segunda-feira, julho 31, 2006

bombardeamento das instalações das NU no Líbano

A 26 de Julho, Israel atingiu um edifício das NU na povoação de Khiam, no sul do Líbano, matando quatro observadores. Kofi Annan caracterizou o ataque como "aparentemente deliberado", o que o primeiro-ministro Ehud Olmert considerou chocante, tendo exigido que Annan retraí-se a declaração. Annan limitou-se a dizer que aceita que Israel diga que não foi deliberado.

Detalhes do ataque revelam a razão das afirmações de Annan. Não se tratou de um míssil errante. A posição foi atacada mais de vinte vezes entre a madrugada e as 7 da noite. Durante o dia, oficiais das NU fizeram dez chamadas telefónicas para os militares Israelitas, pedindo-lhes que parassem o ataque, relembrando-lhes que estavam a atacar um edifício das NU. Não pode assim haver qualquer dúvida sobre a intencionalidade da IDF.

Pior, após um dos telefonemas aos comandentes Israelitas, este afirmaram que iriam abir uma passagem segura para permitir a entrada de salva-vidas. Mas de seguindo, o bombardeamento persistiu. Foi também já depois de alguns dos telefonemas, que o edifício foi atingido em cheio por um míssil de precisão.

Em vez das NU exercerem pressão diplomática sobre Israel, é este a atingir posições das NU na região numa clara e deliberada demonstração de força, num claro sinal que não quer observadores nem forças de paz e segurança, que considera que o trabalho que as NU faz junto da população corresponde a apoiar o Hezbollah.

domingo, julho 30, 2006

Ataque a Qana

A vila de Qana, a sul de Tyre, fica na margem norte das planíces do sul do Líbano, onde confluêm 5 estradas principais. Israel reclama que a Qana e as vilas circundantes são pro-Hezbollah, e daí têm partido vários foquetes lançados sobre Israel. Em 1996, durante a "Operação Vinhas da Ira", Israel lançou um ataque aéreo sobre Qana madando 100 Libaneses e ferindo outros cem. Este massacre precipitou o cessar-fogo que veio a celebrar-se.

Usando o mesmo argumento (presença do Hezbollah), Israel lançou hoje novo ataque sobre Qana , resultando num novo massacre. A jornalista espanhola Monica Leiva , presente em Qana, reportou que não estão activistas do Hezbollah na vila, e que Israel bombardeou edifícios e veículos civis.

O bombardeamento de Qana, causando a morte de 54 civis, incluindo 34 crianças, foi condenado por líderes em todo o mundo, levando até ... o primeiro-ministro Israelita, Ehud Olmert, a expressar o seu lamento pela morte inocentes. Mas está nas suas mãos parar a sua morte.

O ministro da Saúde do Líbano, Mohammed Khalifeh, contabiliza 750 mortos, na sua maioria civis, e mais de 2 mil feridos desde que Israel iniciou o seu ataque aéreo, terrestre e por mar no dia 12 de Julho (incluindo já a estimativa pre-liminar em Qana).

Reagindo ao bombardeamento, centenas de Líbaneses atacaram as instalações das Nações Unidas em Beirute. Ainda que também o Secretário-Geral das NU Kofi-Anan tenha condenado o bombardeamento a Qana e tenha tido uma posição mais determinada face a Israel que os EUA - podera, se Israel já por duas vezes atingiu instalações das NU levando Anan a qualificar um dos ataques como "deliberado" - a verdade é que Anan e as NU têm sido impotentes face ao eixo EUA-Israel e incapazes de concretizar um apelo quase universal para pôr fim aos ataques Israelitas.

A sul do Líbano, ataques Israelitas seguem na Faixa de Gaza

A atenção da comunicação social está dirigida para o conflito entre Israel e forças Libaneses, mas os ataques Israelitas nos territórios ocupados não pararam desde que aquele conflito teve início.
Recorde-se que o sequestro de militares Israelitas pelo Hezbollah (a 12 de Julho) e subsequente assalto militar Israelita, foi precedido por uma escalada Israelita na Faixa de Gaza, onde agravou as condições de vida dos Palestinos - destruindo a capacidade de gerar energia electrica e abastecer água - e atacou directamente a Autoridade Palestina e o partido eleito para o seu governo - o Hamas - bombardeando ministérios e predendo ministros e deputados.
Desde o ataque ao geradores electricos, destruindo a única fonte doméstica de electricidade que satisfazia 43% das necessidades diárias (o restante é abastecido por uma companhia Israelita), a 28 de Junho, 150 Palestinos foram mortos, 1/4 dos quais crianças; 541 Palestinos foram feridos. No mesmo periodo um soldado Israelita foi morto e 14 feridos. Os ataques Israelitas estão longe de diminuirem: no dia 26 de Julho teve lugar o mais alto número de mortos desde o início da "Operação Verão Chove" do IDF (Forças de Defesa Israelitas) - 22 Palestinos mortos na Faixa de Gaza, incluindo uma rapariga de 3 anos de idade. O abastecimento de electricidade e água continua dramaticamente afectado: 6-8 horas de electricidade por dia, 2-3 horas de água por dia - o seu abastecimento não é sincronizado. (Dados das NU)

Marcha dos acontecimento:

A comunicação social e Israel aponta o dia 25 de Junho como tendo sido o início da presente conflito na Faixa de Gaza. Nesse dia, numa operação planeada à 2 meses, militantes Palestinos atravessaram um túnel subterrâneo perto da passagem de Kerem Shalom - dedicada à entrada de mercadorias vindas do Egípto - no sul da Faixa de Gaza, atacaram o posto militr, mataram dois soldados da IDF, feriram quatro outros, e sequestraram um destes, Gilad Shalit. No dia seguinte, um comuncado das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam (a ala militar do Hamas), a Tropa de Islão e os Comités de Resistência Popular (que inclui membros da Fatah, Jihad Islâmica e Hamas) exigia a libertação de todos as prisioneiras Palestinas e de todos os prisioneiros Palestinos com menos de 18 anos de idade. Como já indicado neste blog, a troca de prisioneiros entre Israel e grupos com quem não tem relações oficiais tem precedente.

Contudo, este ataque Palestino não surge no vazio.
  • De Janeiro a 20 de Junho, quse 900 foquetes de fabrico doméstico foram lançados da Faixa de Gaza sobre Israel. No mesmo periodo, a IDF lançou 8,400 obus de artilharia sobre a Faiza de Gaza e 142 ataques de míssil. Num destes ataques, 40 Palestinos faleceram quando passavam o dia numa praia no norte de Gaza, incluindo 11 crianças, e 7 membros (5 dos quais crianças) da família de Huda Ghalia (que sobreviveu ao ataque).
  • 20 de Junho: 3 crianças (2, 5 e 16 anos de idade) foram mortas e 12 outros feridos (7 dos quais crianças) no distrito de Sheikh Radwan em Gaza, por um ataque aéreo Israelita - o alvo pretendido escapou ileso.
  • 21 de Junho: um avião não-manejado (drone) lançou um míssil tentando atingir um carro Palestino perto de Khan Younis. Ao falhar o carro, atingiu uma casa, matando 2 Palestinos e ferindo 11 outros, incluindo seis crianças.
  • 24 de Junho: sequestro de dois Palestinos por comandos dos IDF (ver) - na primeira incursão para fazer detenções desde que Israel se retirou de Gaza há um ano.
  • 25 de Junho: dá-se o sequestro de Gilad Shalit. Israel fecha os pontos de passagem, intensifica os ataques aéreos, fecha o abastecimento de petróleo em Nahal Oz.
  • 26 de Junho: Israel retoma os ataques de artilharia. Nos dois dias seguintes lança 500 ubus.
  • 28 de Junho: bombardeamento dos únicos transformadores de produção de energia electrica em Gaza. Tal afecta também o abastecimento de água, já que a maioria dos 132 poços de água dependem de energia electrica. A força aérea Israelita retoma as "explosões sónicas" - quando aviões ultrapassam a barreira do som a baixas altitudes - cerca das 4 da manhã, umas 3-4 vezes por noite.
etc.

quinta-feira, julho 27, 2006

Guerra das Estrelas no Iraque

Produzido por Maurizio Torrealta e Sigfrido Ranucci. Em inglês (sem tradução). Sobre o uso de armas de energia dirigida pelos EUA no Iraque

quarta-feira, julho 26, 2006

Tanto os ataques Israelitas na Faixa de Gaza como no Líbano são qualificáveis de punição colectiva, i.e., alegando querer retaliar contra os responsáveis pelos sequestros de militares Israelitas, os ataques têm atingido as populações das duas regiões, principalmente civis e infrasestruturas de necessidade pública (longe de serem alegados esconderijos ou instalações militares do Hamas ou Hezbollah). É o caso do centro de produção electrica e abastecimento de água na Faixa de Gaza. Ou uma fábrica de leite e uma farmacêutica no Líbano, e um comboio de novas ambulâncias que se dirigia da Síria para o Líbano. Como entender que, segundo Bilal Masri, director do Hospital Universitário de Beirute, 55% dos feridos enviados para Beirute são crianças com menos de 16 anos, os menos capazes de chegar aos abrigos. Masri afirma também que 30% dos feridos irão certamente falecer, isto em parte porque os Israelitas estão a usar armamento que consegue destruir abrigos subterrâneos.
Ontem Israel atingiu um posto de observação das NU. Kofi Annan, secretário-geral das NU, afirma que o ataque foi aparentemente deliberado.
Existem também indícios que Israel está a utilizar cluster bombs, bombas que ao explodirem enviam milhares de fragmentos indiscriminadamente em seu redor; e fósforo branco, um agente químico incendiário semelhante a napalm.

Concentração frente à Embaixada de Israel

Teve lugar hoje uma concentração de várias centenas de pessoas, junto à embaixada de Israel em Lisboa, exigindo o fim dos ataques Israelitas no Líbano e nos territórios Palestinos, exigindo o fim das hostilidades, exigindo a paz. A iniciativa foi promovida por mais de duas dezenas de organizações, incluindo o Conselho para a Paz e Cooperação, a CGTP, o Movimento Democrático de Mulheres, o PCP, o Bloco de Esquerda, a Opus Dei, etc. Entre as palavras de ordem gritou-se "Assasinos, Assasinos, Paz para o Líbano", "Fim ao Massacre, Fim à Ocupação", "Paz Sim, Guerra Não", Uma delegação dirigiu-se à embaixada para entregar um apelo para a paz, mas a carta foi recusada. Será enviada por correio, pois contrariamente ao que sucede no Líbano presentemente, em Portugal os correios ainda estão a funcionar.


terça-feira, julho 25, 2006

Sessão Pública sobre Situação no Médio Oriente

Teve lugar hoje uma sessão pública de informação sobre a situação no Médio Oriente, promovida pela Comissão Promotora do Movimento Português Pelos Direitos do Povo Palestino e Pela Paz no Médio Oriente (MPPM). A sala da Sociedade de Língua Portguesa estava repleta de pessoas e solidariedade.
A professora Isabel Allegro Magalhães deu início à sessão lendo poesia, incluindo do poeta Palestino Mahmoud Darwish. Carlos Almeida do MPPM fez um resumo da história, passada e recente, da região da Palestina. O seu resumo não deixou de humanizar a tragédia do Povo Palestino, ao detalhar pormenores de cidades atingidas e nomes de vítimas, incluindo uma descrição emotiva do assasinato da família da pequena Huda Ghalia, que assistiu à morte da sua família enquanto goza um dia na praia.

A intervenção principal foi da Embaixadora Randa Nabulsi, Delegada-Geral da Palestina em Portugal. Nabulsi relembrou como o Povo Palestino foi abandonado pela comunidade internacional quando o Hamas foi, democraticamente, eleito para o governo. À conta da falta de fundos internacionais e o congelamento do retorno de impostos pelo Governo Israelita, os 700,00 funcionários públicos na Faixa de Gaza e Cis-jordânia não recebem salários há cinco meses, incluindo professores e médicos. Dada o bloqueio do Hamas, até recentemente, a participar na infraestrutura da Autoridade Palestina, a vasta maioria dos funcionários públicos não é afiliado ao Hamas, mas estes estão a ser punidos pela comunidade internacional. E os ataques militares sobre território Palestino continuaram. Só em Junho, faleceram 52 Palestinos, apenas 4 dos quais seriam militantes do Hamas e alvos Israelitas. Depois veio o sequestro de dois Palestinos na Faixa de Gaza (24 Junho - ver), ao que se segiu a captura de Gilad Shalit, capturado enquanto num tanque Israelita conduzindo ataques em Gaza.
Nabulsi desconstruiu a fábula que os presentes ataques Israelitas podem ser justificados pelo sequestro de soldados Israelitas pelo Hamas e Hezbollah. Relembrou como, apesar de Israel se afirmar contra a troca de prisioneiros, esta tem sido praticada no passado. Em 1979, a OLP trocou o cadaver de um Israelita por 79 Palestinos presos (isto quando a OLP e Israel não se reconheciam mutuamente). Em 1983, trocou 6 soldados Israelitas por 4,700 presos Palestinos e Libaneses. Trocas ocorreram também entre Israel e o Hezbollah. Em 2004, Israel libertou 429 presos Palestisnos, Arabes, e Libaneses e 59 Libaneses mortos em troca pelos corpos de três soldados Israelitas, desaparecidos em 2000, e um empresário Israelita (ver). Em 30 anos de conflito, Israel libertou cerca de sete mil prisioneiros em troca pela liberdade de 19 Israelitas e o retorno dos corpos de oite outros (ver).
Ao anunciar a recente captura do soldado Israelita, a Resistência Islâmica associou o sequestro no seu comunicado ao pedido de libertação de presos em Israel. A lista de presos a serem libertados inclui cerca de 20 mães, vinte raparigas e 432 rapazes. Entre a lista consta também o nome de Samir Kuntar, preso em 1979 quando tinha apenas 16 anos e condenado a quatro prisões prepétuas por ter participado num raid a Nahariya, perto da fronteira com o Líbano, para capturar Israelitas para trocar por prisioneiros (ver). Durante o seu tempo na prisão Israelita, Kuntar tem liderado greves de fome e revoltas de prisioneiros (e obteve uma licenciatura, tendo completado uma cadeira sobre o Holocausto).

Apelo PELO TERMO DA VIOLÊNCIA E DO DESASTRE HUMANITÁRIO NO MÉDIO ORIENTE

MPPM - Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente
Portuguese Movement for the Rights of the Palestinian People and for Peace in the Middle East
Rua Rodrigues Sampaio, 138-3º ● 1150-282 Lisboa ● Portugal

Assine o apelo

PELO TERMO DA VIOLÊNCIA E DO DESASTRE HUMANITÁRIO NO MÉDIO ORIENTE

O crescendo da vasta ofensiva bélica de Israel e bombardeamentos de terror há mais de um mês na Faixa de Gaza (Palestina) e desde 12 de Julho no Líbano, os consequentes horrores da guerra e tragédia humanitária, alarmam todos quantos, mulheres e homens de boa vontade, independentemente de questões políticas, se preocupam com o destino do martirizado Povo palestiniano e com a Paz no Médio Oriente.

Em Gaza contavam-se já dezenas de vítimas civis de operações das Forças Armadas de Israel, nas semanas anteriores ao episódio da captura de um seu militar neste território. Desde então, assiste-se da parte de Israel, pretextando o “direito a defender-se”, a uma escalada de violência militar não só “desproporcionada” mas sistemática. Esta acção, em violação aberta e caracterizada do Direito Internacional, foi agora agravada com a agressão contra o Líbano invocando a captura no Sul de dois outros militares israelitas. Os resultados estão a ser a destruição total deliberada das infra-estruturas civis fundamentais e das condições de vida, crises alimentar e sanitária muito sérias, centenas de mortos e feridos inocentes incluindo mulheres e crianças, centenas de milhar de refugiados, o colapso de Gaza, a devastação do Líbano e a punição colectiva dos povos Palestiniano e Libanês. Também no que respeita a Israel se registam nos últimos dias vítimas civis de mísseis lançados a partir do Sul do Líbano.

Os objectivos da mais ambiciosa e destruidora ofensiva militar israelita da última vintena de anos, só possível em estreito conluio com os EUA (que vetaram no Conselho de Segurança uma resolução moderada reclamando a retirada de Israel de Gaza), ultrapassam em muito a restituição de três militares presos. Visam, em Gaza e no Líbano, derrubar organizações políticas e dirigentes democraticamente eleitos, instalar uma correlação de forças neo-colonial na região, desestabilizar a Síria e o Irão. As chamas da guerra, que se estenderam da Faixa de Gaza ao Líbano, ameaçam alastrar-se aos Estados vizinhos e confluir com as guerras em curso no Iraque e no Afeganistão, culminando num conflito generalizado a todo o Médio Oriente – que abalaria ainda mais o equilíbrio e a Paz mundial.

Perante a tragédia sem fim do Povo palestiniano, ameaçado na sua própria sobrevivência como Povo, e a destruição mais uma vez do Lìbano país soberano, os signatários, promotores do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) - embora com apreciações diferenciadas das responsabilidades dos vários intervenientes na presente crise na região - interpretando os princípios do MPPM contrários a todas as formas de terrorismo, seja ele de Estado ou qualquer outro:

- manifestam-se pela cessação imediata das agressões, bombardeamentos de terror, incursões, destruições e bloqueio da Faixa de Gaza e do Líbano por parte de Israel, e pela retirada das suas tropas, de par com a cessação do lançamento de mísseis sobre o território de Israel e a libertação dos três militares israelitas capturados, bem como a libertação dos deputados e ministros palestinianos agora detidos e ainda de outros presos árabes, de entre os 9.000 nos cárceres de Israel, em particular mulheres e crianças;

- reiteram o objectivo central do MPPM, o apoio no plano da opinião pública e em conformidade com as resoluções e princípios das Nações Unidas à realização dos direitos inalienáveis do Povo palestino, ao estabelecimento do seu Estado independente e soberano mediante a retirada de Israel dos territórios ocupados, nomeadamente no âmbito das fronteiras de 1967, como o Presidente e o Primeiro Ministro palestinianos tinham acabado de reafirmar em importante documento comum, quando Israel lançou a presente ofensiva;

- apelam aos órgãos de soberania de Portugal, para que no âmbito da competência respectiva e no espírito do artigo 7.° da Constituição da República, se façam ouvir enquanto é tempo no plano bilateral e multilateral, nomeadamente ao nível da União Europeia, pela Paz no Médio Oriente e em defesa do Povo palestiniano e do Povo libanês, vítimas da agressão e ocupação estrangeiras;

- exortam a opinião pública nacional, as mais diversas associações cívicas e todas as forças democráticas, para que se mobilizem e juntem a sua voz ao clamor crescente dos Povos do mundo, na construção - perante o fracasso da “comunidade internacional” e de um Conselho de Segurança manietado pelo veto dos EUA – de uma autêntica comunidade internacional que assegure os direitos e a independência do Povo palestiniano, a soberania do Líbano e uma Paz justa e duradoura no Médio Oriente.

Lisboa, 21 de Julho de 2006

Adel Sidaru, investigador; Ana Luísa Amaral, poeta; André Machado Jorge, advogado; António Manuel Hespanha, professor universitário;António Sousa Ribeiro, professor universitário; Armando Silva Carvalho, escritor; Bento Anastácio, livreiro; Camila Frazão Nazaré, licenciada em Segurança Social; Cândido Matos Gago, ex-presidente da Câmara Municipal de Grândola; Carlos Almeida, investigador; Carlos Araújo Sequeira, advogado; Carlos Carvalho, dirigente sindical; Carlos Silva, consultor comercial; Carlos Sottomayor, médico pneumologista; Casimiro Menezes, médico; D. Januário Torgal, bispo católico; Eduardo Lourenço, escritor; Eduardo Prado Coelho, escritor; Elsa Rodrigues dos Santos, professora universitária; Emílio Rui Vilar, gestor; Francisco Fanhais, músico; Frei Bento Domingues, frade dominicano; Gastão Cruz, poeta; Hélio Alves, professor universitário; Ilda Figueiredo, economista e deputada europeia; Isabel Allegro de Magalhães, professora universitária; Isabel Hub Faria, professor universitária; Jorge Cadima, professor universitário; José Casanova, escritor e director de jornal; José Manuel Pureza, professor universitário; José Mattoso, professor universitário; José Neves, funcionário público aposentado; José Ruivo S. Maia, médico psiquiatra; Júlio Magalhães, ex-presidente do Instituto Português de Cultura Árabe e Islâmica; Kalidás Barreto, ex-dirigente sindical; Luís Almeida, técnico de turismo aposentado; Luís Miguel Cintra, encenador e actor; Manuel Gusmão, poeta; Manuel Machado Sá Marques, médico; Manuela Magno, professora; Manuela Silva, presidente Comissão Nacional Justiça e Paz; Margarida Fernandes, presidente da Junta de Freguesia da Malagueira; Maria Helena Cunha Rato, economista e investigadora; Maria Helena Taborda Duarte, jurista; Maria João Seixas, programadora cultural; Maria Velho da Costa, escritora; Mário Moutinho de Pádua, médico patologista clinico; Mário Ruivo, professor universitário; Miguel Portas, economista e deputado europeu; Rogério Gomes Carpentier, membro fundador do Centro de Estudos Luso-Árabes; Rui Mendes, poeta; Rui Namorado Rosa, professor universitário; Salvina Gonçalves de Sousa, advogada; Silas Cerqueira, investigador; Teresa Mónica Silva, tradutora; Teresa Salema, professora universitária; Vasco Pinto Leite, engenheiro; Vítor Pinto, engenheiro

Assine o apelo

Milhares de activistas em Tel Aviv protestaram ontem contra a guerra de Israel e exigiram um imediato cessar-fogo. Urgiram que se fizesse uma troca de prisioneiros com o Hamas e Hezbollah. Apelaram aos soldados do IDF (Israeli Defense Forces) que se recusassem a combater.
Entretanto o número de mortos no Líbano aproxima-se de 400, quase todos civis. Estão em proporção de 10:1 face ao número de mortos Israelitas. Ainda no Líbano, estimam-se mais de mil ferido e 900,000 desalojados (isto num país de 4 milhões de habitantes.

domingo, julho 23, 2006

Eleições no México

A 2 de Julho tiveram lugar as eleições presidenciais no México. Ao contrário do que pensará o Presidente Bush, que se precipitou a congratular o candidato do Partido de Acção Nacional (PAN), Felipe Calderón, ainda não existe um presidente-eleito, um candidato que formalmente tenha ganho as eleições.

Segundo os resultados da contagem "oficial, Calderón recebeu 15,000,284 votos (35.89%), enquanto o candidato da Aliança pelo Bem de Todos, que inclui o Partido Revolução Democrática (PRD), Partido de Trabalho e o Partido Convergência, Andrés Manuel Lopes Obrador (AMLO), recebeu 14,756,350 votos (35.31%). Isto é segundo o voto oficial, AMLO terá perdido por 0.58%. Este foi o resultado oficialmente reconhecido pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE) do México. Contudo, segundo a lei eleitoral do México, o Tribunal Electoral del Poder Judicial de la Federación precisa ainda de se pronunciar antes que exista um vencedor das eleições. Este apenas irá emitir o seu parecer em Agosto. Dado as inúmeras instâncias de fraude documentadas pela candidatura de AMLO existe alguma probabilidade de o Tribunal anular as eleições.

Quais as evidências de fraude? Vítor Romero, professor de estatística na Universidade Nacional do México, estudou os resultados eleitorais de cada umas das 113 mil estações de voto. A contagem oficial foi efectuada no dia 5 de Julho. Assim Romero pôde acompanhar os resultados há medida que os distritos eleitorais iam enviando os resultados para o IFE. Os resultados começam a entrar ao meio-dia, e durante a maior parte do dia a soma das contagens reflete os resultados de sondagens à boca das urnas, dando uma vantagem de 2% a Obrador. Perto do fim do dia, as mesas que enviam os seus resultados indicam uma vantagem de 10 para 1, e depois 100 para um, para Calderón, revertendo as eleições em favor do candidato do PAN literalmente nos últimos minutos. Romero afirma que estatisticamente isto é altamente improvável. Como será possível? Basta encher urnas com boletins de voto. Obrador tornou publico vários videos demonstrando instâncias de fraude. Um video mostra um oficial a empanturar uma urna com boletins de voto, outro mostra como urnas enviadas aos centros de contagem foram abertas antes da contagem - ver página do AMLO com este e outros videos.

Outros dados gritam fraude eleitoral. Cesar Yanez, director de campanha de Obrador, nota que existem 300,000 menos votos para presidente do que para senador, uma diferença sem precendentes, que só se compreende com fraude. Esta diferença ocorre precisamente nos estados em que o PRD, de Obrador, recebeu a maioria de votos para o Senado. Nos estados controlados pelo PAN, sucedeu o inverso: mais votos para a presidência (e para Calderón) que para o Senado.

A IFE aceitou reabrir 1% das urnas para uma recontagem: na maior parte dos casos, votos dados como brancos eram realmente votos para Obrador. Se a proporção de votos brancos recontados como votos para Obrador se mantivesse para todas as urnas, Obrador seria dado como vencedor. Daí que o povo que saíu à rua tenha exigido a contagem de todos os votos "voto por voto".

O jornalista Greg Palast teve acesso a ficheiros do FBI dos EUA que revelam que o governo dos EUA contratou uma empresa privada, a ChoicePoint, que terá recolhido inteligência para contra-terrorismo que inclui ficheiros sobre eleitores em algumas nações da América Latina, em particular onde existam presidentes ou candidatos presidenciais de esquerda, incluindo a Venezuela e o México. (A ChoicePoint é a empresa que permitiu à Procuradora-Geral da Florida, Katherine Harris, privar milhares de Africano-Americanos de votarem na Florida nas eleições presidenciais de 2000.) A campanha de Obrador descobriu que a campanha de Calderón teve acesso a estes ficheiros do FBI, com listas de eleitores Mexicanos, algo que é ilegal segunda a Lei Eleitoral Mexicana.

Porque haveria os EUA de ajudar a manipular as eleições no México? Uma vitória de uma candidato de esquerda num país vizinho dos EUA seria uma peça importante perdida no seu próprio hemisfério. Entre outras muitas razões, México é o maior fornecedor estrangeiro de petróleo aos EUA, mais que a Arábia Saudita. E Obrador já afirmou que não quer que as empresas petrolíferas dos EUA tenham qualquer acesso ao petróleo Mexicano.

sábado, julho 22, 2006

antecedentes

É relevante perguntar: qual o incidente que instigou a presente instância de guerra entre Israel e o povo Palestino e países árabes vizinhos? Será que existe um ponto de partida, ou devemos sempre manter presente um contexto de quase 70 anos de conflito, pautado por vários periodos de guerra aberta, marcados pela opressão do povo Palestino? O rapto de 2 militares pelo Hezbollah, a 12 de Julho, não terá tido como reacção à violência Israelita na faixa de Gaza? E o que esteve na origem da acção israelita em Gaza, que involveu a destruição da principal central electrica, de distribuição de água, de ministérios, e a apreensão de ministros e deputados? Terá sido o rapto de Gilad Shalit (também militar) a 25 de Junho? Se assim fosse, a violência seria justificada? Se esse fosse o instigador mais próximo, poderiamos então esquecer os antecedentes?

Na verdade nem é preciso voltar atrás, pois a comunicação social, mesmo a que faz alguma crítica à dimensão da resposta Israelita, tem neglicenciado reportar sobre um incidente que ocorreu a 24 de Junho, que poderá ter estado na origem da resposta Palestina. Nessa data comandos de elite Israelitas entraram em Gaza para deterem dois alegados militantes do Hamas, a primeira incursão para fazer detenções desde que Israel se retirou de Gaza há um ano. Os comandos entraram na habitação, algemaram o pai dos dois suspeitos, confiscaram o computador, e levaram os seus dois filhos. O IDF afirma que os homens eram militantes do Hamas que haviam planeado um ataque recente do Hamas sobre Israel. O Hamas nega qualquer ligação com os dois detidos: um médico que havia estado no Sudão, tendo chegado a Gaza no mês anterior, e seu irmão, um estudante de lei islamica. A identidade e o paradeiros destes homens é desconhecido. A ingerência de Israel num estado vizinho independente para prender dois suspeitos, civis, não prestando contas a ninguem: não terá este incidente servido de provocação para a subsequente captura de militares Israelitas?

quinta-feira, julho 20, 2006

Sessão Pública sobre Situação no Médio Oriente

SESSÃO PÚBLICA DE INFORMAÇÃO
sobre
A SITUAÇÃO NO MÉDIO ORIENTE
Iniciativa da Comissão Promotora do MPPM

(Movimento Português pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente)

Terça-feira, dia 25 de Julho, pelas 18h30

Sede da Sociedade da Língua Portuguesa, Rua Mouzinho da Silveira, 23

    (ao Marquês de Pombal, para quem sobe a Rua Alexandre Herculano, da Avenida da Liberdade para o Rato, é a segunda transversal à direita)

A Sessão contará com o testemunho da Delegada-Geral, Embaixadora, da OLP em Portugal.

Assine a Petição "Salve as crianças Líbaneses" (Atenção: fotos chocantes)

Guerra (in)justa

Ainda o Sul da ilha de Manhattan estava vedado à população quando teve lugar uma das primeiras manifestações nos EUA contra a já enunciada «guerra contra o terrorismo». Havia sido marcada para o dia 7 de Outubro de 2001, e momentos antes do seu início eram largadas as primeiras bombas sobre o Afeganistão. A coluna de manifestantes foi-se confrontando nas ruas com acusações de anti-patriotismo por parte de nova-iorquinos ainda cegos pelo desejo de vingança (contra quem quer que fosse). Quem se opunha à guerra não compreendia as duras realidades impostas pelo terrorismo, diziam. Havia que dar uma resposta rápida, e o alvo mais evidente era o país hospedeiro do chefe da Al’Qaeda, país liderado por fundamentalistas islâmicos, um verdadeiro posto de recrutamento e treino de novos terroristas, e onde as mulheres eram alvo de constantes abusos. Invadir o Afeganistão era necessário. Fazendo uso da linguagem e argumentação ensaiada com relativo sucesso durante a intervenção da NATO no Kosovo, era uma «guerra justa».

Mais de um ano depois, seriam centenas de milhares de pessoas a desfilar em Nova Iorque (e por todos os EUA e pelo mundo) contra a invasão do Iraque. Tornava-se então evidente para um número crescente de pessoas nos EUA que a estratégia bélica de Bush tinha de ser travada, que estava a aumentar o risco de novos ataques terroristas, que a retórica de rapina se fundamentava em mentiras, que apoiar os militares passava pela exigência da sua retirada do teatro de guerra. A opinião contra a ocupação do Iraque veio progressivamente a crescer, e embora não tenha sido suficiente para evitar a reeleição de Bush, este confronta-se com índices de popularidade historicamente baixos.

Embora a estratégia no Iraque seja abertamente contestada, não só por manifestantes, mas por jornalistas, políticos, e militares, as razões da invasão do Afeganistão e respectiva ocupação têm escapado ao escrutínio e crítica mais atenta. Isto apesar de este processo se pautar por elementos semelhantes aos do Iraque ou Guantanamo.

Guantanamo não é caso único

Ponhamos de parte agora a história: que o Al’Qaeda e Osama bin-Laden são fruto directo dos mujahedin apoiados pelos EUA para combater a URSS e depois abandonados; que os Taliban eram aliados da família Bush e chegaram a oferecer a entrega de bin Laden aos EUA. Esqueçamo-nos também que a invasão do Afeganistão não tinha base legal, já que este país não tinha atacado os EUA, nem se havia passado da suspeita (ainda que provável) de a Al’Qaeda ser responsável pelos ataques de 11 de Setembro. Havia que atacar o fulcro da Al’Qaeda, diziam-nos, capturar bin Laden, e se nesse processo se libertasse o Afeganistão dos Taliban, restaurasse os direitos das mulheres, e estabelecesse a segurança e a democracia no país, então ainda melhor. Para alcançar estes objectivos, estima-se, teria sido necessário meio milhão de tropas: Bush enviou oito mil. Para lograr desalojar os Taliban, aliaram-se e armaram-se vários «senhores da guerra» afegãos, que desde então têm contribuído para o estado de insegurança do país, tendo restabelecido a plantação de ópio e garantido 90% da heroína que entra na Europa. O governo controla pouco mais que a área em torno da capital, Kabul. O resto do território pauta-se pela insegurança e domínio de forças locais.

Os Taliban também não foram de todo eliminados. Desde Dezembro de 2001 que organizam acções de resistência à ocupação pelos EUA, contra as eleições e o novo governo. Em Dezembro de 2005, controlavam já partes significativas das províncias do Sul do Afeganistão, como Helmand. Desde então tem havido uma escalada de violência, tanto de ataques dos Taliban como de ofensivas dos ocupantes, que à semelhança do Iraque atingem a população indiscriminadamente. As mulheres continuam a sofrer tantos nos territórios de novo controlados pelos Taliban, como nos controlados pelos regentes locais, como pelos forças ocupantes.
O Afeganistão é também sede da prisão de Bagram onde estão mais de 600 presos, muitos detidos há 2 ou 3 anos sem serem formalmente acusados, sujeitos a tortura, e sob condições piores do que na prisão de Guantanamo. Um ex-interrogador estima que 90% dos presos serão inocentes.

Apesar do evidente falhanço da estratégia de Bush também no Afeganistão, este cenário continua a beneficiar de uma estranha isenção, continua a ser uma «guerra justa».

quarta-feira, julho 19, 2006

cimeira do G8

A presente cimeira dos G8, na Rússia, está plena de incidentes. Após um encontro com Putin, Bush manda bocas ao nível de democracia na Rússia, fazendo alusão à nova "democracia" no Iraque:

«Falei [ao Putin] do meu desejo de promover câmbios institucionais em partes do mundo, como o Iraque onde existe imprensa livre e liberdade religiosa [!!], e disse-lhe que muitas pessoas no meu país desejam que a Rússia faça o mesmo. »

Ao que Putin respondeu:

«Nós certamente não queremos o mesmo tipo de democracia que têm no Iraque, muito honestamente.» (Veja video)
Houve também o incidente do microfone aberto, que apanhou uma conversa entre Bush e Blair. Enquanto, mastiga um pão com manteiga (?), Bush diz:
«O que [as Nações Unidas] precisam é de fazer com que a Síria pare o Hezbollah de fazer esta merda.» (veja video)
E depois ainda o bizarro incidente quando Bush massaja as costas da primeira-ministra Alemã Angela Merkel (ver video).

Bush está claramente a precisar de umas férias. Ele que vá para o seu rancho em Crawford, e deixe o mundo sossegado pelo menos um mês.

sexta-feira, julho 14, 2006

Iraque: Mulheres em estado de sítio

Lembram-se como "melhor a condição das mulheres" era um dos factores que usado para justificar a invasão do Afeganistão, e até do Iraque. Isto apesar do Iraque, sob Saddam, ter das leis mais progressivas no que diz respeito aos direitos da mulher, inclusive mais que o Ocidente, por exemplo na licença de maternidade (sim, porque as mulheres era parte integrante da população trabalhadora).

Como reconcicliar esse argumento, com a situação assustadora das mulheres no Iraque ocupado pelos EUA. Muitos se lembrarão das fotos da tortura em Abu Ghraib e como a soldado Lynndie England demonstrou as moças também sabem torturar. Ausente nas fotos publicitadas até à data, é o facto de tambem estarem mulheres presas em Abu Ghraib, e que estas também têm sido alvo de tortura, abuso sexual, violação e estupro.

Mas os soldados Estado-unidenses não têm limitado os actos de violação às paredes prisionais. Em Março, em Mahmidiya, a 30km sul de Bagdad, um grupo de cinco soldados violou e incinerou o corpo de Abeer Qassim Hamza. Não tinha ainda 16 anos. Para cobrirem o seu crime, mataram então seu pai, mãe e irmã. Este crime de guerra será caso isolado?

A falta de ordem nas cidades, particularmente Bagdad, tem também permitido o aumento de criminalidade, incluindo assédio sexual, sequestros de mulheres, e violações. Entre os ataques sexuais, os disparos de balas e bombas, as mulheres temem sair de casa. Reforça-se assim a tradição das mulheres permanecerem em casa, e sairem à rua vestindo o hijab.
A proposta anti-comunista no Conselho da Europa (PACE) foi derrotada em Fevereiro (ler também aquí). A proposta surgiu num contexto de ataques a comunistas e organizações comunistas, sobretudo no leste Europeu, e uma lavagem histórica dos crimes fascistas, chegando ao desplante de se homenagear o papel dos nazis e premear ex-combatentes nazis. Por exemplo, na República Checa o Minstério do Interior tentou forçar a Juventude Comunista a abandonar os princípios do marxismo-leninismo ou sofrer ilegalização. O deputado e vice-presidente do
Partido Comunista da Boémia-Morávia, Jiri Dolejs, foi brutalmente espancado à saída do Parlamento Checo. A KSM, com um a ajuda da solidariedade internacional, sustentou os ataques do governo (embora viva sobre constante ameaça), e o PCBM recebeu 12.8% dos votos nas recentes eleições parlamentares. Embora tal tenha representado um decréscimo face aos 18.5% de 2002, o PCBM persistiu como a 3ª força mais votada.

Mas claro que a derrota da proposta não significou o fim da cruzada anti-comunista. Seis meses depois, o parlamento da Croácia adoptou uma resolução semelhante, condenando os crimes comunistas entre 1945-90. A resolução não menciona os crimes cometidos pelos Ustashes, pro-nazis croatas, que instituiram o Estado Croata Independente durante a guerra, mas condenam os que os puniram no pós-guerra.

terça-feira, julho 11, 2006

E o Afeganistão

Nos EUA, uma recente sondagem Gallup indica que 2/3 dos Estado-unidenses querem que as suas tropas se retirem do Iraque, e 31% querem que a retirada seja imediata. Na Europa há muito que as sondagens indicam uma alargada oposição à presença de tropas de Iraque, e alguns governos que apoiaram o envio das suas tropas sofreram eleitoralmente por isso, e.g., José Maria Aznar. Face à avanlanche de evidências que afinal a administração Bush mentiu sobre a existência de armas de destruição massiva no Iraque e fabulou sobre a ligação de Saddam a bin Laden; face à crescente instabilidade no Iraque, aos abusos de prisioneiros nas prisões Iraquianas às mãos das tropas ocidentais; face à violência das investidas Estado-unidenses sobre populações civis, e.g. Falluja; face à morte de soldados ocidentais numa ocupação sem fim previsto - muitos comentadores, políticos, cidadãos mudaram de opinião e passaram a opôr-se à continuação de tropas ocidentais no Iraque, onde contribuem mais para a propagação de terrorismo que sua prevenção. (Sobre a mal planeada e gerida ocupação do Iraque, sua contribuição para o terrorismo e como não contribui para o estabelecimento de um estado soberano e autónomo, veja-se Security Sector Reform and Post-Conflict Peacebuilding referida neste artigo.

Devemos porém questionar o que impede as mesmas pessoas de se opôrem de igual modo à ocupação do Afeganistão. Isto apesar das semelhanças entre as duas situações. Os Taliban ganham força, dominam províncias do sul do país, como Helmand, conduzem ataques constantes sobre as tropas de ocupação e também sobre escolas (para combaterem o seu igual tratamento dos géneros). O Afeganistão tem também o seu Abu-Ghraib ou Guantanamo, em na base aérea de Bagram onde estão detidos mais de 600 presos, muitos detidos há 2-3 anos sem serem formalmente acusados, sujeitos a tortura, e sob condições piores que a prisão de Guantanamo. Um ex-interrogador estima que 90% serão inocentes. As empresas ocidentais contratadas para reconstruir o país têm desviado fundos e o que têm construido tem sido abaixo de qualidade. Os senhores da guerra dividem entre si o poder - o governo em Kabul controla pouco mais que a zona em torno da capital. Estes re-estabeleceram a plantação de ópio, garantido 90% da heroína que entra na Europa.
Mas a camuflagem como "guerra justa", a isenção desta guerra à crítica, facilitada pela menor informação sobre os conflitos e condições no terreno, tem de se desmascarada. Vários são os líderes que criticam a guerra no Iraque, ganhando pontos com os seus eleitorados, chegando ao ponto de retirar as suas tropas, para depois no mesmo gesto as enviarem para o Afeganistão, e assim ficando nas boas graças dos EUA. Foi o caso do Zapatero, em Espanha, ou mais recentemente de Prodi, na Itália. E também em Portugal. Nós iremo manter tropas no Afeganistão até pelo menos Fevereiro de 2007, segundo o Conselho Superior de Defesa Nacional. Espero que as nossas tropas aí estacionadas não sofram o destino do Sg. João Paulo Pereira.

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Em Janeiro de 2006 estavam 35 países a participar na Força Internacional de Ajuda à Segurança (ISAF), comandada pela NATO, um total de 9,200 tropas, esperando-se que este número cresça até 15,000. Para tabela do número de tropas por país (Fev/2005).

domingo, julho 09, 2006

Novo conflito Israelo-Palestino

[Cronologia extraida de aljazeera]

A mais recente instância do conflito israelo-palestino teve início (e há que qualificar que por 'início' se toma o episódio mais próximo e invocado como provocador, mas que existe um encadeado de inícios que já extende há quase 60 anos) em 25 de Junho, quando um grupo armado de Palestinos lançou um ataque a um posto armado na fronteira de Israel com a Faixa de Gaza, mantando 2 soldados e capturando um terceiro, Gilad Shalit, de 19 anos (que tem também cidadania Francêsa). Imediatamente, Israel começa a acumular tropas em torno de Gaza, donde se haviam retirado em Setembro de 2005. Três grupos Palestinos , o Comité de Resistência Palestina, o braço armado do Hamas e a Tropa de Islão, reclamam ter em seu poder Shalit, e exigem a liberdade para mulheres e menores detidos por Israel, em troca por informação sobre Shalit.
A 27 de Junho, um segundo refém, Eliahu Asheri, 18 anos, é capturado num colonato na Cis-jordânia. (Ironicamente o Hamas, que domina o governo Palestino, assina um acordo que implicitamente reconhece a existência de Israel - um passo histórico.)
Israel lança então um ataque aéreo sobre pontes na Faixa de Gaza e destroi a única estação electrica do território, cortando a electricidade aos mais de 1.4 milhões de residentes (a faixa de Gaza é um dos locais mais densamente povoados do mundo). No dia seguinte, 28 de Junho, forças terrestres entram no sul de Gaza.
O tom do conflito sobe: o Comité de Resistência Popular ameaça matar Asheri se Israel não se retirar, e Ehud Olmert, o primeiro-ministro Israelita, diz que fará uso de "medidas extremas" para salvar Shalit. A 29 de Junho, Israel detem vários membros do Hamas, na Faixa de Gaza, incluindo um terço do Conselho de Ministros Palestino e um grande número de parlamentares. Asheri é encontrado morto na Faixa de Gaza. Olmert suspende a ofensiva terrestre, mas no dia seguinte (30 de Junho) Israel lança novo ataque aéreo sobre Gaza, destruindo vários alvos incluindo o Ministério do Interior, e suspende o direito de residência em Jerusalem a um ministro do Hamas e 3 deputados.

O primeiro ministro Palestino, Ismail Haniya, garante que o governo do Hamas não vai cair e insiste que conduz esforços para libertar o Shalit, mas acusa Israel de dificultar os seus esforços ao atacar Gaza. A 2 de Julho, na 5ª noite consecutiva de ataques, Israel atinge o gabinte de Haniya. No dia seguinte, Israel envia tropas e armamento para o norte da Faixa de Gaza. Passado o prazo, Shalit ainda está vivo, seus captores dizem que não o irão matar. Olmert ordena a continuação da ofensiva e nega a possibilidade de negociações. O Hamas, pela primeira vez, lança um míssil sobre a cidade costeira Israelita de Ashkelon. Os ataques aéreos Israelitas prossegem: a 5 de Julho novo ataque sobre o Ministério do Interior. O Gabinte de Segurança de Israel ordena intensificação dos raides aéreos e "assasinatos directos" de grupos armados.
A 6 de Julho, 22 civis palestinos são mortos em Gaza quando Israel avança sobre o norte do território, re-ocupando áreas evacuadas há 10 meses.

Desde então os conflitos continuam, com mortos de ambos os lados. Apenas uma suspensão e retirada incondicional das forças Israelitas podem parar o actual conflito. Se a independência, soberania e realidade de ambos estados é reconhecida, é inconcebível a detenção de ministros e deputados Palestinos por parte de Israel.

Em resposta a esta situação, enviei o seguinte correio electrónico ao Embaixador de Israel em Portugal (
amb-sec@lisboa.mfa.gov.il)

Caro Embaixador Aaron Ram
,

estou chocado com a recente ofensiva militar lançada pelas forças militares de Israel sobre a Faixa de Gaza, em particular pela detenção de vários ministros e deputados Palestinos. O Governo Palestino foi legitimamente eleito e a detenção dos representantes do povo Palestino representa uma violação das leis e normas internacionais. Estas detenções, assim como a ocupação de territórios da Faixa de Gaza, impedem qualquer esforço de diálogo e convivência entre governos de estados vizinhos soberanos e independentes. Antes representam uma clara tentativa de destruir o governo Palestino. É necessário re-estabelecer condições de comunicação de respeito entre Israel e a Autoridade Palestina. É necessário que Israel liberte imediatamente os Ministros e deputados Palestinos e retire as suas forças da Faixa de Gaza.

Com os votos de bom trabalho
André Levy