cada hora, cada minuto que passa representa maior sofrimento e mais mortes nos campos de refugiados.

Esta situação arrasta-se há mais de 30 anos, devido ao boicote e ao incumprimento por parte do Reino de Marrocos das resoluções das Nações Unidas.

É este impasse causado por Marrocos em conivência com os seus aliados que está na origem desta prolongada crise humanitária vivida por um povo que no seu território que lhe é negado, possui os recursos necessário ao seu bem-estar.

Assim o CPPC manifesta a sua profunda preocupação e apela às autoridades portuguesas para que, no espírito da Constituição da República, manifestem uma posição firma e exijam o cumprimento urgente da resolução 1754 das Nações Unidas que garante o direito à autodeterminação do povo saharaui.

Apela também ao povo português para que não fique alheio a esta situação, manifestando a sua solidariedade com o povo saharaui.

Conselho Português para a Paz e Cooperação
Rua Rodrigo da Fonseca, 56 - 2º 1250 -193 Lisboa, Portugal
Tel. 21 386 33 75 / Fax 21 386 32 21
e-mail : conselhopaz@netcabo.pt
http://cppc.blogs.sapo.pt/

quinta-feira, agosto 02, 2007

Murdoch Compra Wall Street Journal

Robert Murdoch, dono da News Corp, um conglomerado de empresas de comunicações, incluindo a rede televisiva FOX e National Geographic, o estúdio de cinema 21st Century Fox, o sítio de internet MySpace.com, os jornais Times of London e New York Post, a editora HarperCollins, e várias redes de televisão por satélite (ver), aumentou o seu império e esfera de influência ideológica ao comprar à Dow Jones por 5 mil milhões de dólares, o influente jornal Wall Street Journal.
Acentua-se assim a consolidação da comunicação social e dos media em geral nas mãos de um punhado de grandes companhias: a News Corp, a Walt Disney, a Viacom, a Sony, a AOL Time Warner, a Vivendi e a Bertelsmann. Disse um jornalista da WSJ «Estamos atónitos que isto possa ter acontecido... É doentio saber que este jornal icónico já não será independente, mas será controlado por um homem cujos valores são contrários aos nossos.»