quinta-feira, setembro 28, 2006

Não Apaguem a Memória!


A 5 de Outubro de 2005, um conjunto de cidadãos reuniu-se junto à antiga Sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, reafirmando o protesto público contra a conversão daquele edifício em condomínio fechado e contra o apagamento da memória do fascismo e do sofrimento causado aos portugueses. Deu-se então origem ao Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!: "movimento de cidadãos, plural e aberto, de exigência da salvaguarda, investigação e divulgação da memória do fascismo e da resistência, como responsabilidade do Estado, do conjunto dos poderes públicos e da sociedade."
Em finais de Setembro, dois activistas do movimento, João Almeida e Duran Clemente, foram acusados pelo Ministério Público da prática de um crime de desobediência qualificada praticado nesse dia 5 de Outubro. Tratou-se porém do mais elementar exercício do direito de liberdade de expressão, em memória do tempo em que acções desse tipo não eram possíveis de todo (mas?...) O julgamento destes activistas está marcado para 11 de Dezembro próximo.

O Não Apaguem a Memória! marcou um protesto cívico para o dia 5 de Outubro de 206, às 11h, frente a ex-sede da PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, seguido de desfile até ao Largo do Chiado, onde decorrerá uma sessão pública.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Rendições extraordinárias passaram por Portugal II

Em Junho, o relatório do Conselho da Europa sobre vôos secretos da CIA entre 2002 e 2004 incluiu Portugal como um dos pontos de passagem. Segundo o Expresso o número de voos suspeitos da CIA em Portugal terão sido 131. O governo Português reagiu considerando que o relatório se baseia em "alegações" e "convicções", não apontando provas, ou merecendo qualquer "comentário especial" (Lusa).

Em Setembro, a Eurocontrol, entidade que controla o tráfego aéreo na União Européia, anunciou que tem registo de três vôos entre Guantanámo e e o aeroporto açoriano de Santa Maria, dois realizados pelo avião de matrícula N85VM - em novembro de 2003 e julho de 2004 - e o outro pela aeronave N982RK. As cargas e os passageiros são desconhecidos, e os vôos não aparecem nos registros do Instituto Nacional de Aviação Civil. Segundo o Diário Económico, o Parlamento Europeu considera que estes vôos são suspeitos de actividade ilegal em Portugal por parte do serviço secreto norte-americano.Além de Guantánamo, a lista do Eurocontrol inclui ligações diretas entre Santa Maria e aeroportos da Líbia, do Tadjiquistão e de Marrocos.

O ministro português das Relações Exteriores, Luis Amado, foi obrigado a admitir na Assembleia da República que o governo de Portugal teve conhecimento dos vôos entre o arquipélago dos Açores - região portuguesa autônoma - e Guantánamo, onde os Estados Unidos mantêm prisioneiros suspeitos de terrorismo (Lusa).

A 18 de Setembro, o actual presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, e primeiro-ministro quando decorreram os vôos, negou que tenha dado autorização ou tenha tido conhecimento de vôos ilegais da CIA (Lusa). Afinal como é?

Para que serviam estes vôos? Vejam o recente documentário (em inglês) Outlaws, produzido pela organização de direitos humanos Witness.


Extraordinary Rendition, Torture and Disappearances in the "War on Terror"

Human rights groups and several public inquiries in Europe have found the U.S. government, with the complicity of numerous governments worldwide, to be engaged in the illegal practice of extraordinary rendition, secret detention, and torture. The U.S. government-sponsored program of renditions is an unlawful practice in which numerous persons have been illegally detained and secretly flown to third countries, where they have suffered additional human rights abuses including torture and enforced disappearance. No one knows the exact number of persons affected, due to the secrecy under which the operations are carried out.
For more information visit www.witness.org.

domingo, setembro 24, 2006

Trabalhadores no Público

Segundo comunicado da direcção de empresa do PÚBLICO, está a implementar uma “política de renovação e reestruturação”. O "plano de redução de custos” inclui “uma redução negociada do quadro de pessoal, a qual já permitiu rescindir contratos com cinco por cento do total de trabalhadores existentes no final de 2005”.

Esta é uma forma eufemística de anunciar que estão a despidir trabalhadores. No sábado à noite, a direcção havia já simpaticamente conversado com 30 trabalhadores sobre como o seu futuro seria melhor noutro sítio. Não há certeza quem irá ser conversado a seguir, nem exactamente quantos, nem que critérios estão a ser seguidos.

O Sindicato de Jornalistas (SJ) emitiu hoje à noite um comunicado denunciando
a tentativa de despedimento, “eufemisticamente apresentado como rescisão por acordo mútuo”, de dezenas de jornalistas e outros trabalhadores do jornal “Público”. Lembra o SJ que a empresa pertence ao grupo Sonae, que tem um “elevado potencial financeiro, que lhe permite suportar as dificuldades e organizar planos de recuperação sem sacrificar postos de trabalho e sem atingir a dignidade das pessoas ao seu serviço”.

Porque não pode haver democracia sem comunicação social livres
porque esta não pode existir quando está dominada por critérios economicistas
ou quando jornalistas trabalham sob o medo de serem despedidos
e sem respeito pelo seu trabalho
assina o APELO EM DEFESA DA LIBERDADE DE CRIAÇÃO E DE EXPRESSÃO DOS JORNALISTAS

sábado, setembro 23, 2006

Hugo Chavez

Hugo Chávez iniciou a sua intervenção perante a Assembleia Geral das NU recomendando um dos livros de Noam Chomsky, Hegemony or Survival: America’s Quest for Global Dominance (The American Empire Project), para compreender as intenções do imperialismo dos EUA. Recomendo-o especialmente para os estadunidenses, pois o diabo mora nos EUA.

E depois alertou a assembleia:

O diabo esteve aquí ontem. (Aplausos) Aquí mesmo. E ainda cheira a enxofre hoje. Ontem, neste pódio, o presidente dos EUA, o senhor a quem me refiro como o diabo, veio aquí, e falou como se o mundo fosse dele. Penso que deveriamos chamar um psiquiatra para analizar o discurso do presidente dos EUA. Como porta-voz do imperialsimo, veio aquí partilhar os seus esquemas para preservar o actual padrão de dominação, exploração e pilhagen dos povos do mundo.


Mais tarde, teceu críticas à Assembleia geral das NU, que não tem qualquer poder, face à influência do imperialismo. Apelou ao re-establecimento das NU, em torno de quatro ponto:

1. expansão do Conselho de segurança, dando lugar a países do terceiro mundo como membros permanentes.

2. métodos eficazes de abordar e resolver conflitos, com decisões transparentes.

3. suspensão imediata do mecanismo anti-democrático do veto no Conselho de Segurança.

4. Fortalecimento do papel e poderes do secretário geral das NU.Fourthly, we have to strengthen, as we've always said, the role and the powers of the secretary general of the United Nations.

A Venezuela tem procurado ser nomeada para um lugar não-permamente no Conselho de Segurança, onde possa ser uma voz denunciando a perseguição e agressão das forças hegemónicas do planeta. Apesar do apoio do Mercosur, Bolívia, Liga Árabe, países do Caríbe, da União Africana, a nomeação da Venezuela tem sido bloqueada pelos EUA.

Terminou com uma nota de optimismo, iliustrando o clima de mudança, citando Silvio Rodriguez, La era esta pariendo un corazón.

Quem nunca ouviu Chávez falar, recomendo a visita ao sítio do programa, Aló Presidente. Cada semana, Chávez fala ao povo Venezuelano, num programa de quatro horas, sobre a economia, novas propostas legislativas, história, geografia, etc., e responde a perguntas telefónicas de cidadãos.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Diário da República e a Microsoft

Há lutas que, no contexto geral, são pequenas. Mas não será por isso que não devem merecer um nosso (pequeno) investimento. Esta é uma delas.

Irrita-me que o acesso ao Diário da República (DAR) electrónico só seja possível usando o Internet Explorer (IE). Fui há pouco tentar consultar um DAR usando o Firefox, o meu visualizador predilecto, e não havia maneira de conseguir aceder a fascículos. Foi então que me recordei de em tempos ter lido que o sítio esté optimizado para ser acedido usando o IE. Fui encontrar o IE na parte poeirenta do meu disco rígido, e usando o visualizador da Microsoft já consegui aceder a tudo. Isto é inaceitável. Sobretudo agora que o DAR já não é publicado em papel, novos números existirão apenas em suporte electrónico. Então para ler as leis do meu país, tenho de usar o programa que a companhia de Bill Gates quer à força impôr a toda a gente? Não foi esta uma das questões no caso anti-monopolista movido pela União Europeia contra a Microsoft?

Mereceu isto um correio electrónico ao webmaster do servidor do parlamento (ver abaixo). Clique aquí para enviar também um protesto.
Caro Srs./Sras

já tinha constado anteriormente que o portal da Assembleia da República estava optimizado para o Internet Explorer, como aliás vem indicado na página de 'informações técnicas'.
Hoje confrontei-me novamente com este facto ao tentar aceder a páginas do Diário da República (DAR) electónico usando o Firefox 1.5.0.7 em sistema Windows XP: usando este visualizador fui incapaz de aceder às listagens do DAR das diferentes sessões, e assim aceder a fascículos.
Tendo em conta que o DAR já não é publicado em papel e que portanto o formato electrónico é a única forma de acesso, creio que se deve trabalhar no sentido de configurar o sistema de forma a não estar dependente de nenhum visualizador particular. Não é uma exigência técnica incomportável, mas permitiria que o acesso a este recurso público não estivesse dependente do uso de nenhum programa particular. Estou seguro que em breve farão os necessários esforços no sentido recomendado.

Agradeço a vossa atenção.

Actualização (22 de Setembro) -recebi
resposta ao meu correio. É refrescante receber uma resposta, sobretudo quando positiva. Já agora - a.castro, entendo a tua frustração com o firefox e a ligação ao blogger, mas a situação do DAR é diferente e mais séria, tratando-se do acesso a um serviço público.

Exmo. Senhor André Levy

Acolhemos a sua sugestão com o maior interesse. Actualmente a Assembleia da República, encontra-se no início de um processo de renovação da sua página Internet e a sua recomendação já faz parte dos nossos requisitos para o novo site.

Muito gratos pelo seu contributo,

Subscrevo-me com elevada consideração.

Ana Paula Ferreira
Assembleia da República

Centro de Informação ao Cidadão e Relações Públicas

quarta-feira, setembro 20, 2006

Brecht: acho que ele escreveu isto ontem

Um cartaz que vi ontem no Centro de Trabalho do PCP na Amadora, levou-me a procurar as seguintes citações de Bertolt Bretch :

O Analfabeto Político

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

....

Nada É Impossível De Mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

....

Esse Desemprego

Meus senhores, é mesmo um problema

Esse desemprego!

Com satisfação acolhemos

Toda oportunidade

De discutir a questão.

Quando queiram os senhores! A todo momento!

Pois o desemprego é para o povo

Um enfraquecimento.

Para nós é inexplicável

Tanto desemprego.

Algo realmente lamentável

Que só traz desassossego.

Mas não se deve na verdade

Dizer que é inexplicável

Pois pode ser fatal

Dificilmente nos pode trazer

A confiança das massas

Para nós imprescindível.

É preciso que nos deixem valer

Pois seria mais que temível

Permitir ao caos vencer

Num tempo tão pouco esclarecido!

Algo assim não se pode conceber

Com esse desemprego!

Ou qual a sua opinião?

Só nos pode convir

Esta opinião: o problema

Assim como veio, deve sumir.

Mas a questão é: nosso desemprego

Não será solucionado

Enquanto os senhores não

Ficarem desempregados!


....

Elogio do Revolucionário

Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.
Interroga a propriedade:
De onde vens?
Pergunta a cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
se senta a insatisfação.
À comida sabe mal e a sala se torna estreita.
Aonde o vai a revolta
e de onde o expulsam
persiste a agitação.

Desenho Inteligente ganha força na Europa

Já houve um tempo na Europa quando podíamos observar com estranheza os conflitos entre o ensino de evolução biológica e criacionismo nas escolas dos EUA. (Sobre a situação nos EUA, vejam o Flock of Dodos.) Era fácil reduzir o problema a uma particularidade desse país, talvez devido ao peso das suas correntes protestantes, mas que era um conflito ao qual o ensino Europeu, com larga tradição laica, estava isento. Bom esse tempo parece ter chegado ao fim. A nova forma insidiosa de criacionismo, o Desenho Inteligente, que tenta apresentar-se como uma corrente científica, tem não só levado a nova vaga de conflitos nas escolas nos EUA, mas também conduzido a expressões de apoio na Europa. Expressões de iliteracia científica sobre evolução, levando a questionar uma teoria científica firmemente estabelecida, e expressões de apoio ao DI, que deveria receber destaque equivalente à teoria de evolução.


Faz pouco mais de um ano que a Ministra da Educação Holandêsa Maria van der Hoeven, propôs a organização de um debate sobre o ensino da evolução nas escolas e questionou a sua inclusão no curriculo escolar. Fazia 6 anos que um acordo havia logrado colocar o seu ensino em todas as escolas nacionais, incluindo as escolas religiosas que recebessem dinheiro do estado. Mas a ministra sucumbiu ao argumento de que a teoria da evolução está incompleta, e portanto pode ter erros, e como tal haveria que estar aberto a alternativas, isto é, ao Desenho Inteligente.

Na Grã-Bretanha o criacionismo faz parte do curriculo dos liceus Cristãos há mais de 30 anos, e existe agora o receio que as escolas públicos sigam o exemplo. Na Universidade de Leicester, parte da cadeia de genética já dedica parte do seu curriculo ao criacionaismo e desenho inteligente. A Universidade de Leeds pretende incorporar estes temas nas cadeiras de Zoologia e Genética. Um inquérito recente na Grã-Bretanha (Guardian, 15 Agosto 2006) revela que:
  • Mais de 12% dos alunos preferem o criacionismo como explicação; 19% preferem o Desenho Inteligente. Isto é, 30% pensa que a origem da diversidade biológica deve mais a deus que à evolução. Apenas 56% aceita a teoria científica
  • quase 20% dos estudantes de liceu dizem que lhes ensinaram criacionismo como um facto na escola.
  • a maioria pensa que seria positivo ensinar-se um espectro de teorias, mas 30% dos que apoiam criacionsimo pensa que os aluns deveriam ser ensiados apenas criacionaismo
O professor Ratzinger, também conhecido como Papa Bento XVI, no seu recente seminário na Alemanha, levantou dúvidas sobre a teoria da evolução. A Igreja Católica, em 1996 sob o Papa João Paulo II, aceitou a evolução como "mais que uma hipótese", e o próprio Ratzinger escreveu aceitando a teoria evolutiva. A escolha deste tema no seminário só pode reflectir uma crescente influência das correntes do Desenho Inteligente no Vaticano.

A este propósito o Prof. Paulo Gama Mota escreveu, no Público:

O Papa e a evolução: provas e refutações

O recente encontro entre o Papa e antigos alunos seus fez reacender o interesse pelas correntes criacionistas que sob vários formatos têm procurado, quase exclusivamente no EUA, contestar a evolução, a teoria evolutiva de Darwin e uma parte essencial da biologia moderna, bem como o seu ensino nas escolas secundárias. Estas correntes têm procurado ainda introduzir nos Curricula uma mistela não científica chamada 'desenho inteligente', que mais não é que uma forma literariamente mais elaborada das velhas oposições criacionistas à evidência da evolução orgânica. Muito embora a sua pretensão tenha sido liminarmente recusada em Tribunal Federal, depois de intensas audições, a chegada de Bush à Presidência dos EUA, acompanhado pelo seu núcleo conservador, deu-lhes novo alento. Comemoram-se em 2009 duzentos anos sobre o nascimento de Darwin, um dos mais importantes cientistas da história da humanidade e, contudo, persiste uma enorme resistência às suas teorias e ao que elas nos permitiram compreender do mundo orgânico em que vivemos e da forma como chegámos ao que somos hoje. Inquéritos realizados nos EUA e na UE revelam que há sectores importantes da população que não partilham a evidência científica da evolução da nossa espécie, preferindo a versão de uma criação especial. Mas, os níveis de respostas acertadas não seriam porventura melhores se a pergunta fosse sobre se os humanos foram ou não contemporâneos dos dinossauros, muito embora nos separem 65 milhões de anos (ou seja, cerca de 500 vezes o tempo que a nossa espécie leva de existência). Este é um problema de literacia científica. Uma questão diferente é o ataque persistente e insidioso dos movimentos criacionistas à evolução e à explicação científica para a diversidade do mundo orgânico.

O jurista Jónatas Machado discorreu sobre o assunto, no Público, há dias (08.09.2006), para atacar os que designa por evolucionistas, exibindo uma prosápia só equiparável à sua evidente ignorância científica. Defende JM que os evolucionistas não podem fazer prova da evolução porque se reportam a algo que aconteceu no passado e não pode ser repetida na bancada de experiências. Deste modo a ciência teria que se limitar ao que é experimentável: a formação de um campo electromagnético, a queda de um corpo, uma reacção química, uma manipulação genética. Tal não é verdade. É possível realizar experiências e testar hipóteses científicas mesmo sobre fenómenos ocorridos no passado. Sucede que a biologia evolutiva não é a única área da ciência que tem um carácter histórico, isto é, em que a seta do tempo é muito importante, não sendo possível repetir os mesmos processos para os 'observar' de novo. O mesmo se passa com a astronomia, a astrofísica e a história. Estas áreas da ciência com uma forte componente histórica desenvolveram, para o efeito, um conjunto de ferramentas específicas, muito sofisticadas, que permitem por experiências parcelares e indirectas, testar hipóteses e teorias científicas. Mesmo que não possamos viajar no tempo para ver como era o Universo nos primeiros três minutos, conseguimos recriar situações similares nos grandes aceleradores de partículas, que nos permitem testar as nossas hipóteses e modelos. Uma questão central a este assunto é o da forma como se faz prova em ciência, algo que JM evidencia não compreender de todo. O problema da prova científica é complexo (já que as teorias e modelos não são testados directamente, mas através de hipóteses) e não haverá aqui espaço para o desenvolver. Podemos ainda assim, exemplificar: como podemos provar que a evolução ocorreu? Por exemplo, decorre da teoria da evolução que as espécies que evoluíram em arquipélagos a partir de um antepassado comum, como os tentilhões das Galápagos, devem ser geneticamente mais próximas entre si do que a espécie de que se originaram no continente. Estudos moleculares sobre aquelas espécies confirmaram esta previsão, suportando o princípio da evolução orgânica. Nenhuma outra explicação pode prever este resultado. Ao longo do último século acumularam-se centenas de milhares de evidências que confirmam a evolução e nenhuma que lhe seja contrária! Da anatomia comparada à biogeografia, da biologia do desenvolvimento à genética. A evolução é um facto científico, como a natureza ondulatória da luz ou a formação das montanhas por tectónica de placas continentais. Poderia ficar-se com a ideia, a partir da prosa de JM, de que os biólogos evolutivos seriam todos uns ateus militantes apostados em contrariar os escritos bíblicos. Nada mais distante da realidade. Há-os de todos os credos e a única coisa que os une é a intensa curiosidade de conhecer e compreender a história e diversidade do mundo orgânico em que vivemos e que integramos.

Há mais de 20 anos que ensino evolução a estudantes de biologia e antropologia. Certamente a maioria é católica. Nunca tive qualquer dificuldade em ensinar estas matérias, para lá das dificuldades técnicas características do assunto. E isto porque as minhas aulas de evolução não são sobre filosofia, ou ética ou moral, mas sobre ciência. Faz-nos muito mal o dogmatismo exacerbado

Propinas Não, Empréstimos Também Não

Quando o governo de Cavaco Silva primeiro quiz introduzir o valor das propinas usou, entre outros argumentos falaciosos, que com o pagamento de uma propina modesta (~€250), um valor comportável para a maioria das famílias, mas um valor que fosse superior à quantia simbólica de então (~€10), haveria possibilidade de melhorar a qualidade do ensino e alargar o apoio social. A JCP e as Associações de Estudantes reinvidicativas alertaram que aceitar esse primeiro aumento seria abrir as portas para aumentos subsequentes, que as propinas iriam permitir uma maior desresponsabilização do estado no financiamento das universidades, que já então ia na sua esmagadora maioria para o pagamento de salários, e que poucos seriam as melhorias resultantes tanto na qualidade de ensino como no apoio social.

Passados mais de quinze anos os resultados estão à vista. O Diário Económico (19/Setembro) resumiu o relatório da OCDE "Olhares sobre a Educação 2006".
  • as propinas em Portugal variam entre um valor mínimo de €486 e um máximo de €920, enquanto em 7 países da OCDE (25%) o ensino superior público é gratuito (República Checa, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Eslováquia, Suécia)
  • Em média 17% do investimento em ensino superior é canalizado para o apoio aos estudantes. Em Portugal, é 2.2%.
  • Portugal é um dos países com menor investimento público por aluno, cerca de €7,200 (média da OCDE é €11,254). Pior só mesmo a Correia do Sul, República Checa, México e Grécia.
Claro como água quem tinha razão. Um novo perigo está no horizonte. Para colmatar a falta de apoio social público e os elevados custos do ensino: empréstimos. Aí estão os bancos a oferecer uma crédito e empréstimos bancários. É agarrá-los enquanto são novos, e querem educar-se. Colocá-los logo sobre o jugo dos pagamentos de juros, durante anos e anos. Não basta já os empréstimos de habitação, esses têm um mercado alvo já de avançada idade. Há que agarrá-los antes. Sobe os custos de ensino, o estado desresponsabilização passando o ónus dos custos para os estudantes e suas famílias, e quem lucra no fim do dia são os bancos, que coitados, andam tão mal.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Senhores da guerra

A recente agressão israelita no Líbano ilustrou claramente a estreita relação entre o Estado judaico e os EUA. Quando a maioria no Ocidente apelava para um cessar-fogo, a secretária de Estado dos EUA, Condeleeza Rice, declarava tolerar os bombardeamentos israelitas e a morte de civis durante mais uns dias. E Israel ia recebendo encomendas militares dos EUA (pelo menos uma passando pelos Açores!). Sabe-se agora que o ataque ao Líbano estava já planeado e coordenado com os EUA, tendo Israel recebido carta branca para atingir objectivos e ensaiar tácticas que poderão ser úteis aos EUA num eventual ataque ao Irão(1).

A ligação entre os dois países tornou-se particularmente íntima durante a presidência de Reagan, no rescaldo da crise do petróleo e da revolução islâmica no Irão. Israel tem liderado, desde 1976, a lista de países beneficiando de apoio financeiro e militar dos EUA e, desde 1949, os EUA terão oferecido mais de 108 mil milhões de dólares em apoio financeiro directo a Israel(2): anualmente cerca de um quinto do apoio externo directo dos EUA, ou 500 dólares por cidadão israelita. Isto para um país com um PIB per capita equivalente ao da Espanha ou da Correia do Sul.

As economias dos dois países estão também cada vez mais entrecruzadas. Nos anos 90, a economia de Israel sofreu um processo de concentração de capital e uma crescente transnacionalização. Em 2005, Israel ultrapassou o Canadá e tornou-se o segundo país em número de empresas cotadas no NASDAQ da bolsa de Nova Yorque(3). Entre 1999-2004, as oscilações da bolsa de Telavive foram altamente correlacionadas com as do NASDAQ (87%), isto é, a bolsa foi mais influenciada pela «nova economia global» do que pelo andamento do processo de paz ou a Intifada. Recentemente, num sinal de confiança na economia israelita, Warren Buffett, investidor estadunidense e a segunda pessoa mais rica do mundo, comprou 80% da Iscar, uma companhia israelita que produz equipamento industrial, um investimento de 4 mil milhões de dólares.

A cumplicidade entre os dois países estende-se à esfera diplomática. Desde 1982, os EUA vetaram 32 resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas censurando Israel, um número que excede o somatório de vetos dos restantes membros do Conselho. E Israel tem sido muitas vezes o voto solitário apoiando os EUA. Por exemplo, desde 1992 todos os anos é apresentada uma resolução à Assembleia Geral da ONU apelando à necessidade de pôr fim ao embargo dos EUA a Cuba. Israel tem sido o único país que consistentemente tem votado, juntamente com os EUA, contra a resolução.

O lobby israelita

Nos EUA, a intimidade entre os dois países é justificada pela sobreposição de interesses estratégicos. Contudo, a opressão do povo palestiniano é um dos factores unanimemente reclamado pelo mundo árabe como desestabilizador da região, dificultando assim as relações dos EUA com os membros árabes da OPEC. E Israel nem sempre é o aliado leal, ignorando apelos dos EUA para suspender a construção de colonatos, vendendo tecnologia militar à China, ou conduzindo uma intensa operação de espionagem contra os EUA. Ainda este ano, o Cor. Larry Franklin da Força Aérea dos EUA foi condenado por ter passado inteligência a Israel sobre a política dos EUA contra o Irão.

Vários artigos publicados este ano argumentam que o apoio incondicional dos EUA a Israel, contra o interesse nacional dos EUA, se deve à força do lobby israelita. A organização mais poderosa deste lobby, a AIPAC(4), foi eleita como o segundo lobby mais influente de Washington. Através de contribuições financeiras nas corridas eleitorais, mais de 42 milhões de dólares para candidatos ao Congresso desde 1978(5), estas organizações têm logrado travar qualquer debate no Congresso que insinue ser crítico a Israel. Organizações como a AIPAC, JINSA(6), a CoP(7), não representam a maioria dos judeus nos EUA, favorável ao processo de paz e «concessões» ao palestinianos, mas antes a ala expansionista do Likud. O lobbypró-Israel é composto não apenas por organizações de raiz judaica: o recém-formado Cristãos Unidos por Israel, representa um sionismo cristão, que pretende rivalizar o AIPAC, e tem já grande influência no Congresso e na Casa Branca, tendo com sucesso influenciado esta administração a ter uma postura de confronto com o Irão, recusar apoio aos palestinianos e dar carta branca a Israel no seu ataque ao Líbano. Para esta corrente evangelista, na qual se pode incluir o presidente Bush, os conflitos no Médio Oriente são um sinal do fim dos dias e da aproximação do arrebatamento. Acolhem assim com alegria e fervor religioso a destruição e morte de inocentes.
_______________

(1) - Seymour Hersh, New Yorker 21 de Agosto de 2006 - www.newyorker.com/printables/fact/060821fa_fact
(2) - Washington Report on Middel East Affairs - www.washington-report.org/
(3) - www.ishitech.co.il/1105ar5.htm
(4) - American Israel Public Affairs Committee
(5) - www.washington-report.org/archives/May-June_2006/0605031.html
(6) - Jewish Institute for National Security Affairs
(7) - Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations


quarta-feira, setembro 13, 2006

Pelo direito à autodeterminação do povo Saharaui

Após a retirada do Estado Espanhol, a Frente Polisario declarou o nascimento da Republica Democrática Saharaui Arabe, a 27 de Fevreiro de 1976. Desde logo, o povo Saharawi teve de enfrentar o expansionsitmo de Marocos e Mauritânia. Em 1979, consegui pôr a Mauritânia em retirada, mas Marocos persiste até à data ocupando boa parte do território do Sahara Ocidental. Em 1981, Marocos construiu uma gigatesca muralha divisória, no meio do deserto.


Em 1991, o Sahara Ocidental e Marocos declararam um cessar-fogo, sob o compromisso da realização de um referendo sobre a autodeterminação da região. Marocos tem usado todos os subterfúgios para subverter e dificultar o processo de recenseamento. Entretanto, persiste a situação de milhares de refugiados e dezenas de presos políticos.
A 4 de Setembro de 2006, depois de 3 greves da fome (a última de 16-17 de Agosto de 2006) activistas de direitos humanos e presos políticos saharauis detidos na sinistra prisão negra
iniciaram nova greve de fome, aberta, contra a miseráveis condições prisionais e denunciando a política de indiferença do estado maroquino sobre as exigências legítimas dos prisioneiros políticos:
• estarem juntos, e separados dos presos comuns;
• respeitar o direito a visitas privadas das famílias, negadas desde meados de Julho
• direito a enviar e receber correspondência
• julgamentos céleres
• por fim às violações de direitos humanos praticados sobre o povo saharaui
• respeito pelo direito a reuniõa, protesto pacífico, liberdade de opinião e expressão, constituir associações, e o levantamento do bloqueio mediático e militar imposto sobre o Sahara Ocidental
• desbloquear o usufruto do direito legítimo à autodeterminação.
Sob o lema "JUNTOS PARA LUTAR PACIFICAMENTE PELA NOSSA DIGNIDADE, LIBERDADE E INDEPÊNDENCIA", apelam às organizações solidárias com o povo Saharaui para apoiar a sua luta. Junta o teu nome ao abaixo-assinado

segunda-feira, setembro 11, 2006

Onze de Setembro, Santiago de Chile



Não esquecer que neste dia, há 33 anos, houve um golpe de estado terrorista que resultou no derrube de um governo democraticamente eleito, que fomentou o ódio do grande capital por ter, com o apoio popular e a participação popular, ter nacionalizado os recursos nacionais e ter tomado passos para limitar a exploração. Oiçam as palavras de Salvador Allende nesse dia. Seguiram-se anos de repressão e o regresso do grande capital. A América Latina retoma agora o caminho de progresso histórico na América Latina, onde o imperialismo continua a intrometer-se, como nas recentes eleições no México (mais sobre isto em breve).

domingo, setembro 10, 2006

Loose Change

Na 6ª passada, a RTP transmitiu o documentário "Loose Change" no seguimento de uma serie de documentários sobre o Onze de Setembro (quem o tenha perdido poderá vê-lo online). O documentário reune várias informações que põem em causa a explicação oficial dos atentados, como tendo sido causados por terroristas da al-qaeda. Questiona que o vôo 77 tenha atingido o Pentagono, que as torres do WTC e os edifícios circundantes tenham colapsado como resultado dos incêndios, que o vôo 93 tenha sido realmente encontrado, que haja evidência que aponte para os alegados responsáveis. Foia primeira vez que vi reunida todo um conjunto de informações e perguntas sobre os atentados, que ganharam para mim peso. Mas devo admitir sempre ter reservado algum cepticismo face à alternativa consipirativa do 9/11. Nos EUA existem pessoas que vêm conspirações em tudo, levando-o extremos idiotas, como a conspiração dos OVNIs e a Area 51, fazendo com que a séria X-files pareça um documentário.
Depois, a al-qaeda é real. Cometeu ataques antes e depois do 9/11. E depois há o que explicação alternativa? Apesar da natureza dos poderes corporativos que operam nos bastiadores, podem ter sido responsáveis por tão abomináveis atentados contra o seu próprio povo, como o documentário sugere. Ser capaz de arquitectar a morte de milhares dos seus cidadãos? (A hipótese alternativa que se me levantou da altura, à qual não dou agora qualquer peso, era de milícias dos EUA, à semelhança do ataque de Oklahoma City.) Os governos dos EUA e seus marionetistas têm sido capazes de mentir ao seu povo, travessuras políticas, fraudes eleitorais, encenações que levaram a guerras, e.g. incidente no Golfo de Tonkin, e que se traduziram na morte dos seus soldados, ... esperem lá, talvez o salto não seja tão grande.

Martim Avillez Figeiredo, director do Diário Económico, afirma hoje na sua coluna editorial, "Com isso não se brinca", que Loose Change é uma heresia. Ora é este tipo de afirmações que justificam o documentário. Dylan Avery, autor do documentário, e outros, não estão a brincar. Questionam criticamente, e explicitamente pedem aos telespectadores que avaliem por si mesmos, com base em factos comprováveis, não baseado no diz que disse e discursos de ventríloquos. Repito, o documentário não é uma brincadeira. Como tal questionar o seu mérito, e a sua legitimidade a ser feito e transmitido, com base no caracter sagrado do "September the Eleventh" (como o refere Bush) e não contestando a sua narrativa alternativa, isso sim, parece-me preocupante.

sábado, setembro 09, 2006

solidariedade com os Cinco Presos Cubanos

Fernando González Llort, René González, Gerardo Hernández Nordelo,
Ramón Labañino Salazar, Antonio Guerrero Rodríguez

Acto de solidariedade com os Cinco Presos Cubanos
12 de Setembro | Rossio | 17 horas


Música Cubana com Eduardo Sosa
Intervenção da Drª Maria Armanda Fonseca (Presidente da Ass. Amizade Portugal-Cuba)

Promovido pela Assoc. Amizade Portugal-Cuba, CGTP-IN, CPPC, MDM

Para informação sobre os presos cubanos veja esta página

sexta-feira, setembro 08, 2006

Porquê FARC

Para um movimento armado de libertação nacional abandonar a via das armas e enveredar apenas pela via eleitoral precisa de confiar no funcionamento justo e equitativo do sistema democrático. Mesmo aceitando os intrínsecos limites de eleições em sistemas burgueses, supõe-se pelo menos que os membros do braço partidário de tal movimento possam exercer as suas actividades sem temerem pela vida. Que concluir sobre a viabilidade de via eleitoral se um movimento armado opta pela via eleitoral, integrando-se numa coligação e vê centenas dos seus dirigentes assassinados pelo o exército nacional e forças paramilitares apoiadas pelo governo? Esse foi o destino da Unión Patriótica na Colômbia no final dos anos 80.

Depois da amnistia de 1982, celebrada sob a presidência de Belisário Betancur, e do cessar-fogo de 1982, as Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia (FARC) e outras forças de esquerda Colombiana, como o Partido Comunista Colombiano (PCC), formaram a Unión Patriótica. Paralelamente, as FARC realizaram em 1982 a 7ª Conferência Guerrilheira, na foi aceite a proposta de Jacobo Arenas pela qual se implementaria uma "combinação de todas as formas de luta", militar e política. A guerrilha iria transformar-se num Ejército del Pueblo (passou então a existir a designação FARC-EP). A FARC não foi suficientemente ingénua para desmobilizar a suas forças nem renunciar a luta armada, mas respeitou o cessar-fogo.

Em 1986, a UP é reconhecida e Jaime Pardo Leal é o seu candidato presidencial. Recebeu um modesto 1.4% dos votos e a eleição de alguns representantes no Congresso e município. Tratou-se porém de um resultado sem precedentes para terceiro partido na história eleitoral Colombiana.

Em 1987, Pardo Leal foi assassinado por um rapaz de 14 anos, mais tarde também assassinado. Segundo o PCC, o assassinato foi arquitectado por um traficante de droga, José Gonzalo Rodríguez Gacha, com apoio do exército. Em 1988, a UP anunciava que mais de 500 dos seus membros haviam sido assassinados. Nas eleições desse ano, mais de cem candidatos locais da UP foram atacados, no que foi descrito pela Amnistia Internacional como uma "política deliberada de assassinato político" da UP. Em 2004, a Comissão de Direitos Humanos Inter-Americana estimou que cerca de 1163 membros da UP haviam sido assassinados, 38% por grupos paramilitares.

Uma outra guerrilla, o Movimiento 19 de Abril" ou M-19, de cariz mais urbano mas segunda atrás das FARC em contingente, responsável por vários assaltos de elevado perfil, incluindo a tomada da embaixada dominicana e o roubo da espada de Bolívar, renunciou a luta armada durante o cessar-fogo de 1986, e formou a Alianza Democrática M-19 (AD/M-19). Em 1990, uma das suas figuras mais proeminentes e candidato presidencial, Carlos Pizarro Leongómez, foi assassinado durante um vôo aéreo. A AD/M-19 logrou algumas vitórias eleitorais desde então, mas perdeu força.

Cabe também recuar um pouco mais na história e recordar as origens das FARC. Após o assassinato de candidato liberal Jorge Eliécer Gaitán em 1948, teve lugar um motim em Bogotá (o Bogotazo) e iniciou-se um periodo de enorme conflito entre os dois principais partidos, o Partido Conservador e o Partido Liberal. Na década que se seguiu 200-300 mil pessoas foram mortas, um periodo referido como "La Violencia". O PC e PL eventualmente chegaram a um acordo bilateral de partilha de poder e alternância presidência, uma aliança que lhes permitia resistir à possibilidade de uma saída revolucionária para o país. Neste period, grupos armados, formados por Liberais e Comunistas, haviam estabelecido zonas de auto-governação em alguns enclaves, um dos quais veio a ser conhecido como a República de Marquetalia, zonas de protecção contra "La violência", mas onde também se desenvolveu reforma agrária e outras políticas socialistas inspiradas na Comuna de Paris. Em 1964, o governo lançou uma ofensiva militar (incluindo armas bacteriológicas) contra esta região autónoma, com o apoio do Plano LASO (Latin American Security Operation), uma iniciativa dos EUA contra movimentos revolucionários. As guerrilhas dispersaram para outros enclaves vizinhos e reorganizaram-se em 1964 no Bloque Sur, que veio em 1966 a transformar-se nas FARC.

Este historial illustra a enorme violência na vida política Colombiana, sobretudo virada para quem tenta propor uma alternativa ao "bloco central". Caberia ainda referir as centenas de delegados sindicais mortos e os milhares de activistas intimidados, nos últimos quinze anos, tentando organizar trabalhadores nas fábricas das multinacionais e outras empresas. Perante tal panorama, temos de ter a humildade de não julgar movimentos como as FARC segundo os mesmos parâmetros usados para democracias europeias. Num tal contexto político, manter uma frente armada não é apenas uma forma de luta, é uma forma de sobrevivência.

É concebível que se queira discutir algumas das tácticas usadas pelas FARC, alguns assaltos, sequestros, o seu envolvimento na produção de cocaína. Podemos questionar se presentemente os novos recrutas são movidos mais por razões económicas que por razões ideológicas. Mas não podemos cair na hipocrisia de apelar de 'terrorista' uma organização que leva mais de 40 anos lutando com "todas as formas de luta" por uma Colômbia sem exploração capitalista, contra o imperialismo. E muito menos questionar a legitimidade da presença da revista Resistência e do PCC e material das FARC na Festa do Avante!

Nas palavras de um jóven guerilheiro (Frank):

Y como te decía, llega un momento en el que el nivel de represión es tan alto que tú tienes que tomar una opción, u optas por el destierro -que para mi caso personal considero que no es una opción, ni para ningún revolucionario o una persona que esté pensando en la perspectiva de un cambio real- o ingresas a la guerrilla, que es la posibilidad de seguir en las tareas políticas, en las tareas organizativas, en el trabajo revolucionario: es la posibilidad real de defender tu vida. También te preguntas si otros están luchando por ti, tú porque no eres capaz de hacerlo, yo creo que eso es lo que encierra en esencia la lucha guerrillera, es un altruismo, es el sacrificio por una mejor sociedad por un nuevo tipo de relaciones sociales.
Esto es clave porque me refuerza la convicción de que en este momento la guerra revolucionaria, la guerra de todo el pueblo es la mejor opción para conseguir ese objetivo político que es la toma del poder para el pueblo colombiano, en esencia yo te podría decir que eso es lo que más anima a uno a la vinculación directa como combatiente, como guerrillero, convencido plenamente de que las causas que motivan esta lucha están mas vigentes, pero también convencido, con convicción insoslayable, de que hay una posibilidad real de la victoria del pueblo colombiano y que necesita este ejército revolucionario.


Israel: a guerra continua

Israel anunciou esta semana que iria levantar o bloqueio ao Líbano (que já dura há dois meses), mas o IHT noticia que apenas levantou o bloqueio ao tráfego aéreo: continua a controlar a fronteira marítima Libanesa, continuando a prejudicar a pratica da pesca comercial e o processo de limpeza do derrame petrlífero causado pelo bombardeamento Israelita da central electrica.

Israel tem violado o cesar-fogo, mais de setenta violações segundo as NU, contra 4 pelo Hezbollah no mesmo periodo, continuamente lançando ataques contra o Líbano.

As ofensivas Israelitas em Gaza prosseguem. Segundo o Palestinian Center for Human Rights, 240 Palestinianos, foram mortos em Gaza desde a captura do soldado Gilad Shalit: um cinco delas crianças. Ontem, dezenas de Israelitas da organização Peace Now manifestaram-se no zona fronteiriça de Erez, chamando a atenção para a continuação desse conflito.


Em Espanha, o advogado Simón Lópes Quero e a associação Página Roja abriram processo, ao abrigo dos artigos 607-611 do Código Penal Espanhol, contra o primeiro ministro Israelita Ehud Olmert por crimes contra a humanidade, por ter ordenado as operações militares em Gaza e a invasão do Líbano. Isso significa que Olmert poderá ser preso caso visite o Estado Espanhol. O governo Israel encara seriamente a possibilidade de seus oficiais serem presos. Segundo o jornal Haaretz, o ministro dos Negócios Estrageiros Israelita alertou seus diplomatas para não fazerem declarações inflamatórias, para evitar processos legais. Segundo Robert Fisk, jornalista do Independent, recentemente o militar Israelita que ordenou os ataques a Gaza, aterrou em Heathrow e a polícia Britânica avisou-o que poderia ser preso se sai-se do avião: decidiu voltar a Tel Aviv (ver). Com receio de ser preso num visita à Bélgica para um encontro da NATO, Ariel Sharon contratou um advogado Belga e chegou a sugerir a necessidade de relocalizar a sede da aliança atlântica.

O episódio de Marwaheen ilustra bem os crimes de guerra Israelitas e desmascara os argumentos Israelitas que alertava a população civil antes dos ataques, e que civis foram atingidos porque o Hezbollah usavam "escudos humanos". A população de Marwaheen, uma aldeia Suni, foi alertada pela rádio e altifalantes que deveria abandonar a aldeia dentro de duas horas. A caravana civil de carros e carrinhas foi bombardeada pela Força Aérea Israelita.